Gravado em 1994 e lançado em 1995, Aos Vivos, de Chico César — só voz, violão e letras poderosas — foi um marco da nova música nordestina que, junto ao Manguebeat, transformou o cenário cultural do Brasil. Um disco que colocou o Nordeste no centro, inspirou gerações e será executado na íntegra, desafiando o público a mergulhar em sua força intimista.
Lançado como prenúncio de uma verdadeira revolução cultural, Aos Vivos, de Chico César, será executado na íntegra nesse início de junho como celebração de três décadas de seu lançamento. De lá para cá, Chico se tornou mais que uma referência na música brasileira. Cantor, compositor, escritor, jornalista e ativista, se mostrou combativo e fez-se ser ouvido, tal qual nos anos 1990, quando despontou como uma das grandes revelações da música brasileira.
Gravado em duas noites na FUNARTE, centro de São Paulo, o disco será apresentado para uma geração hoje já ciente do tamanho da obra de Chico César — mas também afoita por redes sociais, intensa e que será desafiada a encarar uma obra concebida de forma intimista e profunda. Primeiro disco da carreira do artista paraibano (sim, foi um disco ao vivo!), Aos Vivos hoje pode ser considerado praticamente uma coletânea surgida de forma crua e que, logo depois, ganharia outra roupagem — assim como videoclipes e a projeção merecida.
Nesse show, Chico César se projeta como estopim de uma revolução cultural que voltaria de vez os olhos do mundo da música para o Nordeste. Depois do sucesso de nomes como Zé Ramalho e Elba Ramalho nos anos 1970 e 1980, além do Pessoal do Ceará, com nomes como Fagner, Ednardo e cia, a música brasileira se encontrava em um processo de transição e faria com que o país se voltasse para o Nordeste diante de nomes como Chico César e o boom do movimento Manguebeat. No caso de “Aos Vivos”, seu lançamento acontece praticamente simultâneo aos grandes clássicos do gênero.
Para se ter uma dimensão do que seriam aquelas noites, faixas consagradas como “Mama África”, “À Primeira Vista” e “Mulher Eu Sei” surgiram pela primeira vez em Aos Vivos. Gravado no melhor esquema “voz e violão”, o disco ainda contou com a participação de Lanny Gordin, em “Paraíba”, ali em tom intimista, dando a Chico a condição de protagonista, e Lenine, em “Nato”.
Em um desfile de palavras, Chico César mostraria sua infindável capacidade de brincar com o idioma em um repertório que, ao demandar essa concentração do público, provocaria uma imersão de mão única em sua obra. E daí a construção do mito em torno de sua imagem. Nos shows programados para o SESC Pompeia, o desafio de recuperar essa atmosfera tão arrebatadora de 30 anos atrás.
“Aos Vivos”, hoje, reforça a condição de Chico César como um artista versátil e disposto a olhar para o futuro. Em 2024, o disco ganhou uma edição especial com direção artística e musical do próprio Chico César, ficando disponível em CD, DVD e uma edição limitada em vinil. E enquanto realiza uma agenda com Zeca Baleiro com o ótimo álbum “Ao Arrepio da Lei”, o músico paraibano sabe a importância de celebrar o passado — mas sem deixar de olhar para a frente.
What do you think?
Show comments / Leave a comment