Lançada há 8 décadas e vinculada fortemente à história do time inglês do Liverpool, a faixa extraída do musical Carousel (1945) é cantada em estádios pelo mundo e ganhou inúmeras versões, mas seu impacto no mundo da música é tão grande quanto no mundo do futebol.
Talvez seja um dos momentos mais belos do futebol até hoje. O time do Liverpool entra em campo e, sempre antes do início da partida, a torcida presente em Anfield – e onde o time estiver – entoa os versos de You’ll Never Walk Alone. Com sua história fortemente ligada ao time inglês, a faixa lançada nos anos 40 ganhou inúmeras versões pelos estádios de futebol, mas sua força vai além das arquibancadas. Nomes como Elvis, Aretha Franklin e Johnny Cash foram alguns que entoaram a composição de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II.
Composta para o musical Carousel, que estreou na Broadway em 1945, You’ll Never Walk Alone ganhou popularidade graças à voz de Frank Sinatra no mesmo ano e nada tinha a ver com o clube inglês; menos ainda quando Bing Crosby, outro dos mais populares nomes da música americana, gravou a música na mesma época. Nos anos seguintes, Ella Fitzgerald e Perry Como também deram suas roupagens para a faixa, que só em 1963 chegaria ao seu destino definitivo: Liverpool.
Gravada pelo grupo Gerry & the Pacemakers, grupo inglês da cidade de Liverpool e também empresariado por Brian Epstein, a faixa ganhou rapidamente popularidade entre os torcedores, que foram abraçando a música gradualmente – e o resto da história já sabemos. Ela acabou se tornando uma espécie de hino extraoficial do time inglês, que, logo na entrada de seu estádio, possui um portal com a frase no topo. Mas por qual motivo You’ll Never Walk Alone ganhou tanta projeção e, ao longo dos anos, até mesmo nomes como Elvis Presley, Johnny Cash e Aretha Franklin regravaram a faixa composta em 1945 – todos eles americanos.
Embora tenha se tornado um clássico por sua conexão com o futebol, You’ll Never Walk Alone é o autêntico standard das grandes vozes populares daquela geração desde que foi composta. Basicamente, a faixa serviu de trilha para as mudanças da sociedade americana, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, e o sentimento de comunhão que sua letra prega. Some a isso o fato de ter sido destaque na chamada Era de Ouro dos musicais da Broadway, e a receita do sucesso estava ali. Com uma melodia profunda, sua leitura na voz de grandes artistas só aumentaria sua conexão com o público — ao menos até Liverpool tomar de assalto sua existência.
Embora pareça exótica, essa conexão de faixas extraídas de musicais com torcidas de futebol não seria tão incomum, dada a popularidade de algumas obras. Gravada nos anos 10, I’m Forever Blowing Bubbles foi retirada de um musical para se tornar uma espécie de segundo hino oficial do West Ham, time de Steve Harris, fundador do Iron Maiden. O mesmo acontece com o City, que tirou da voz de Doris Day a faixa Whatever Will Be, Will Be. Hoje, ambas as torcidas se deliciam com hits de Oasis, White Stripes e tantos outros. Mas, voltando ao impacto cultural de You’ll Never Walk Alone, seu poder é parecido com o de clássicos como This Land Is Your Land, de Woody Guthrie. Não por acaso, ela foi utilizada no processo de criação do Conselho Legislativo de Hong Kong. E, ao ler os versos da música, faz todo sentido a expressão “um país, dois sistemas”, designada pelos chineses em relação ao território de Hong Kong. Obviamente, as tensões políticas dos anos seguintes jogariam isso por terra
Fato é que, 80 anos depois, o clássico criado como parte de um musical praticamente desconhecido do grande público nunca perdeu sua essência agregadora. Caminhando rumo a um século de história, You’ll Never Walk Alone é a música do Liverpool e de tantos outros times — mas também a trilha sonora de quem sabe que nunca vai estar sozinho quando precisar.
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