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A África que faz Diplo dançar!

9 de junho de 20195 min read

Você já viu Diplo nos morros cariocas ao lado de MC Bin Laden. Viu também o produtor norte-americano ganhar um Grammy ao lado de Skrillex com o estrondoso sucesso do projeto Jack Ü. Viu ainda Sia e o rapper Labirinth ao seu lado no supergrupo LSD, onde cada faixa parece chacoalhar os números do Spotify como uma percussão de escola de samba. Multitarefas, Diplo parece estar em todos os lugares improváveis, tendo a sacada do que pode – ou não – fazer as pessoas dançarem. E chegou a vez da África mostrar o por quê de ser considerada a mãe de praticamente todas as vertentes musicais.

Formado por Diplo, Jillionaire e Walshy Fire, o Major Lazer nunca fez uma música exatamente fácil. Explorando batidas que vão na contramão da EDM e da música pop, o trio se transforma a ponto de fazer com que seu trabalho ganhe sentido justamente frente a milhões de pessoas. Embora soe underground na ousadia de seus projetos, é para as massas que Diplo e cia tocam. E dessa vez o projeto soa ousado o suficiente para abrir as portas de uma música que até hoje caminha alheia ao mainstream, aquela que na maioria das vezes é chamada simplesmente de “ritmos étnicos”.

Fruto de um trabalho de pesquisa, o EP Africa Is The Future começou a nascer em outubro de 2018, quando Diplo passou um extenso período no continente africano. Lá passou por vários países como Nigéria e Uganda, indo muito além da África do Sul, país que no continente é chamado simplesmente de “Falsa África”. O objetivo era conhecer de perto os movimentos e o como a cena pop funcionava a partir da cultura local.

Notoriamente influenciada pela cultura europeia e americana, capitais como Lagos, na Nigéria, tem uma cena voltada à junção de elementos tipicamente pop aos ritmos locais, fazendo florescer um movimento afro-pop que logo seduziu o DJ, tal qual o funk no Rio de Janeiro.

Para entender esse movimento acerca da cultura musical africana, é necessário voltar um pouco no tempo, mas não tanto, coisa de trinta ou quarenta anos (ou ficaríamos loucos com tanta informação). Tudo isso foi um processo muito gradual. No Brasil, por exemplo, só no início dos anos 80 foi possível sentir os efeitos da house music americana, especialmente pela chegada da disco, que já fervia há pelo menos uma década antes. Mas e na África? Vivendo os últimos anos do período de apertheid, o continente obviamente sentiu o reflexo desse processo com um certo delay, o que contrasta com sua rica história musical.

Inspirado por ritmos étnicos, em nada as faixas do disco remetem a algo já ouvido antes, especialmente para quem tem em mente a música americana. São remixes que ganham corpo inspirados no afrobeat de Fela Kuti e, principalmente, no uso dos primeiros sintetizadores produzidos no país. Isso fica claro em faixas de nomes como a Ayobayo Band e S.Y.B., soando como uma versão turbinada do ícone nigeriano.

Apostando em uma música que “grude”, às vezes tudo soava tão amador que ficava difícil pensar que só nos anos 90 o continente africano ganhou um grau de profissionalismo em suas produção, porém, ainda assim, para quem mergulha nesse contexto não demora muito para perceber o poder que faixas de artista como o sul-africano Spirro, embrião do que anos depois poderia ser visto na música da dupla franco-camaronesa Les Nubians, considerada uma das maiores fontes de samples do mundo.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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