Seu verdadeiro nome é Calvin Cordozar Broadus Jr, mas o público o conheceu somente como Snoop Doggy Dogg. Descoberto por Dr. Dre durante o início da década de 90, o rapper da California surgiu como uma das maiores apostas da renomada Death Row Records – referência em toda cena hip hop da costa oeste americana – com seu primeiro lançamento, Doggystyle, disco que chegou ao topo da Billboard e o posicionou rapidamente como um dos mais relevantes nomes do gênero, lugar onde permanece até hoje, mais de duas décadas depois, proporcionando uma verdadeira aula sobre como promover uma carreira sem alternar altos e baixos.
Um dos pioneiros do chamado Gangsta Rap, Snoop sempre fez jus ao apelido de Doggfather, adquirido em seu segundo álbum, Tha Doggfather (1996) – uma referência óbvia ao filme O Poderoso Chefão, lançado em 1972 por Francis Ford Coppola – e por vezes abandonou as páginas sobre música para estampar notícias policiais. Usuário confesso de maconha (entre outras substâncias ilícitas que também já lhe causaram problemas com a justiça), é difícil contabilizar quantas vezes sua imagem surgiu ao lado de policiais, ainda que sempre tenha conseguido se livrar sem maiores problemas de inúmeras situações.
O “sobrenome” Doggy não existe mais, mas pouco importa, Snoop está mais vivo do que nunca. São mais de dez álbuns e projetos que conquistaram até mesmo os menos adeptos do hip hop, colecionando parcerias que vão de Willie Nelson a 2Pac passando por Katy Perry e atuações no cinema, programas de TV e a presença em qualquer lugar onde fosse possível, incluindo eventos de luta livre e jogos de vídeo-game.
Com o passar dos anos veio o abraço definitivo no showbusiness, definindo novos rumos na carreira de Snoop, que trocou de gravadora, aumentou consideravelmente sua discografia e se estabeleceu não só como um ícone do hip hop, mas um astro pop às avessas.
Presente em grandes festivais, inclusive no Brasil, quando se apresentou na edição 2011 do SWU, o rapper americano se tornou ponto de referência para uma nova concepção de espetáculos pelo mundo, dando início a um verdadeiro mar de possibilidades ao levar ao palco do festival Coachella o ex-parceiro 2Pac, morto em 1996, como um perfeito holograma. A aparição, produzida em sigilo até sua realização no evento californiano, fez o mundo cogitar a possibilidade de inúmeros ídolos voltarem à “ativa” para relembrar seus sucessos, algo que ganha novos contornos a cada dia, muitas vezes no campo das especulações.
Doggumentary, lançado em 2011 e décimo primeiro álbum da carreira, foi o último antes de mais uma mudança na carreira. Depois de chamar a atenção para o lançamento de Rolling Words: Snoop Dogg’s Smokable Book, um livro com todas suas composições elaborado para ser fumado por seu usuário – composto de folhas de seda e lombada com material similar a uma caixa de fósforo – Snoop decidiu não ser mais Dogg.
Tudo começou após um sonho onde acreditava ser a encarnação de Bob Marley. Passando muito mais tempo em contato com a cultura jamaicana, Snoop decidiu incorporar ao seu nome artístico a referência ao Leão de Judáh, abandonando o “Dogg” e passando a ser chamado como Snoop Lion.
Embora tenha colocado um ponto de interrogação em seu público e na mídia mundial, essa não é a primeira – ou a segunda vez – que Snoop decide mudar seu nome artístico para dar um novo rumo na carreira. Nos últimos anos o rapper decidiu trabalhar como DJ em uma compilação de música eletrônica influenciada pela lendária figura do funk George Clinton, escolhendo para isso o pseudônimo de DJ Snoopadelic. A mídia acompanhou seus passos e algumas apresentações chegaram a ser realizadas em clubs americanos, mas nada tão impactante quanto sua mudança em 2012.
Trabalhando ao lado de Major Lazer (um dos projetos do renomado DJ e produtor Diplo), Snoop Lion lançou seu primeiro single, a divertida La La La, e anunciou um novo álbum, que chegou ao mercado somente em abril de 2013 sob o título de Reincarnated. Recheado de participações, Snoop contou com artistas consagrados nos Estados Unidos como os rappers Drake, Chris Brown, Busta Rhymes e Akon, além de artistas da esfera pop como Rita Ora e Miley Cyrus.
Reincarnated é inegavelmente um disco de reggae/dub, mas sua sonoridade caminha muito mais próxima da esfera pop pelo qual Snoop seguia em discos como Ego Trippin’ (20008) e Malice n Wonderland (2009). Algo distante dos clássicos criados por ícones como Bob Marley, Peter Tosh, Bunny Wailer e Gregory Isaacs, alguns dos artistas citados pelo “rapper” como influências desse novo trabalho.
Reincarnated diverte a qualquer um que busque música somente como entretenimento, mas não abandona a zona de conforto de Snoop, tendo o hip hop como fio condutor em 100% do tempo. Questionado por muitos artistas da velha geração do reggae sobre sua ligação com a religião e o marketing pessoal, o rapper tratou de se preparar muito bem antes de embarcar em sua nova fase, adquirindo conhecimento profundo sobre a cultura rastafari. Durante um grande período, Snoop permaneceu concentrado na Mansion of Rastafari (uma das muitas moradas simbólicas da religião Rastafari) para aprender de forma apurada o Niyabinghi, ordem mais antiga do movimento, adquirindo base suficiente para rebater publicamente qualquer questionamento sobre suas decisões.
E em sua nova fase, novamente cheia de polêmica, Snoop Lion segue mantendo tanto mídia como público atentos a cada um de seus passos, uma façanha que só verdadeiros ídolos do universo pop conseguiram realizar após um período tão turbulento da indústria fonográfica, embora esse rótulo não possa ser ligado diretamente a sua imagem.
Golpe de marketing ou não, é inegável que uma nova e longa viagem parece ter dado seus passos iniciais, ganhando um capítulo mais surpreendente (e cômico) que o outro a cada trabalho lançado e restando ao público acompanhar de camarote os próximos rumos da carreira de Snoop Dogg… ops, DJ Snoopadelic ou Snoop Lion.