Lançado no fim de outubro de 2014, Motion – quarto lançamento de inéditas de Calvin Harris – é sucesso em todo mundo e impressiona pela quantidade de hits emplacados em poucos meses de divulgação. Esse fato levou o DJ a ser headliner dos maiores eventos do planeta, inclusive do Lollapalooza Brasil, onde se apresentou pela segunda vez em 2015.
Entre os destaques do álbum estão as sensações pop Ellie Golding e John Newman, a consagrada Gwen Stefani e produtores renomados como Alesso e R3hab. Tudo no álbum tem a cara de Calvin Harris, o que acabou tornando o escocês nascido na pequena cidade de Dumfries o grande fenômeno da música eletrônica em 2014. A diferença em relação aos artistas dessa década se dá no respeito adquirido fora do mainstream, algo só visto na geração dos chamados “Superstar DJs” – imortalizado em 1999 na faixa Hey Boy, Hey Girl, do Chemical Brothers.
Dono de uma ascensão marcada por três álbuns em cinco anos, Calvin Harris pouco mudou em relação ao artista que hoje tem na voz de grandes nomes a garantia de sucesso. Se no passado, quando estourou com o hit Girls, do álbum I Created Disco, de 2007, o produtor utilizava sua voz para fazer pistas de clubs de rock dançarem, atualmente faixas como Faith e Summer são sucesso garantido e carro-chefe de seu trabalho.
Em comparação ao universo de David Guetta, seguramente o nome que mais fez com que o mundo da música eletrônica se aproximasse do pop após a virada do século, Calvin Harris soube manter a autonomia de seu trabalho sem cair na tentação de utilizar somente artistas consagrados como trampolim. Isso acabou distanciando seu trabalho daquele realizado pelo americano, que em 2014 também lançou um novo álbum de inéditas e já oscila para se manter entre os produtores mais relevantes da atualidade. Tudo isso permeado a diversas críticas ao seu método de apresentação “ao vivo” e a ausência de personalidade a cada lançamento, ao contrário de jovem produtor, que vem garantindo lugar ao lado de bandas de rock em festivais.
Amparado por hits de seu último álbum, 18 Months (2012), Calvin Harris conseguiu uma façanha que poucos artistas da atualidade conseguiram, emplacando pelo menos nove faixas nas paradas de todo mundo. Com praticamente um “Greatest Hits” na mão ficou fácil excursionar e roubar a cena por onde passasse, principalmente quando músicas com vocais de Rihanna, Florence Welch, Example e Ne-Yo servem de plataforma com isso. Ele abraçou, de uma vez só, o pop, o rock, o hip-hop e o público, fator fundamental desse processo.
Seu último álbum, Motion, é a síntese de um artista que caminha entre os clubs e as grandes arenas, transitando por singles fáceis como o primeiro do disco, Under Control, e faixas prontas para grandes festivais, caso das explosivas It Was You e Overdrive. Nesse ritmo, construiu um disco que pode facilmente ser desmembrado e sirva, assim como seu antecessor, como uma coleção de singles, explorados à exaustão e definindo as tendências da música eletrônica do século XXI.
Porém, ainda que esteja na crista da onda nos dois últimos anos e tenha levado sua música do underground ao topo em menos de cinco anos, ainda falta um longo caminho para que Calvin Harris seja um artista tão importante quanto Tom Rowlands e Ed Simons, do Chemical Brothers, ou a dupla de robôs do Daft Punk, formada por Guy-Manuel de Homem-Christo e pelo francês Thomas Bangalter. A única forma de comparar o escocês aos grupos citados seria na quantidade de singles emplacados em seus dois últimos lançamentos. Mas em uma cena tão mutável como a eletrônica, ele se torna especial por esbanjar feeling e sentir para qual lado as tendências apontam, sempre sem perder a identidade – o que em tempos atuais é mais do que suficiente para não perder o controle.