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Aretha pede respeito

12 de setembro de 20176 min read

Até hoje considerada uma das maiores divas da música contemporânea, se tornou praticamente impossível separar Respect de Aretha Franklin. Faixa gravada pela cantora americana no álbum I Never Loved a Man the Way I Love You, seu primeiro pela Atlantic Records, o clássico que praticamente redefiniu a cultura americana na reta final da década de 60 não é exatamente da cantora americana, mas de outra lenda da soul music, Otis Redding.

Escrita por Otis dois anos antes, em 1965, Respect nem de longe tinha o objetivo de se transformar em um hino feminista. Muito pelo contrário. Inspirada em uma frase dita por um dos integrantes de sua banda na época, os Singing Demons, a letra de Respect inicialmente tratava-se de um trabalhador que, ao chegar em casa, afirmava ter direito ao respeito de sua esposa por pagar as contas e garantir a alimentação da família.

“But all I’m askin’ is for a little respect when I come home” – teria ouvido Otis comentar sobre o tempo em que a banda excursionava junta.

Provavelmente a primeira coisa que qualquer um está pensando agora é em como uma faixa de teor machista poderia se tornar um hino tão poderoso na voz de Aretha Franklin. Por isso deve ficar claro que existem mudanças sutis na composição que ganhou corpo na voz da cantora americana.

Produzida originalmente pelo lendário Steve Cropper, a Respect de Otis Redding alcançou relativa popularidade entre os fãs do soulman, mas também atraiu a atenção do produtor Jerry Wexler, que viu potencial na faixa para a voz de Aretha. A canção recriada pela cantora foi registrada no início de 1967, quando foi lançada como single ao lado de Dr. Feelgood.

Aretha, a garota de ouro da Atlantic Records, sabia de seu papel logo no primeiro lançamento pela grande gravadora e não pensou duas vezes em alterar parte dos versos da música, especialmente na quebra de ritmo do fim da música, provavelmente seu momento mais marcante. E o mundo nunca mais seria o mesmo com o acréscimo dos versos que ficaram conhecidos como:

R-E-S-P-E-C-T

Find out what it means to me

R-E-S-P-E-C-T

Take care … TCB

Sock it to me, Sock it to me, Sock it to me, Sock it to me [etc]

Cantados ao lado de Franklin Erma e Carolyn, irmãs de Aretha, os versos finais da música se tornaram uma expressão comum no cotidiano americano como uma busca por direitos iguais, especialmente na posição em que a mulher se colocava frente ao homem.

A adição de uma linha de sax emprestada por outra lenda do soul, o saxofonista King Curtis, transformou em algo ainda mais grandioso um trabalho que ainda contava com um piano executado pela própria Aretha. Nascia ali um dos primeiros hinos feministas na música.

O lançamento de Respect foi estrondoso. Faixa que permaneceria no topo dos charts mundiais por semanas, o hit de Aretha Franklin nem de longe incomodou Otis Redding, que no mesmo ano realizaria no Monterey Pop, uma das mais apresentações mais lendárias do festival. Na ocasião o soulman declarara que uma de suas faixas havia sido pega por uma amiga, realçando seu talento e evidenciando a amizade entre ambos. Amizade essa que durou apenas por mais dois anos, quando Otis faleceu, vítima de um acidente aéreo.

A força de Respect pode muito bem ser sentida ao longo das décadas seguintes na quantidade pela quantidade de artistas que surgiram carregando na voz um engajamento cada vez maior.

Todo esse sucesso já não se media somente pelo talento da cantora, mas principalmente por ter apresentado um ideal que na época se fazia mais do que necessário em escala global. Sucesso na Europa, Arethe conseguiria entrar nas paradas inglesas, inspirando novas artistas. Não a toa o eterno verão do amor seria também conhecido como “Retha, Rap and Revolt”, em alusão ao trabalho de Aretha Franklin.

Na esteira disso novas versoes de Respect surgiram com destaque, uma delas foi com a lenda Diana Ross e até de Joss Stone, já nos últimos anos. O tempo pode ter passado, agora o ideal propagado por Aretha décadas antes não.

Pensar em tudo isso hoje enche de orgulho quem viveu as últimas décadas de olho no movimento ocorrido especialmente no fim da década de 80 com o movimento Riot Grrrl. Em um século onde lançamentos como Lemonade, de Beyoncé, ou de rappers como Tássia Reis, Missy Elliott e Ana Tijoux são cada vez mais frequentes, as mulheres pedem passagem.

Tudo isso não começou com Aretha Franklin, mas Respect gritou para o mundo tudo o que as mulheres mais lutaram ao longo do tempo: RESPEITO!

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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