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Believe e o protagonismo de Cher

12 de janeiro de 20197 min read

O ano é 2019, vivemos tempos obscuros e imprevisíveis, mas também de esperança. Nos quatro cantos do mundo também surgem notícias passos decisivos em busca do fim da intolerância homoafetiva. Do reconhecimento do amor como forma fundamental de convivência.

Em paralelo a isso surgem ícones no mundo da música e no cinema que vestem essa bandeira, afinal, o universo pop sempre esteve a frente dessas causas. E se tudo isso precisasse de uma trilha sonora definitiva ela seria certamente Believe, da cantora e atriz norte-americana Cher.

Disco que completou duas décadas de história no último mês de outubro, Believe é muito mais que o maior clássico da carreira de uma artista que soube como poucos se tornar ainda mais relevante ao longo de uma carreira de mais de 50 anos. Sim, é dele o maior sucesso da carreira de Cher, mas a guinada dance estabelecida em seu vigésimo álbum de estúdio é também fundamental para toda a cultura pop do século XXI.

Revelada para o mundo da música através da dupla Sonny & Cher, viveu o verão do amor nos anos 60 adotando temas incomuns para o mundo da música, especialmente na questão de empoderamento. Preparou terreno para a presença da mulher no até então masculino cenário rock, mas caminhando na contramão, combatendo o estereótipo o protótipo da rockstar feminina e ditando os padrões de aparência e atitude, foi considerada “antiquada” pela crítica, só renascendo uma década depois como atriz, com o estrondoso sucesso de The Sonny & Cher Comedy Hour.

A carreira musical passou por mudanças. Já nos anos 80, experimentou a disco music e a new wave à medida que em que ditava moda para uma geração muito mais receptiva ao seu estilo. O mundo vivia um período de transição depois da loucura dos anos 70 e temas como homossexualidade se tornavam cada vez mais rotineiros. Foi então que Cher se destacou novamente ao ser indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo filme Silkwood – O Retrato de uma Coragem, (1983) onde foi aclamada por ser uma das primeiras atrizes a oferecer um retrato positivo de uma lésbica em um filme.

De acordo com Thomas Rogers, responsável pela revista Salon.com, Cher se tornou inspiração para drag queens que até então se inspiravam em mulheres como Judy Garland e Dolly Parton justamente pela superação ao longo de suas carreiras. Na mesma época Chastity Bono, filha de Cher, se assumiria lésbica e posteriormente mudaria de nome para Chaz, se tornando um dos maiores ativistas da causa LGBT nos anos seguintes. Cher assumiria a questão com orgulho e amor que tanto pregou durante a carreira, assumindo sua postura frente a inúmeras causas e sendo agraciada por toda comunidade, que antes mesmo do lançamento de Believe já a considerava um dos maiores ícones da comunidade LGBT.

Faltava uma virada musical. Depois de viver a aproximação da dance music na virada da década, Cher só mergulhou de cabeça no estilo nos anos 90 que viria a explodir de forma definitiva, já com o lançamento de Believe. E motivos não faltavam. Além da crescente presença ativista, Cher também foi responsável por uma espécie de revolução no mundo da música através de Believe, quando o auto-tune chegou à indústria da música.

Produzida por Mark Taylor, a faixa que dá nome ao disco de Cher foi a primeira a usar assumidamente o software de auto-tune em uma artista. Isso pode ser percebido na reverberação da voz da cantora americana em seu refrão. Nem mesmo a rejeição da gravadora inicialmente foi capaz de desanimar a dupla, que bancou a aposta e rapidamente transformou Cher em um fenômeno mundial.

Bem recebida pela mídia musical e especialmente pelo público, o verso Do you believe in life after love? se tornou uma espécie de hino que ganhou a pistas em todo mundo, algo que nunca havia acontecido de forma tão expressiva na carreira de Cher. O disco também foi o primeiro após a morte do ex-marido, Bono, e trouxe a cantora de volta às paradas aos 52 anos de idade.

Estima-se que Believe tenha superado a marca de mais de 20 milhões de álbuns vendidos até hoje. Para se ter uma ideia, em tempos com escassez de internet, onde levava-se muito mais tempo para um hit dominar o planeta, antes mesmo de estourar no Brasil o disco já havia superado a marca de quatro milhões de cópias só nos Estados Unidos.

Hoje um recurso obrigatório em estúdio para 9 de cada 10 artistas pop, o auto-tune por muito tempo ganhou a alcunha de “efeito Cher” graças ao pioneirismo da cantora em aceitar a mudança em seu vocal para o lançamento da faixa, uma das mais celebradas no mundo da música.

Outros sucessos embalaram o lançamento de Believe, em 1998, um bom exemplo são faixas como Runaway e Strong Enough, outros que embalaram a virada do século ao som de Cher.

Hoje com 72 anos, Cher é reconhecidamente um fenômeno entre os jovens e inspiração o em tempos de intolerância. Depois de ser desprezada por toda geração yuppie dos anos 70, viu muito mais que sua música atravessar décadas com solidez, mas seu estilo e coragem, servindo de inspiração para algo que vai muito além do mundo da música.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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