Pensar na história da música pop – e não do jazz – há pelo menos 80 anos é uma tarefa que o Passagem de Som adora desbravar. Já falamos sobre a criação das Paradas de Sucesso e de como Louis Armstrong se tornou responsável por rejuvenescer o jazz e aproximar sua cultura da música jovem.
É baseado justamente nesses dois temas que Benny Goodman, um dos maiores ícones do chamado jazz swing entra na história e fecha um círculo que levou o jazz para as massas e fez o público jovem dançar e transformar esse tipo de música naquilo que hoje poderia soar muito bem como música eletrônica ou quem sabe até o reggaeton, afinal, o que tira a juventude de casa para dançar?
Escrita em 1936 por Louis Prima e gravada posteriormente – 1937 – por Benny Goodman, Sing Sing Sing é provavelmente uma das primeiras “febres” de uma indústria que viria a entender o significado desse termo em breve, ainda que não soubesse exatamente disso.
Enquanto o mundo da música vivia a febre das big bands dentro de uma realidade paralela, o cidadão americano encarava uma crise sem precedentes após a quebra da bolsa no fim da década de 20. Depois do colapso de 1929, pensar em música era provavelmente a última coisa que o jovem comum poderia fazer. Desemprego em alta, reconstrução do país… gradualmente os Estados Unidos se levantavam de uma queda que se tornou um zeitgeist na história do Ocidente.
O que fez Sing Sing Sing ser diferente de tudo o que era feito na época era justamente sua condição de botar o público para dançar. Comum na era do swing, faixas de 3 e 4 minutos faziam a alegria dos rádios, mas não causavam o mesmo impacto ao vivo. Já a versão do clarinetista Benny Goodman não.
Gravada em Hollywood com o próprio clarinetista, lá apoiado por Harry James, Ziggy Elman, e Chris Griffin no trompete; Red Ballard e Murray McEachern no trombone; Hymie Schertzer e George Koenig no sax alto; Art Rollini e Vido Musso no sax tenor; Jess Stacy no piano; Allan Reuss na guitarra; Harry Goodman no baixo; e o lendário Gene Krupa na bateria, Sing Sing Sing teve mudanças em seu arranjo original pelo saxofonista Jimmy Mundy para ganhar uma versão de quase nove minutos, praticamente um remix quando pensado no caminho que a música tomou anos depois.
Tudo o que acontece daí por diante pode ser visto como um efeito borboleta que – indiretamente – fez com que a indústria fonográfica americana percebesse como tirar o público de casa. Sabia agora como fazer o público dançar.
Era uma época de descobertas. Construir ídolos já havia se tornado uma obsessão das rádios e listas traziam os melhores da semana acompanhados de muitos outros aspirantes ao topo no momento. Benny Goodman era um deles.
Música que logo despontaria como referência para o Swing, Sing Sing Sing ganhou sua versão definitiva no início de 1938, quando foi gravada no emblemático Carnegie Hall, em Nova York. Existem raros registros desse momento, um deles que pode ser conferido clicando no link abaixo:
O sucesso da faixa trouxe novamente o jazz para perto do público jovem. Benny Goodman emplacaria ainda uma porção de clássicos, mas sua marca registrada sempre seria a faixa de Louis Prima. É quando a história de outro Louis, o Armstrong, começa a ganhar seus principais capítulos.
A década de 40 já trazia um Swing envelhecido e carente de novos hits. O rock ainda não existia e a música country vivia uma geração de artistas consolidados artisticamente. Louis, assim como Benny Goodman anos antes, quebrou essa corrente com algo novo.
Com a popularidade crescente do jazz, o blues, futuro embrião do rock, amargava uma realidade muito distante dos grandes teatros. O choque acontece justamente pelo fato de Louis transitar por entre gêneros e colocar uma pulga na orelha de toda uma ala purista, criando um som impossível de definição e que logo cairia no gosto da ala mais jovem de New Orleans e que, posteriormente, chegaria a Nova York e o resto do país.
Essa ascensão de Louis Armstrong, assim como Benny Goodman, teve como fio condutor para sua difusão o interesse de diversos diretores de cinema, que se fortalecia cada vez mais no cotidiano do cidadão americano. Uma história multimídia que colocou o jovem trompetista de New Orleans como um ícone pop, especialmente pela sua atuação em diversos filmes e parcerias na década de 50 com Ella Fitzgerald.
Tudo o que envolve a carreira de Louis dali para frente é digno de um conto de fadas. A carreira com o Hot Five e o Hot Seven, as parcerias, o vício… tudo pode ser facilmente comparado com qualquer ícone pop da década de 80 ou 90, claro, dando as devidas proporções a cada um.
E pensar tudo começou quando um gênero derivado do jazz dos anos 30 atingiu o público jovem, o grande cerne da questão. Quando Benny Goodman se tornou capaz de fazer músicas longas e sua big band transformar seus shows em verdadeiras festas. Ligando os pontos, o que aconteceu quase uma década antes transformou Louis em um dos maiores nomes da cultura pop.
E com todos elementos narrados fica claro o tamanho da importância do rock na década de 50 e tudo o que nos dias atuais é feito para se aproximar do tão mutável público jovem na música.