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Billy Sherwood e o Sindicato do Fusion Jazz

22 de março de 201310 min read

Vertente do jazz que mais se aproxima do rock, o Fusion Jazz sempre dividiu opiniões ao longo de sua história. O nível técnico altíssimo e a execução de extensos solos em trabalhos seminais realizados durante a década de 70 como Unorthodox Behavior (1976), do Brand X, os clássicos The Inner Mounting Flame (1971) e Birds of Fire (1972), da Mahavishnu Orchestra, e até mesmo o brazuca A Bad Donato (1970), de João Donato, elevaram uma gama de músicos como Pat Metheny, John McLaughlin e Al Di Meola ao panteão do gênero, que se difundiu ainda mais ao longo das últimas décadas e até hoje inspira músicos de todo mundo a caminhar através desse flerte do jazz com o rock, o funk e o soul.

O próprio jazz não passou “impune” ao boom do Fusion durante a década de 70. Músicos como Herbie Hancock e Miles Davis foram alguns dos nomes que se tornaram adeptos do gênero e realizaram grandes trabalhos nesse período, obviamente sendo obrigados a lidar com inúmeras críticas por “profanarem” a história construída no jazz mais tradicional. Dessa época destacam-se, entre muitos, trabalhos como Head Hunters, de Herbie Hancock, lançado em 1972, e o clássico School Days, do baixista Stanley Clarke, gravado quatro anos depois.

Influenciando diretamente novos grupos de rock progressivo e novos jazzistas, o Fusion não tardou a reunir alguns de seus maiores nomes para verdadeiros supergrupos, que acabaram fazendo história ao longo dos anos. Exemplo disso é o consagrado Return to Forever, que trazia em seu line up nada menos que músicos como o próprio Stanley Clarke, o pianista Chick Corea, os bateristas Airto Moreira e Steve Gadd, além de uma verdadeira legião de músicos de primeira linha que desempenhavam um trabalho paralelo ao realizado em suas carreiras solo. Foi também nessa época que o grupo Weather Report, que já acompanhara Miles Davis durante a década de 60, viveu sua melhor fase, lançando discos que se tornariam fundamentais para o gênero e consagrando o tecladista Joe Zawinul como um dos maiores expoentes do Fusion.

Com sua relevância no mundo da música afirmado em pouco mais de dez anos, o Fusion atravessou a década de 80 trazendo à luz novos artistas como os guitarristas Mike Stern e Allan Holdsworth, enriquecendo ainda mais um gênero que já servia de referência para músicos de técnica apurada. Até mesmo o heavy metal sentiu diretamente os efeitos do gênero nas últimas décadas e viu a vertente conhecida como Progressive Metal (ou simplesmente Progmetal) se tornar um dos nichos mais bem-sucedidos da cena ao catapultar nomes como o Dream Theater ao mainstream, tudo isso com uma música distante da realidade das rádios de todo o mundo, o que inspirando ainda mais bandas a seguirem por essa trilha, que hoje comporta até festivais específicos, dedicados somente ao progmetal.

Com o turbulento período vivido pela indústria fonográfica a partir da relação de amor e ódio com a internet no fim da década de 90, as grandes gravadoras passaram a apostar menos em gêneros pouco populares como o Fusion. Com distribuição setorizada, ficou difícil acompanhar o ritmo dos acontecimentos, causando a sensação de que o gênero hoje vive uma espécie de hiato criativo, sem álbuns que possam definir novos rumos para as próximas gerações, o que é um grande engano.

Disposto a reunir um verdadeiro Dream Team para seu novo projeto, o baixista Billy Sherwood, que construiu sua carreira ao integrar grupos como Yes, Toto e Asia e atualmente integrar a banda Circa, reuniu uma verdadeira legião de músicos de primeira linha para lançar um dos discos definitivos do Fusion Jazz no século XXI, o ótimo Fusion Syndicate, lançado em 2012 pela Cleopatra Records.

O título do projeto não é dos mais humildes, mas também nem deveria, afinal, contar com integrantes de grupos como Mahavishnu Orchestra, Yellowjackets, Brand X, Soft Machine, Spyrogyra, Yes, Dream Theater, King Crimson, Tool, Porcupine Tree e Hawkwind soa como algo próximo de um sonho para qualquer amante do gênero.

O line up do disco, que traz 7 belíssimas e extensas faixas, conta com músicos do primeiro escalão da música mundial, caso de Rick Wakeman, Jerry Goodman, Nik Turner, Jimmy Haslip, Steve Stevens, Jordan Rudess, Mel Collins, Billy Cobham, Jay Beckenstein, Billy Sheehan, Gavin Harrison, David Sancious, Larry Coryell, Derek Sherinian, Eric Marienthal, Chester Thompson, Steve Morse, Jim Beard, Randy Brecker, Percy Jones, John Etheridge, Tony Kaye, Chad Wackerman, Steve Hillage, Scott Kinsley, Theo Travis, Justin Chancellor e Asaf Sirkis.

Fusion Syndicate não é só mais um disco repleto de bons solos e melodias bem desenhadas, mas o resultado de inúmeras influências que moldaram o gênero, criando um material único e bem qualificado. Do jazz, passando pelo rock, o funk e até mesmo a música clássica, o projeto de Billy Sherwood soa muito mais como uma celebração musical do que especificamente de uma vertente.

Ao elaborar um line up específico para cada uma das faixas, fica difícil pensar em quem pode se destacar ao longo do trabalho. O próprio Billy Sherwood se declarou bastante surpreso com a possibilidade de reunir uma quantidade tão significativa de músicos em seu novo projeto, que entre os destaques faixas como Stone Cold Infusion e At The Edge Of The Middle, capazes de colocar dentro de um único trabalho a técnica de integrantes de bandas como Dream Theater, Soft Machine, Blood, Sweet & Tears e Dixie Dreggs.

O passado e o presente do gênero se encontram em Fusion Syndicate para buscar novos caminhos para seu futuro. Se você perdeu o bonde da história e deseja se aventurar por um dos mais fascinantes caminhos da música, talvez seja essa a hora. Billy Sherwood não sintetizou quatro décadas de história do Fusion Jazz, mas condensou tantas influências que fica difícil mensurar o limite da criatividade de tantos artistas.

Disponível desde 2012, Fusion Syndicate não tem lançamento no Brasil, mas pode ser adquirido em inúmeros sites internacionais, inclusive através da própria loja oneline da Cleopatra Records. Confira abaixo o tracklist de Fusion Syndicate, projeto do baixista Billy Sherwood que reune alguns dos maiores nomes da história do rock e do jazz:

01. Random Acts Of Science – Rick Wakeman (Yes), Jerry Goodman (Mahavishnu Orchestra), Nik Turner (Hawkwind), Jimmy Haslip (Yellowjackets / Alan Holdsworth)

02. Stone Cold Infusion – Steve Stevens, Jordan Rudess (Dream Theater / Liquid Tension Experiment), Mel Collins (King Crimson), Colin Edwin (Porcupine Tree), Billy Cobham (Mahavishnu Orchestra)

03. Molecular Breakdown – Jay Beckenstein (Spyrogyra), Billy Sheehan (Steve Vai / Mr Big), Gavin Harrison (Porcupine Tree), David Sancious (The E Street Band)

04. Particle Accelerations – Larry Coryell, Derek Sherinian (Dream Theater / Black Country Communion), Eric Marienthal (Chick Corea Elektric Band), Chester Thompson (Genesis / Frank Zappa)

05. At The Edge Of The Middle – Steve Morse (Dixie Dreggs / Deep Purple), Jim Beard (Mahavishnu Orchestra), Randy Brecker (Blood, Sweat &Tears/Brecker Brothers), Percy Jones (Soft Machine/Brand X)

06. Atom Smashing – John Etheridge (Soft Machine), Tony Kaye (Yes), Chad Wackerman (Frank Zappa)

07. InThe Spirit Of – Steve Hillage (Gong), Scott Kinsey (Tribal Tech),Theo Travis (Steven Wilson Band), Justin Chancellor (Tool), Asaf Sirkis (The Orient House Ensemble)

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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