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Blind Boys of Alabama – O poder da fé

21 de setembro de 20234 min read

A música é sagrada. Seja para quem acredita em tudo – ou nada, todos sabem do poder ecumênico da música. Para alguns grupos da história da música, isso é algo que extrapola o imaginável, como no caso do octogenário Blind Boys of Alabama, grupo formado em 1939 e que segue na ativa até hoje com lançamentos impressionantes.

Com um currículo que já o credenciou a dividir estúdios e palcos com nomes como Peter Gabriel, Tom Waits, Bob Dylan, Moby e tantos outros, o já não tão garotos cegos do Alabama lançaram nesse ano Echoes of the South, o segundo disco desde a morte de Clarence Fountain, último membro fundador vivo do grupo. A partir de agora, a batuta passa para Jimmy Carter (43 anos de grupo) e Ricky McKinnie (33 anos).

Dito isso, não há segredos para quem já ouvia seu trabalho, a fórmula segue a mesma, mas nem tanto. O título do álbum, Echoes of the South, não acontece por acaso. Trata-se do primeiro programa que abriu espaço para o quinteto, lá no início dos anos 40. Na época, os grupos formados por negros podiam ser tocados, porém, pelas “leis de Jim Crow”, expressão que nasce de uma forma pejorativa de se referir ao negro americano nos anos de segregação racial, os mesmos só poderiam cantar o evangelho branco. Um absurdo.

Acima, a formação original do Blind Boys of Alabama – Crédito: Michael Ochs Archives

O tempo foi colocando a música do Blind Boys Alabama no circuito mundial, assim como sua capacidade de perseverar frente a tantas dificuldade e cantar a sua fé. O tempo pode até ter levado para outro andar parte de seus integrantes, mas o grupo sempre conseguiu manter intacta a sua qualidade, algo que se vê através de Echoes of the South em um apanhado de canções tradicionais e versões de grandes nomes da soul music, como Pops Staples e o Holland–Dozier–Holland, o canhão de composições da Motown. Nada que tenha se tornado popular, ao menos com os autores originais.

Musicalmente, em Echoes of the South tudo soa sublime. É como se as vozes que saem do alto-falante ainda fossem ainda daqueles que formaram o Blind Boys of Alabama há tanto tempo. Em algumas faixas, como em Jesus You’ve Been Good To Me, de Willie Neal Johnson & the New Keynotes, a interpretação e pregação soa intensa de tal forma que você considera realmente voltar a frequentar uma igreja, nem que seja para ver a parte musical.

Existem mensagens muito bem amarradas no disco. A referência à morte nunca foi tão presente na carreira do grupo, por isso, reflexões acabam soando até certo ponto melancólicas, afinal, não sabemos quando é a nossa última vez.

Acima, a formação atual do Blind Boys of Alabama – Crédito: Divulgação

Um dos grandes colossos da música gospel em toda a sua história, o quinteto do sul dos Estados Unidos não mostra cansaço, mas sabe que o tempo passa para todos. Descobrir ou redescobrir essa vertente musical nunca é tarde, mas diante de uma obra como Echoes of the South é uma pena que, ao menos no Brasil, a referência de gospel acabe afastando muito mais do que conquistando novos ouvintes. No caso do Blind Boys of Alabama, diante de um disco tão bonito, você tem certeza de que, acredite ou não, há muita fé depositada em cada faixa.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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