Depois do impecável No Geography, lançado em 2019, revolucionário duo inglês surpreende com outro grande álbum, mas pronto para baixar o sarrafo e admirar a própria história, em um tributo próprio em For That Beautiful Feeling
Para quem acompanha a dupla formada por Ed Simons e Tom Rowlands há praticamente três décadas, ainda é assustador pensar que em um gênero tão mutável como a música eletrônica, seja possível revolucionar algo. Depois de alguns anos oscilando – em especial os álbuns We Are the Night (2007) e Further (2010), e lidando com o boom da EDM – o Chemical Brothers voltou com tudo ao lançar Born in the Echoes em 2015. No seguinte, No Geography (2019), a dupla se mostrou novamente acima da média. E For That Beautiful Feeling, seu novo álbum, é outro disco que marca um período fértil de sua carreira, mas agora com um pé no passado, quase em esquema de um tributo ao próprio legado.
Explica-se. Ainda que não seja uma coletânea, o novo trabalho do Chemical Brothers soa nostálgico para acompanhar o lançamento do livro Paused in Cosmic Reflection, um compêndio de entrevistas com alguns dos seus principais colaboradores Gente do calibre de Noel Gallagher, Aurora, Wayne Coyne, Beck e o lendário cineasta Michel Gondry. Então, de certa forma, um álbum nostálgico faz todo sentido nesse momento. O que nem de longe soa ruim no disco.
Com ecos de sua trinca inicial, formada por Exit Planet Dust (1995), Dig Your Own Hole (1997) e o definitivo Surrender (1999), For That Beautiful Feeling parece formado por faixas que ficaram de fora nos anos 90, mas que na verdade foram produzidas agora e que contam com o veterano Beck e a descolada artista francesa, Halo Maud, em seu line up. Entre suas 11 faixas, a influência de hip-hop, a miscelânea de vocais, o Breakbeat, a psicodelia e a bateria que o fez transitar até pelo mundo do rock. Tudo feito para dançar sem ser óbvio.
Com alguns singles divulgados nos últimos meses, em especial The Darkness That You Fear, que é certamente candidata a uma das melhores faixas do gênero lançadas esse ano, o disco indicava um olhar voltado para o início da cena rave inglesa. E acerta em cheio. Da explosiva To Live Again (com a artista francesa, que basicamente inicia e termina o disco, com sua faixa título) até Skipping Like a Stone, com Beck, o disco é uma coleção de faixas que não passam em branco. A sensação a cada colaboração segue sendo a de que a dupla consegue extrair de seus parceiros o melhor deles, por isso, soa tão multifacetado.
Ainda que em alguns poucos momentos o disco possa soar repetitivo, como em The Weight, o fato é que a ideia de obra completa, com suas perfeições e imperfeições, se mantém acima de qualquer julgamento. Em seu novo álbum, o Chemical Brothers parece ressignificar tudo o que já fez. Você tem a sensação de ter ouvido algo parecido antes, mas segue sentindo que a euforia é a mesma de outras épocas. E para quem envelheceu nas pistas, cada lançamento da dupla ainda é motivo para dançar mais um pouco até o dia nascer.
For That Beautiful Feeling não vai mudar a engrenagem da música eletrônica, tão menos soar entre os grandes lançamentos do ano, mas certamente vai reafirmar, novamente, quem é a dupla mais longeva e prolífica da música eletrônica. A química ainda funciona e está a todo vapor.