Com as melhores referências possíveis, conhecimento e muito groove, grupo francês lança álbum que corresponde às expectativas sonoras, mas que o restringe a permanecer confortável na bolha que nasceu.
Existe uma reparação história na música brasileira que fez diversos artistas verem sua obra sob holofotes com a força da internet, mesmo nunca terem parado na carreira. Foi assim com Di Melo “O Imorrível”, que viu seu clássico álbum de estreia virar artigo de luxo por aqui. Muito disso se deve a um reconhecimento internacional, em parte por DJs e nomes que começam a ganhar expressão com suas bandas, caso do grupo Cotonete, nome que inicialmente parecia remeter a algum DJ local, mas na verdade trata-se de um grupo francês capitaneado por Frank Chatona e Florian Pellissier, dois músicos que carregam em si a verdadeira finesse da música contemporânea e que agora lança seu segundo álbum cheio, Victoire de la musique.
Conhecido por ser “a melhor banda dos anos 70 no século XX”, o Cotonete realmente faz por merecer tal alcunha. Talvez não a melhor, mas é fato que o grupo entregue o que promete. Ao lado de Chatona e Florian, respectivamente sax e teclado, completam o time David Georgelet (bateria), Jean-Claude Kebaili (baixo elétrico), Farid Baha (guitarra elétrica), Benoit Giffard (trombone), Christophe Touzalin (trompete) e Paul Bouclier (trompete e percussão), além de um caso tórrido de amor pela música brasileira. Daí a conexão com a obra de Di Melo.
Disposto a mergulhar na obra de artistas como Eumir Deodato, Black Rio e Jorge Ben, além de tantos outros, o Cotonete faz vez por outra versões de clássicos de nossa música transportando tudo para uma atmosfera francesa, de groove, soul e até disco music. Para entender melhor, o Cotonete é uma espécie de Incognito (banda inglesa de acid jazz) francês. Espere em sua música tudo aquilo que você acha refinado, Chatona e Florian sabem muito bem fazer isso, mas ao contrário do Incognito, não possuem aquela pimenta adicional que fez o bandleader da banda inglesa, Bluey, levar seu trabalho um degrau acima. Ainda assim, o resultado é ótimo e vale a audição.
Em Victoire de la musique, disco que começa morno com Odysée e Venezuela, está lá o tempero do grupo e a versatilidade de fazer de forma orgânica o que o mundo aprendeu a chamar de downtempo. A coisa começa a mudar com a versão de Bebete Vãobora, de Jorge Ben, que ganha uma releitura com a participação de Sabrina Malheiros, referência nessa onda de nova bossa-nova bem ao estilo de Bebel Gilberto. Dali para frente, a trilha do coquetel está pronta.
Com participações de vocalistas aqui e acolá, o disco do Cotonete esbanja bom gosto. Nada que mude o preço do dólar, mas que garante a certeza de uma boa audição. Day in Day Out, Satori e O Céu é Preto (olha o Brasil aí de novo) são bons destaques de um registro que não chega a fazer dançar, mas atravessa sua 1 hora de duração sem esforço. Tudo ali é bem tocado, o que não necessariamente seja sinônimo de algo genial.
Em seu álbum, o Cotonete reforça bem sua posição dentro da “música elegante” que deseja promover, especialmente para um público que aprendeu a reverenciar standards brasileiros no exterior. Dentro desse nicho o grupo pode reinar com facilidade, mas para quem aprendeu a conviver com as referências brasileiras que hoje ganham edições luxuosas em vinil de 180 gramas, não tenha dúvidas, prefira sempre o original.