Acompanhe nossas redes sociais

Now Reading: Disclosure – Sem feats, sem chance de dar errado

Loading
svg
Open

Disclosure – Sem feats, sem chance de dar errado

17 de novembro de 20234 min read

Em seu novo álbum, irmãos Guy e Howard Lawrence realizam um dos melhores trabalhos da carreira dispensando colaborações e mostrando que música eletrônica é, essencialmente, para dançar, não para cantar.

Quando surgiu, há uma década, a dupla inglesa Disclosure apontava para um novo horizonte da música eletrônica. Recheado de participações, os famosos “feats”, fizeram de sua estreia, Settle (2013), um dos discos do ano. Com nomes como Sam Smith e London Grammar, aproveitou o boom da EDM, despontando em meio a uma busca insana de DJs pelo sucesso comercial. A fórmula manteve-se em Caracal (2015), com Gregory Potter, e Energy, com o rapper Common, mas algo apontava para uma nova direção, especialmente com a saída da gigante Island Records. E em Alchemy, seu primeiro álbum sem participações de peso e com liberdade criativa, a dupla mostra que, na verdade, nunca precisou delas para fazer um grande disco.

Não é exagero dizer que Alchemy é o melhor álbum da carreira do Disclosure. Sem samples e produzido em Los Angeles, o disco conta apenas com os vocais de Howard Lawrence e em pouco mais de meia hora se torna impossível deixar qualquer uma de suas 11 faixas fora de uma pista de dança. Talvez não aquela que todo DJ sonha, com grandes palcos e pirotecnia, mas em uma pista onde se dance de cabeça baixa e ouvindo o que interessa, a música.

Em tempos atuais isso é uma conquista enorme, já que a superficialidade que referencia a música pop está totalmente ausente de faixas como Looking for Love ou Simply Won´t Do, duas das melhores do disco. E ainda assim a música da dupla inglesa não precisa soar underground a ponto de ser experimental em seu quarto álbum.

Ao jogar para escanteio o papel do vocal em seu trabalho, o Disclosure se aproxima muito mais do auge da cena rave inglesa oriundo dos anos 90, algo que o Chemical Brothers sempre conseguiu fazer e ainda faz com maestria. De genérico insosso da Groove Armada em seus últimos trabalhos, o duo inglês se reposiciona na carreira e agora parece caminhar com muito mais frescor (e menos pressão) agora. Não à toa, Alchemy apontam para um frescor na carreira do grupo, que vinha ladeira abaixo enquanto se amparava em convidados cada vez mais menos expressivos na música pop.

E não faltam bons momentos no disco, que não chega nem em 40 minutos. We Are in Love e Sun Showers são outras que despontam como alguns dos grandes singles do ano e devem fazer a alegria de DJs mundo afora. Com pequenos interlúdios, o disco em nada obedece a lógica pop que consagrou a dupla há dez anos. Ainda bem.

Disco que pode ser considerado um dos melhores trabalhos de música eletrônica de 2023, Alchemy é o início de uma nova fase no Disclosure e nos leva a pensar como teria sido se, lá no início, a dupla tivesse tamanha autonomia em Settle, que por si só é um disco que marcou época. Se tudo acontece na hora certa no mundo da música, o rompimento com a Island é certamente a melhor coisa que aconteceu para os ingleses. As pistas de dança agradecem.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

Tagged In:#Alchemy, #Disclosure,
Loading
svg