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Entrevista BEMTI

3 de setembro de 201813 min read

Se perguntarmos a qualquer artista qual o significado sinônimo do sucesso, certamente estaremos diante de um grande debate, mas todos caminharão por uma mesma linha, a do reconhecimento. E esse é o primeiro ponto que refletimos ao investir na obra de  Bemti, que lançou em 2018 seu primeiro trabalho solo, o belíssimo era dois. Disco que exala a experiência de quem construiu sua ligação com a música através da banda Falso Coral.

Tudo é dotado de rara beleza. É sutil, bem trabalhado e encanta, encanta em muito um público que aprendeu a conhecer sua obra através da internet e hoje lhe rende uma quantidade de views tão impressionante que ficamos nos perguntando por onde se escondia a obra de um artista que nasce pronto e completo para o público. Em um disco que investe em diversas sonoridades, a sutileza se torna a marca registrada de quem parece brincar com os acordes da mesma forma que um químico com elementos naturais.

É baseado nessa capacidade de criar belíssimas canções que o Passagem de Som conversou com Luís Bemti. Falando do álbum, de seu talento como compositor e especialmente sobre tudo o que cerca um dos discos mais bonitos lançados esse ano. Uma entrevista leve como a brisa, tal qual a música de Luís.

A produção do álbum e o feedback imediato
Bemti: Eu acho que muita gente têm vontade de ouvir (e abertura pra receber) uma música que é mais emotiva sem ser clichê, confessional, com timbres diferentes… e tudo isso ainda sendo pop. Eu tenho uma “missão pessoal” já faz alguns anos de colocar a viola caipira em outros contextos musicais, mas quando eu estava dando os últimos retoques no disco e já tava tendo uma recepção muito legal de amigos que estavam escutando, eu entendi que a minha “missão” na verdade era conseguir fazer música pop diferente que eu gostasse muito sem precisar nivelar com certas expectativas, como por exemplo soar exatamente igual a maioria das pessoas que estão fazendo música pop etc. Então o meu disco é pop com elementos que eu gosto e queria ouvir (o folk, o synthpop, a viola…) e só posso agradecer tanta gente estar se identificando com ele! Tem muita coisa envolvida mas acho que fazer música com o coração é sempre uma boa “aposta” na hora de tentar atingir o público. Essa recepção só tem me provado que tem muita gente que quer sim ouvir coisas feitas com verdade, que você não é obrigado a se encaixar à força numa fórmula de sucesso do que ta rolando por aí.

As participações da banda Tuyo e Natália Noronha, além, claro, de Johnny Hooker. E como isso vai funcionar ao vivo
Bemti: O Johnny e a Fernanda Kostchak (que toca o violino de Tango) eu já conhecia antes e os convites surgiram de uma forma muito legal e muito natural. A Natália e os Tuyo eu chamei na cara de pau mesmo! Não conhecia pessoalmente e foi genial ter rolado porque imaginava muito as músicas com essas vozes! Fico muito feliz pelas músicas (mesmo lá atrás em versões super cruas) terem tocado esses artistas que eu admiro muito e feliz pelas amizades que surgiram dessas parcerias!

Sobre o ao vivo, como os primeiros shows são mais especiais, estou planejando sempre convidar alguém para participar (entre os artistas que participaram do disco ou outros amigos), mas meus outros dois companheiros de banda também cantam e vão ajudar bastante nos vocais de apoio quando eu fizer shows sem convidar ninguém.

O transporte da música para o videoclipe
Bemti: Eu sou formado em Audiovisual (também trabalho com roteiro e montagem) então pra mim o visual é tão importante como a música e tenho sorte de ter muitos amigos na área que estão sempre por perto. O que pouca gente sabe é que quando você está assistindo o clipe de Tango ou de Gostar de Quem, não está vendo só meu trabalho de cantor/músico/compositor, também está vendo meu trabalho de roteirista, montador e codiretor (os dois clipes dirigidos com a incrível Thais Taverna). Então é um processo muito natural porque a minha expressão através do videoclipe vem tão de dentro quanto a minha expressão musical. E mesmo com todas as limitações de orçamento que tivemos nos dois clipes (foram produções 100% independentes) todos ficamos orgulhosos demais dos resultados.

E por ser tão parte da minha criatividade, por mim eu faria clipe de todas as músicas! Mas como a vida real não deixa vamos fazendo aos poucos! Quero muito fazer um clipe da “Às vezes…” com a Natália Noronha (ela também quer muito) e explorar um visual mais divertido e nostálgico do meu trabalho. Mas sem previsão por enquanto.

O papel da mídia em relação a novos artistas
Bemti: O resultado numérico e o retorno do público tem sido lindo! Conhecendo muito o cenário alternativo brasileiro o que eu tenho como meta de sucesso é conseguir me sustentar com música. É incrivelmente difícil. Se eu conseguir atingir essa meta daí dá pra alçar voos mais altos. Sem o lucro da mídia física tradicional os caminhos são outros: shows, parcerias, merchandising… mas ainda quero prensar o vinil do “era dois”!

Atingir a mídia e atingir o público são missões que precisam andar lado a lado e hoje em dia são complementares. Às vezes é a pressão do público que vai colocar certos artistas no radar de mídias mais difíceis de serem “conquistadas”. Mas só o respaldo da crítica não faz o artista conquistar o público também. Acho que falta mais espaço nas rádios e na TV aberta, principalmente pra programas musicais com artistas que não se enquadram no formato de reality show. A internet democratizou tudo mas a TV aberta ainda é muito importante pra música chegar em uma grande parcela do público e é um campo super fechado pra artistas independentes (assim como a maioria das rádios).

Ser artista em tempos de polarização e conservadorismo
Bemti: No meu caso cantar abertamente sobre ser gay e me apresentar publicamente como gay nos clipes já me coloca no olho do furacão das responsabilidades, polarizações, posicionamentos… Já recebi tanta mensagem legal de gente que se identificou e se emocionou com meu trabalho que eu percebo como são importantes todas essas representatividades! É o que eu sempre digo, se você se expressa de qualquer forma e está numa posição normalmente que é normalmente discriminada, ocupe esse campo de expressão falando abertamente sobre quem você é. A sociedade muda quando essas diferentes representações ocupam os diferentes espaços. Por ser gay, minha paixão pela música não pode ser separada da responsabilidade social de ser um artista num país tão homofóbico. Não esconder quem você é já te encarrega dessa responsabilidade, querendo você ou não.

Muito além do lançamento do disco
Bemti: É o meu primeiro disco e ele saiu há 3 semanas então estou aprendendo todos os dias! O mais complicado é ser independente e tentar encontrar espaço entre lançamentos de gravadoras, artistas com milhões de seguidores, etc. Mas vamos lutando!

O folk na música brasileira hoje
Bemti: Acho que já passou um pouco o zeitgeist do indie folk que veio junto com bandas como Mumford and Sons e o primeiro disco da Florence, acho que o que rola hoje é outro boom. Temos uma cena forte que usa elementos do folk mas acho que ela bebe mais na fonte da “nova MPB” que surgiu nos idos de 2010 do que do folk, fazendo um som brasileiro com elementos acústicos e influências estrangeiras. Apesar da viola caipira ser a protagonista nos instrumentais do meu disco ele não é um disco folk, ele é um disco que passeia por vários gêneros como indie folk, synthpop, mpb… Nesse caldeirão de influências é difícil falar em cena mas consigo traçar várias paralelos entre o meu trabalho com Vanguart, Anavitória, Castello Branco, Tulipa, Jenecei, etc.

“A gente combina” e o pop novamente como sinônimo boa música
Bemti: Ela é super influenciada pelo rock alternativo britânico do começo dos anos 2000. Queria que ela fosse um hit perdido dessa época só que em português. É necessário mas não é obrigatório! É como eu falei anteriormente sobre ser pop mas dialogando com a sua própria verdade, sem copiar fórmulas etc. Precisamos de mais referências pra música pop no Brasil em geral, porque dá pra ser popular sem precisar nivelar por baixo. Anavitória é um ótimo pop, Skank é um ótimo pop, Anitta é um ótimo pop… Como pessoa do interior eu posso dizer por causa própria que a música em grande parte do Brasil é completamente dominada por ritmos massificados que dominaram tudo, você liga as rádios e parece que está ouvindo a mesma música por 24 horas. Desejo toda força do mundo pra quem tenta ser pop sem precisar entrar nessas fórmulas, é uma batalha gigantesca.

Futuro
Bemti: O “era dois” está batendo 100 mil streams no Spotify 3 semanas depois do lançamento! Isso é importante demais pra quem é independente. Agora é fazer o disco chegar no maior número de pessoas possível e visitar diversas cidades com o show (que está bem lindo).

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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