Acompanhe nossas redes sociais

Now Reading: Entrevista FRANCISCO, EL HOMBRE

Loading
svg
Open

Entrevista FRANCISCO, EL HOMBRE

8 de março de 201812 min read

Existem bandas que desconhecem a palavra “fronteira”no dicionário e os paulistas do francisco, el hombre é uma delas. Formada pelos irmãos Sebastián Piracés-Ugarte e Mateo Piracés-Ugarte, o conquistou em pouco mais de cinco anos um legado que impressiona.

Depois de dois EPs, Nudez (2013) e La Pachanga!, os paulistas lançaram seu primeiro álbum cheio com uma base de fãs que o posicionou como uma das mais interessantes nomes desse “novo rock”, que de novo não tem nada. Basta ouvir o álbum SOLTASBRUXA, disco que foi aclamado como um dos melhores de 2016 e acabou rendendo à banda uma turnê por Cuba, onde registrou um documentário que em breve chegará ao público mostrando toda essa incursão do grupo.

Com uma sonoridade que bebe de praticamente tudo o que é produzido no continente mais inventivo do mundo, o som do francisco, el hombre cabe nas mais diversas prateleiras. E baseado nessa experimentação tão bem-sucedida, esse grupo tão rock, tão punk, tão folclórico e tão ousado se tornou atração de um festival que explora esse tipo de coisa, o Lollapalooza Brasil 2018.

Prestes a escrever mais um capítulo de sua história, o francisco, el hombre conversou com o Passagem de Som sobre tudo o que aconteceu com a banda nos últimos anos. Falamos com o baixista e vocalista Rafael Gomes sobre como tudo isso resultou no Lollapalooza, festival que promete realizar sua maior edição  nas próximas semanas.

A participação no Lollapalooza
Rafael Gomes: Pra gente festival é sempre legal! É que nem festa de aniversário, junta um monte de amizades e revê gente que não encontra todo dia, sabe? A gente espera que no Lolla não seja diferente. Vamos tocar no mesmo dia que os parceiros do Braza. Estou super na expectativa dos shows do Milky Chance, Metronomy e o Anderson Paak.

É muito bom fazer parte de um line up desses, esperamos que os artistas e o público venham de peito aberto pra música daqui, que esse ano está super bem representada!

Um festival que investe na pluralização de gêneros musicais
Rafael Gomes: Vai ser nosso primeira experiência em um festival com essas características! Com as bandas brasileiras que vão estar presentes, a possibilidade de trocas é muito frutífera. Vai ser um prazer receber a galera de fora e só podemos desejar que eles não se assustem com nosso calor humano.

Quero muito ver o show do Anderson Paak – Baita música classuda que ele faz! E dançar infinitamente com a Sofi Tukker.

O intercâmbio na América do Sul
Rafael Gomes: Para nós é muito perceptível que o Brasil vive uma fase de abertura pra cultura latino-americana. Falta muuuito por caminhar ainda, mas é legal ver que todos os nichos tem estabelecido essa relação. Seja a gente, seja a Anitta e o Safadão! O Festival Mucho! foi um exemplo muito lindo de festival valorizando justamente esse intercâmbio. Mais ações de integração precisam acontecer.

Espero que festivais maiores como o Lollapalooza e Rock in Rio tenham, um dia, um line up que traga nomes como Residente e Panteón Rococó em pé de igualdade com nomes como Morrisey e Gorillaz, sabe? Uma semana antes do Lolla esses vão ser os headliners do Vive Latino, onde a gente toca na Cidade do México.

A música nos tempos atuais
Rafael Gomes: A música é uma ferramenta de comunicação. Se em algum momento somos partimos para o embate e somos provocativos, é porque – infelizmente – nem sempre existe uma outra forma de abrir diálogo.

Nas nossas músicas expressamos o que sentimos e pensamos. Nunca existiu pretensão alguma de sermos âncoras de qualquer vertente política. Dizer o que a gente sente do mundo é quase que uma missão enquanto músicos, seja pra uma plateia de dez amigos em uma sala de estar ou frente a 50 mil pessoas desconhecidas. A gente procura ser tão sincero conosco quando estamos no palco como procuramos ser em qualquer outro espaço cotidiano. A política é só um viés da vida e que não deveria ser ignorado.

Identidade musical
Rafael Gomes: A gente inventa um nome diferente pra cada vez que perguntam pra gente que tipo de mistura a gente faz, mas se um dia alguém tiver um nome melhor dos que os nossos, pode ser que a gente englobe ele também! Eu não tenho uma ideia certa de como soam nossas músicas pra outras pessoas, sei o que tenho vontade de tocar quando pego o baixo na mão.

Temos muito do Rock e principalmente do punk dentro da gente, mas a música precisa ser dinâmica e aberta o suficiente pra se transmutar junto à sociedade que a rodeia.

Imaginar uma música que não se renova é não imaginar música. Infelizmente, existem vertentes do rock que não aceitam isso e preferem repetir padrões estéticos e pensamentos que já não fazem mais sentido. Preferem dizer que o rock morreu a gastar 20 minutos de vida pra achar uma banda nova que lhe agrade na internet. É muito enriquecedor se nutrir de uma gama cultural diversa como podemos fazer hoje em dia, especialmente com a concretização da internet. Se der vontade de enfiar um batidão de funk com uma guitarra psicodélica, não vemos motivo algum pra não fazer!

A força do disco físico e dos shows para uma banda
Rafael Gomes: Eu ainda acredito no olho no olho e no boca-boca. Antes da nossa música tocar na novela, já haviam pessoas cantando as músicas no show. Por muito tempo, não sabíamos muito bem gerenciar redes sociais e não tínhamos grandes veículos de comunicação interessados no nosso trabalho, mas nem por isso a gente deixava de fazer música, essa sempre foi a essência.

É incrível saber que nossas canções são compartilhadas em grupos virtuais, receber fotos de frases pixadas ou tatuadas, tanto quanto saber que alguém de fora do círculo social em que a gente vive teve a chance de nos conhecer através de meios que nunca nem imaginávamos alcançar, como a mídia tradicional!

Existem muitas formas de se divulgar um trabalho artístico e cada um deles vai atingir um determinado público, que por sua vez vai acabar tendo certas características de pensamentos, sabe? Tão importante como se nutrir dos pensamentos que te rodeiam é se abrir pro outro e tentar entender outras visões de mundo. Dá pra ser um artista e viver disso sem sair do bairro, sem nunca ter uma matéria impressa com seu nome ou pode se trilhar um caminho por grandes mídias, mas cada escolha vai alterar a essência da arte. Nós aprendemos muito com a época em que tocávamos na rua e tenho uma admiração enorme por toda a galera que tanto nos ensinou nesse período! Bom, se a gente acredita tanto na nossa música e queremos justamente abrir esse canal de comunicação através das oportunidades que o caminho nos dá.

A experiência da turnê em Cuba
Rafael Gomes: Eu espero que as pessoas já tenham tido o tempo de repensar alguns comentários que líamos na internet sobre Cuba na época em que fomos pra lá. Tanto que brincamos com a expressão “vai pra Cuba” e esse foi o nome do projeto. Espero mais ainda que pessoas que seguem com tais preconceitos contra um país tão lindo como Cuba se permitam assistir o documentário, assim que ele for lançado.

Como o Brasil ou qualquer outra nação, Cuba tem uma série de dificuldades e problemas, mas existem questões ali que vamos demorar ainda muito tempo pra atingir por aqui. Foi maravilhoso estar em um lugar onde o medo de andar na rua é algo surrealmente inexistente. Pra alguém que vive em São Paulo é muito impressionante passar duas semanas em um lugar que não tem moradores de rua. As pessoas que acreditam que vivem uma realidade maravilhosa e se sentem bem em criticar um sistema político que mal conhecem ou entendem, mal imaginam quanta diferença essas características fazem no sorriso fácil de todo mundo que cruzou nosso caminho ali!

O francisco, el hombre pós-Lolla
Rafael Gomes: Dois anos foi um ótimo tempo de maturação pra aprender com aquilo que gestamos no SOLTASBRUXA. Estamos em um processo de composição que tem mostrado pra gente mais do que conseguiríamos racionalizar sobre o que aprendemos nos últimos anos. Estamos procurando experimentar mais do eletrônico que nos faz mexer o corpo, quanto a sujeira e agressividade do punk que moveu nossas adolescências.

O resultado final me deixa ainda muito curioso, mas é assim que tem que ser. A música é um espírito vivo que nos alimenta, esperamos poder seguir aprendendo com ela dia após dia.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

Tagged In:#El Hombre,
You may like
Loading
svg