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Entrevista LABIRINTO

28 de fevereiro de 20198 min read

Verdadeiro patrimônio do post metal nacional, o Labirinto está de volta com Divino Afflante Spiritu, disco que é especial por vários motivos. O primeiro deles, é sem dúvida, a qualidade do som da banda, que não cansa de evoluir e segue reforçando o bom momento do gênero no Brasil; o segundo, sem dúvida é a presença de Agnus Dei, primeira faixa com vocais da história do grupo.

Reconhecido internacionalmente, o Labirinto segue mergulhando cada vez mais profundo na busca de novas sonoridades e elementos que deem forma ao som do grupo. Para se ter ideia, em Divino Afflante Spiritu, além da já tradicional avalanche sonora do grupo, é possível perceber cânticos e rezas praticadas por oradoras religiosas envolta por ambiências e ruídos fantasmagórico, como na faixa Vigília. Com produção assinada pela baterista do grupo, Muriel Curi, que contou com o apoio do produtor sueco Magnus Lindberg (Cult of Luna), o disco foi mixado e masterizado por Magnus no Redmount Studios em Estocolmo.

E com tanta coisa acontecendo na vida do grupo e um novo álbum pronto para ser divulgado, o Passagem de Som conversou com Erick Cruxen sobre tudo o que envolve Divino Afflante Spiritu.

O lançamento de Divino Afflante Spiritu e a primeira faixa com vocais
Erick Cruxen: Divino foi o álbum que mais gostamos do resultado. Quando compusemos a faixa Agnus Dei, imaginamos uma linha vocal nela. Resolvemos convidar a Elaine Campos, pois já a admirávamos em outras bandas que ela cantava, e pelo seu posicionamento politico (feminista e anarquista) que compartilhamos. Pra gente foi muito natural esse processo, e possivelmente, poderemos repeti-lo em futuras composições.

O momento atual da sociedade e como isso reflete na música da banda
Erick Cruxen: Tudo que fazemos é política. Tanto em nossa vida social, como nas artes e cultura em geral; não existe neutralidade. Nunca pensamos no Labirinto apenas como estética, ou um aglomerado de músicos. Nossa preocupação sempre foi transmitir no que fazemos o nosso posicionamento sobre a sociedade e as relações que temos com ela. Seja materializando tais sentimentos, em música, projetando imagens em nossas apresentações, ou nas artes que engendramos em nossos discos ou pôsteres de shows. Não conseguimos separar as coisas, pois elas estão imbricadas. Levamos todo esse contexto para o disco novo.

As condições de apresentar um show multimídia
Erick Cruxen: Somos muito privilegiados em poder transitar em diversos espaços de shows que, inicialmente, não são destinados ao nosso tipo de som. Tocamos em muitos lugares que nos oferecerem uma estrutura muito bacana, onde podemos oferecer uma apresentação agradável para quem assiste. A banda tem bastante gente (sexteto), utilizamos muitos equipamentos, que sempre levamos para as apresentações. É sempre uma peregrinação.

Trabalhamos com estúdio de música, algo que facilita muito, mas já tocamos em muitos espaços minúsculos e estruturas precárias nesses 14 anos de banda. Certamente, esse é um processo que faz parte e é necessário para todas as bandas.

O crescimento do público de música experimental no Brasil
Erick Cruxen: Existe um público ávido por essa proposta “torta” de música. A internet possibilitou a descoberta e a divulgação de artistas do mundo inteiro com uma rapidez e facilidade avassaladora. Mas por outro lado são nos shows e tours que os artistas e o público podem realmente vivenciar a música em toda plenitude. Os álbuns conceituais, no caso do Labirinto, ganham maior relevância, em nossas apresentações, onde além da música há projeções, e toda sinergia do palco.

Creio que estamos caminhando e algumas coisas estão melhorando. Novas bandas, público mais exigente, eventos surgindo. O problema é que para gente no Brasil tudo é mais difícil; produzir um disco, comprar equipamento, espaços de show com boas estruturas, organizar festivais e turnês. É possível, mas tudo é mais complicado e caro. Quando começamos no início dos anos 2000 era bem pior, mas graças, principalmente, ao “faça você mesmo” muitos conseguiram produzir muitas coisas relevantes no país.

A música atemporal do Labirinto
Erick Cruxen: Muito interessante isso. Sempre nos perguntam se mudamos o som, se nos tornamos mais pesados e densos. Creio que sim, mas dentro de um processo natural. Nada foi planejado ou inteiramente intencional.

Para um ouvinte mais atento, a tensão e densidade já estão presentes no Anátema. Talvez, de outra forma, com outros elementos. Existe beleza em Divino Afflante Spiritu, mas de uma forma menos dócil, digamos. Nossas músicas reproduzem o que somos hoje sem deixar de refletir o que vivemos antes. Está tudo lá, da forma mais sincera e transparente possível.

O diálogo com outras manifestações artistas depois da apresentação com a poetisa Maria Giulia, no SESC.
Erick Cruxen: Para nós, foi uma satisfação enorme, pois o Labirinto nunca foi apenas música e estética, sempre teve um balizamento ideológico, onde podemos manifestar nossas relações com a sociedade na qual vivemos, seja pela música, imagens, textos. É muito gratificante.

Quando fomos convidados pelo SESC a participar do projeto e conhecemos a poesia engajada e densa da Maria Giulia, topamos na hora. Foi algo diferente e desafiador, pois criamos um set especial para o evento. Aprendemos muito nos preparando para essa apresentação, que nos deixou extremamente emocionados! Além do conteúdo do livro dela, a forma que engendramos as composições nos despertou uma carga emocional muito grande durante os shows.

Labirinto e a relação com a tecnologia no palco
Erick Cruxen: Antes de qualquer definição, o Labirinto é uma banda experimental, desde a sua gênese. Gostamos de testar equipamentos, instrumentos, tipos de sons. É uma pesquisa interminável de sonoridades; por isso tentamos sempre usar e aprender com as novidades tecnológicas, mesclando-as com instrumentos tradicionais e orgânicos como a percussão, algo que não é tão usual no post metal.

Futuro
Erick Cruxen: Estamos realizando os shows de lançamento do álbum novo. Em março vamos realizar uma série de apresentações pelo Brasil com a banda estadunidense Rosetta. Em maio partiremos para uma nova tour pela Europa, onde tocaremos no Pelagic Fest.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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