Verdadeiro patrimônio do post metal nacional, o Labirinto está de volta com Divino Afflante Spiritu, disco que é especial por vários motivos. O primeiro deles, é sem dúvida, a qualidade do som da banda, que não cansa de evoluir e segue reforçando o bom momento do gênero no Brasil; o segundo, sem dúvida é a presença de Agnus Dei, primeira faixa com vocais da história do grupo.
Reconhecido internacionalmente, o Labirinto segue mergulhando cada vez mais profundo na busca de novas sonoridades e elementos que deem forma ao som do grupo. Para se ter ideia, em Divino Afflante Spiritu, além da já tradicional avalanche sonora do grupo, é possível perceber cânticos e rezas praticadas por oradoras religiosas envolta por ambiências e ruídos fantasmagórico, como na faixa Vigília. Com produção assinada pela baterista do grupo, Muriel Curi, que contou com o apoio do produtor sueco Magnus Lindberg (Cult of Luna), o disco foi mixado e masterizado por Magnus no Redmount Studios em Estocolmo.
E com tanta coisa acontecendo na vida do grupo e um novo álbum pronto para ser divulgado, o Passagem de Som conversou com Erick Cruxen sobre tudo o que envolve Divino Afflante Spiritu.
O lançamento de Divino Afflante Spiritu e a primeira faixa com vocais
Erick Cruxen: Divino foi o álbum que mais gostamos do resultado. Quando compusemos a faixa Agnus Dei,
imaginamos uma linha vocal nela. Resolvemos convidar a Elaine Campos,
pois já a admirávamos em outras bandas que ela cantava, e pelo seu
posicionamento politico (feminista e anarquista) que compartilhamos. Pra
gente foi muito natural esse processo, e possivelmente, poderemos
repeti-lo em futuras composições.
O momento atual da sociedade e como isso reflete na música da banda
Erick Cruxen: Tudo
que fazemos é política. Tanto em nossa vida social, como nas artes e
cultura em geral; não existe neutralidade. Nunca pensamos no Labirinto
apenas como estética, ou um aglomerado de músicos. Nossa preocupação
sempre foi transmitir no que fazemos o nosso posicionamento sobre a
sociedade e as relações que temos com ela. Seja materializando tais
sentimentos, em música, projetando imagens em nossas apresentações, ou
nas artes que engendramos em nossos discos ou pôsteres de shows. Não
conseguimos separar as coisas, pois elas estão imbricadas. Levamos todo
esse contexto para o disco novo.
As condições de apresentar um show multimídia
Erick Cruxen: Somos
muito privilegiados em poder transitar em diversos espaços de shows
que, inicialmente, não são destinados ao nosso tipo de som. Tocamos em
muitos lugares que nos oferecerem uma estrutura muito bacana, onde
podemos oferecer uma apresentação agradável para quem assiste. A banda
tem bastante gente (sexteto), utilizamos muitos equipamentos, que sempre
levamos para as apresentações. É sempre uma peregrinação.
Trabalhamos com estúdio de música, algo que facilita muito, mas já tocamos em muitos espaços minúsculos e estruturas precárias nesses 14 anos de banda. Certamente, esse é um processo que faz parte e é necessário para todas as bandas.
O crescimento do público de música experimental no Brasil
Erick Cruxen: Existe
um público ávido por essa proposta “torta” de música. A internet
possibilitou a descoberta e a divulgação de artistas do mundo inteiro
com uma rapidez e facilidade avassaladora. Mas por outro lado são nos
shows e tours que os artistas e o público podem realmente vivenciar a
música em toda plenitude. Os álbuns conceituais, no caso do Labirinto,
ganham maior relevância, em nossas apresentações, onde além da música há
projeções, e toda sinergia do palco.
Creio que estamos caminhando e algumas coisas estão melhorando. Novas bandas, público mais exigente, eventos surgindo. O problema é que para gente no Brasil tudo é mais difícil; produzir um disco, comprar equipamento, espaços de show com boas estruturas, organizar festivais e turnês. É possível, mas tudo é mais complicado e caro. Quando começamos no início dos anos 2000 era bem pior, mas graças, principalmente, ao “faça você mesmo” muitos conseguiram produzir muitas coisas relevantes no país.
A música atemporal do Labirinto
Erick Cruxen: Muito
interessante isso. Sempre nos perguntam se mudamos o som, se nos
tornamos mais pesados e densos. Creio que sim, mas dentro de um processo
natural. Nada foi planejado ou inteiramente intencional.
Para um ouvinte mais atento, a tensão e densidade já estão presentes no Anátema. Talvez, de outra forma, com outros elementos. Existe beleza em Divino Afflante Spiritu, mas de uma forma menos dócil, digamos. Nossas músicas reproduzem o que somos hoje sem deixar de refletir o que vivemos antes. Está tudo lá, da forma mais sincera e transparente possível.
O diálogo com outras manifestações artistas depois da apresentação com a poetisa Maria Giulia, no SESC.
Erick Cruxen: Para
nós, foi uma satisfação enorme, pois o Labirinto nunca foi apenas
música e estética, sempre teve um balizamento ideológico, onde podemos
manifestar nossas relações com a sociedade na qual vivemos, seja pela
música, imagens, textos. É muito gratificante.
Quando fomos convidados pelo SESC a participar do projeto e conhecemos a poesia engajada e densa da Maria Giulia, topamos na hora. Foi algo diferente e desafiador, pois criamos um set especial para o evento. Aprendemos muito nos preparando para essa apresentação, que nos deixou extremamente emocionados! Além do conteúdo do livro dela, a forma que engendramos as composições nos despertou uma carga emocional muito grande durante os shows.
Labirinto e a relação com a tecnologia no palco
Erick Cruxen:
Antes de qualquer definição, o Labirinto é uma banda experimental,
desde a sua gênese. Gostamos de testar equipamentos, instrumentos, tipos
de sons. É uma pesquisa interminável de sonoridades; por isso tentamos
sempre usar e aprender com as novidades tecnológicas, mesclando-as com
instrumentos tradicionais e orgânicos como a percussão, algo que não é
tão usual no post metal.
Futuro
Erick Cruxen: Estamos
realizando os shows de lançamento do álbum novo. Em março vamos
realizar uma série de apresentações pelo Brasil com a banda
estadunidense Rosetta. Em maio partiremos para uma nova tour pela
Europa, onde tocaremos no Pelagic Fest.