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Entrevista MARCIO GRINGS (Memorabilia Blues)

12 de março de 201915 min read

A música só é tão fabulosa porque dentro de toda manifestação artística há também os seus heróis. Gente que faz aquilo que ama e dessa forma realiza algo muito maior que a própria difusão de algo. Quando pensamos em Márcio Grings, um desses desbravadores do mundo da música, pensamos em qualidade, pensamos em paixão, pensamos em ideais que mantém essa chama tão viva que é impossível passar inerente às suas realizações. E dessa vez surge uma das mais impressionantes, a realização do Memorabilia Blues, evento que coloca a charmosa cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no mapa do blues nacional de forma definitiva!

Utilizando como estandarte o bordão – o blues está de volta a Santa Maria – o Memorabilia Blues no Plataforma 85 insere a cidade de forma definitiva no mapa do blues com atrações que farão a alegria do público até o mês de dezembro. No line up nomes expressivos do blues americano e da América do Sul. Nessa terça-feira (12) quem escreve seu nome na história da cidade é nada menos que Willie Walker, músico que estabeleceu uma ponte bem pavimentada entre o blues e o soul.

Todas as informações sobre o Memorabilia Blues, como ingressos, atrações etc podem ser conferidos diretamente no site do evento, em https://www.gringsmemorabilia.com.br/2019/02/memorabilia-blues-no-plataforma-85-o.html, lá Márcio Grings conta tudo em detalhes sobre um evento que merece todos os elogios, mas antes de conferir essas informações não perca tempo e confira nossa conversa com Márcio, que conta aqui vários detalhes sobre a realização do Memorabilia Blues!

A realização do Memorabilia Blues
Márcio Grings: Bicho, em primeiro lugar – eu tenho orgulho em dizer que trabalho com música há 30 anos. Jápassei por lojas de discos, rádios, atuei com bandas (no palco e atrás do palco), e há anos escolhi essa posição de outsider da produção cultural. O Memorabilia Blues no Plataforma 85 nasce vitorioso antes mesmo dele acontecer. Há um sentimento de realização em construir um calendário anual de artistas de blues fora do eixo Rio/SP e distante da capital do RS. Estamos no meio do estado, numa cidade com cerca de 300 mil habitantes, trazendo a Santa Maria nomes do blues nacional, sul-americano e estadunidense.

O conceito está todo amarrado, há o aporte do Platataforma 85, um bar localizado num ambiente histórico daqui, a extinta Estação que esteve ligada a um dos mais importantes entroncamentos ferroviários do Rio Grande do Sul, fundada em 1885. Também angariamos patrocínios para custear o projeto, com isso, tivemos tranquilidade para colocar o bloco na rua e tornar todo o ambiente propício para plena concretização do evento.

O grande feito do Memorabilia Blues é estrar realizando um calendário anual de atrações ligadas ao blues em um bar, no interior do país, com o Aeroporto Internacional mais próximo a quatro horas de ônibus daqui.

A curadoria do Memorabilia Blues e a vinda de Willie Walker
Márcio Grings: Nasceu de um constante contato de produtores oferecendo artistas do gênero. Através de uma parceria com o Clube do Blues (Porto Alegre) e com o produtor argentino Adrian Flores, em cerca de dois meses de negociação montamos um calendário anual de atrações, recolocando a cidade no roteiro dos shows gringos no RS.

Sobre Willie Walker, o que dizer? Ele simplesmente está concorrendo a artista do ano pelo Blues Music Awards. Trata-se de um dos autênticos representantes do legado do Memphis Soul. Estamos começando com o pé direito. E Lil’Jimmy Reed representa uma outra escola tradicional do blues. Estamos o aguardando ansiosamente.

A força do blues na América do Sul e a vinda de artistas do continente para o Memorabilia Blues
Márcio Grings: Acredito que o Brasil sempre fechou a porta para esse intercâmbio com outros países de nosso continente, talvez pelo fato de não falarmos espanhol, o que eu acho uma desculpa ridícula. Tenho certeza que isso seria uma das portas fundamentais para desobstruirmos as vias de acesso, e o Memorabilia Blues já nasce com essa vocação, afinal, o blues é o mais cosmopolita dos gêneros. Há vários artistas ligados ao gênero no Uruguai, Argentina e Chile, alguns deles passarão por aqui.   

A relação de Santa Maria com a música
Márcio Grings: Assim como o MDBF nasceu dentro da ideia e conceito de um bar, o Memorabilia Blues também surge na sombra de um bar, o Plataforma 85. Santa Maria é uma cidade com vocação cultural, repleta de talentos e um local que sempre protagonizou eventos relacionados à cultura. Vale lembrar que antes do Mississippi Delta Blues Festival se tornar um dos maiores eventos musicais do blues no Continente, Santa Maria já tinha um festival do gênero rolando por aqui – O Cesma in Blues, que aconteceu de 2001 até 2009, trazendo nomes de peso do blues nacional e internacional para a cidade. Nessa mesma época, havia 5 ou 6 bandas de blues locais que circulavam pelos bares de Santa Maria. Na verdade estamos retomando essa curva que acabou sendo desviada do nosso roteiro nos últimos anos.

A glamourização do blues
Márcio Grings: Eu acredito que erroneamente o blues muitas vezes esteja associado a algum tipo de glamorização. É uma maldita contradição que assombra o gênero, pelo menos aqui no Brasil. Nossa ideia é realmente oferecer esse acesso ao público daqui, afinal, R$ 60 (ingresso solidário com doação de um kg de alimento) é um valor super ok para eventos desse porte, ainda mais com artistas de fora do país.

De todo o modo, também há modalidades para quem pode pagar um pouco mais, oferecendo a esse outro público a possibilidade de assistir aos espetáculos no conforto de uma mesa. Precisamos fechar a conta, equalizar os custos e também receber um retorno desse trabalho, afinal, eu vivo de produção cultural, é meu ofício, assim como o bar não é uma instituição filantrópica. Por outra via, sim, acredito que estamos fomentando a cena, viabilizando ao público local a possibilidade de assistir apresentações que muitos deles nunca teriam a oportunidade de presenciar. E isso é uma verdadeira alegria, meio que justifica nosso protagonismo na área cultural. 

A música além dos grandes centros
Márcio Grings: Vitor Ramil, que há mais de 20 anos escolheu morar no interior do RS, em Pelotas, diz algo interessante sobre isso. Na verdade, estamos no centro de outra realidade, somos uma região que praticamente ignora

as fronteiras entre três países – Brasil, Uruguai e Argentina. Nós somos trânsito constante dos países do Prata, e apesar de sermos brasileiros, o cruzamento da cultura gaúcha com esse países é muito próxima. Nos sentimos mais irmanados a essas culturas platinas do que ao sentimento do Brasil Tropical, por exemplo. O frio, o chimarrão, a milonga, são alguns exemplos dessa equidade. É mais atrativo e rentável muitas vezes cruzar a fronteira e ir a Montevidéu ou Buenos Aires do que ir a São Paulo. Eu acho que coisas como essas explicitam nosso sentimento… Estamos no centro cultural de outro universo.

Os voos além do Memorabilia Blues
Márcio Grings: Eu, e Alfredo Giardin, dono do Plataforma e idealizador do Memorabilia Blues ao meu lado, mais Pablito Diego (Há Cena), o cara da comunicação do Projeto, por muitas vezes refletimos sobre isso. Olhar para esse espectro, o rastro de luz que isso deixará na cidade é fantástico. Certamente novos frutos irão brotar. O pensamento e a gestação de uma festival é algo que já nos vem mente. Certamente esse festival teria que abraçar nosso sentimento do blues como algo local, sul-americano, mas também com trânsito de artistas norte-americanos e jogando a bola para as bandas daqui. Quem sabe em 2020…

A viabilização do Memorabilia Blues
Márcio Grings: Fazer isso acontecer não foi difícil. Foi muito fácil. O que para mim não deixou de ser surpreendente. Dois motivos – acredito eu, foram fundamentais. Se tudo desse errado, o aporte do Plataforma já nos dava a tranquilidade para executar o evento. Mas o melhor de tudo é que o Memorabilia Blues foi extremamente bem aceito pelos empresários. Em poucas semanas captamos o necessário para tocar o projeto em frente. E certamente mais patrocínios virão.

A função social do Blues
Márcio Grings: Sabe, acredito que a bandeira de protesto nunca pode ser arriada. A arte cumpre com essa função de eterna vigília. No final, a arte sempre vence. Eu acredito que alguém não precisa gostar de blues e de música negra para perceber a importância desse legado na história da cultura mundial. E quando na próxima terça-feira Wilie Walker cantar “A Change is Gonna Come” na estreia internacional do projeto, não tenha dúvida, essa é a prova de que semente do ativismo de caras como Sam Cooke continua germinando entre nós.   

A vinda de Whitney Shay e a presença feminina no Blues
Márcio Grings: A Whitney tem tudo para explodir na música internacional. O último disco dela é sensacional! Imaginar que ela irá cantar em nosso quintal é realmente impressionante. Além dela, outra cantora, a porto-alegrense, Luana Pacheco, também está confirmada em nosso line-up, nome com credenciais para brilhar longe daqui. Eu acredito que o blues se desvencilhou dessa imagem viciada do guitar hero. O blues vai muito mais além do estereótipo.

A questão didática do Blues
Márcio Grings: Eu comecei a escrever sobre música principalmente para não sepultar as minhas próprias lembranças. Sou um ativista dessa prática. Eu acho que as novas formas de consumo musical, de um modo sistemático não estão apenas matando a indústria, mas principalmente liquidam o próprio público.

Sinto falta de jornalismo musical de qualidade, e atualmente carecemos do material físico – revistas, CDs, LPs, quase tudo hoje se detém ao virtual. Precisamos de aprofundamento, conteúdo, um constante olhar sério sobre atividade musical. Afinal, música para nós é algo muito sério, é um processo intelectual, que transforma vidas. Não concorda?

Memorabilia Blues daqui para frente
Márcio Grings: Gostaria de ver a casa cheia na próxima terça-feira. Seria fantástico, até por que estaremos recebendo um nome maiúsculo da música norte-americana. Willie Walker vai nos emocionar, tenho certeza.

Daqui pra frente? Muito trabalho para acertar todos os detalhes até a última apresentação em dezembro. Afinal, é um barato essa vida dedicada a música. Engraçado (hehehe), por um lado, me sinto afortunado em fazer o que amo, por outro lado, sei que ‘ a ferrugem nunca dorme’, por isso, nada de deitar em berço esplêndido. Então, mãos a obra, esse é o mantra que ouço em minha mente.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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