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Entrevista SAMIAM

2 de novembro de 201710 min read

Não se trata de qualquer banda. Formada em Berkeley, California, os veteranos do Samiam são considerados um dos verdadeiros pilares do chamado post punk/indie rock. Com uma história que se cruza com nomes como Bad Religion e Green Day, coincidentemente no Brasil nesse fim de semana, o grupo americano fez história em três décadas de carreira com clássicos como Capsized e She Found You.

No Brasil pela terceira vez na carreira, o Samiam é velho conhecido do público brasileiro, estreando aqui em 2002, quando uma tour histórica com o Garage Fuzz e depois retornando em 2009.

No Brasil para a 2ª edição do Rock Station Festival, que acontece em SP, além de uma apresentação no Rio de Janeiro, o Samiam traz na bagagem uma empolgação e descontração poucas vezes vista nas bandas que passam pelo país, algo que se reflete bem na ótima entrevista com o guitarrista Sergie Loobkoff, realizada pelo Passagem de Som e que você confere agora, a seguir!

O retorno ao Brasil
Sergie Loobkoff: Nós viemos ao Brasil duas vezes no passado e nos divertimos muito! Quando estamos em uma turnê assim e encontramos pessoas que lembram da gente nós temos certeza que todos os anos de dedicação que tivemos não foram desperdiçados, até por que em um dia normal as pessoas poderiam simplesmente esquecer de uma banda como o Samiam.

Quando tocamos nos Estados Unidos ou na Europa é diferente de países da América do Sul, Japão ou Austrália porque isso não é comum na nossa carreira. Os shows em si são parecidos, mas encontrar as pessoas, provar a comida e ver como é a vida em outros países é algo que nos deixa muito animados. O Brasil é um país muito divertido e lindíssimo, nós sempre ficamos ansiosos quando retornamos ao país. Fora isso é uma sensação indescritível quando voltamos a um país e as pessoas se lembram de nós, gritam por nós e curtem a nossa música. Agradecemos sempre a todos que foram nos ouvir, inclusive aqueles que não gostaram (risos).

A importância de um disco físico hoje
Sergie Loobkoff: Eu pessoalmente não coleciono CDs, não tenho toca-discos ou qualquer aparelho para ouvir música na realidade, nem mesmo K7, como tem rolado atualmente (risos), mas gosto muito do formato do LP por causa da arte. Eu sou um designer gráfico e fiz a arte de algumas bandas (www.slappedtogether.com) e esse tamanho de disco é sempre motivador para se produzir algo. Agora falando sobre a qualidade de cada formato e a relação com o digital… claro, sabemos que no digital é mais baixa, mas tenho mais interesse nas palavras do que nas melodias que elas têm. Uma música ruim em vinil é muito pior que uma ótima canção em uma fita K7, certo?

A ligação com as bandas e o público brasileiro
Sergie Loobkoff: Nós realizamos uma turnê com o Garage Fuzz e tocamos com o Dead Fish em nossa segunda turnê. Eu poderia considerar o Alexandre Cruz ( chamado também de Sesper ou Farofa) e o Rodrigo (vocal do Dead Fish) meus amigos… ainda que a gente não se veja com frequência (risos), mas eles são ótimos caras, assim com o restante dos integrantes das bandas. Nós também já tocamos com ótimas bandas brasileiras como o Zander, Mono e algumas outras.

É claro que o idioma é uma barreira nessa comunicação com o público, mas a música é algo tão universal… e você percebe o sentimento que as pessoas têm quando estão cantando elas nos shows, então não é mais um problema. Acho maravilhoso quando as pessoas entendem essa nossa mensagem ao vivo. Eu teria muito ódio e ficaria desapontado se interpretassem a gente errado, por isso somos transparentes ao vivo, as pessoas entendem o que queremos dizer quando ouvem a banda.

O colapso da indústria fonográfica e a relação com a mídia
Sergie Loobkoff: Durante nossa carreira tocamos algumas vezes em rádios e TV, mas o Samiam nunca foi grande para representar essa grande mídia. Nós crescemos como uma banda de garagem e isso não faz diferença para nosso público. De fato nós nunca nos preocupamos em ser tão performáticos nesse sentido, então se você não ouve esse tipo de som que fazemos é provável que tudo pareça chato. É o oposto de banda que se especializam em ser verdadeiros canais de entretenimento e fazem a música algo secundário, baseado somente nas performances.

Houveram mudanças com a chegada da internet porque as ótimas pequenas bandas puderam mostrar seu trabalho ao mundo e encontrar as pessoas que estavam buscando o seu tipo de música. Uma vez que somos uma banda de garagem, nós não dependemos da música para sustentar nossas famílias, então o fato de ganhar pouco dinheiro com isso é ok. É claro que eu gostaria de viver de música, mas é fato que não é fácil e para nós está tudo bem.

O papel da música em um momento turbulento social
Sergie Loobkoff: Eu acredito que seria arrogante da minha parte dizer que nossa música pode fazer algo nesse momento. Acredito que a música traz as pessoas para próximo uma das outras e pode inspirar muito a todos, mobilizando e proporcionando ótimas mudanças em alguns casos.

O Samiam é uma banda modesta com muito pouca influência. O melhor que podemos proporcionar é trazer um pouco de felicidade àquelas pessoas que estão dispostas a prestar atenção em nós. E nós somos agradecidos diariamente por essas pessoas se interessarem na gente.

Eu gostaria de dizer que criamos uma marca na história do punk/postpunk em sua história. Talvez ela não seja tão significativa quanto as grandes bandas, mas ela também é importante. Eu sou realmente feliz por ter visto bandas como Operation Ivy, Dead Kennedys, Circle Jerks, Bad Brains, Husker Du… e incontáveis outras bandas que jovens hoje não tem a chance de ver, mas que estão diante de um novo momento e com novas banda a serem vistas.

A nostalgia é uma coisa estranha e as pessoas tem uma tendência em tentar recriar a história buscando criar novos marcos e alcançar o mesmo respeito de outras épocas. Acho que o punk vive forte hoje e muitas bandas têm esse talento e vontade de tocar. Talvez essas bandas do passado não possam mais ser recriadas… mas as bandas novas sempre apresentarão novos elementos para marcar época o tempo todo.

Durante e após a turnê
Sergie Loobkoff: Primeiro e mais importante que tudo, queremos fazer um show e dar às pessoas o melhor de nós. Depois queremos comer muito de alguma ótima comida brasileira e sair para ver um ou dois macacos em algum parque, mas tem algo especial… eu sempre quis ver ao vivo um dos meus animais favoritos: UMA CAPIVARA! Acredito que isso seja difícil né? Agradecemos por todo interesse pelo Samiam e nos vemos no Brasil!

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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