Uma artista, muitas cores, muitos ritmos, muita arte! É dessa forma que podemos definir a obra de Vanessa Bumagny, que lançou em 2022 o bom Cinema Apocalipse. Dona de uma carreira de três décadas, a artista paulista tem uma enormidade de trabalhos que vão muito além da música. Atriz, Vanessa também foi responsável pelo projeto Shakespeare, Sonetos e Canções, onde sonetos de Shakespeare são musicalizados e estudados em palco.
Intensa, tem em sua sólida discografia uma amálgama musical que vai além do que se vê e se ouve. Sem medo de investir em novas sonoridades e experimentos visuais, conversou conosco sobre tudo isso em uma grande entrevista.
A essência de Cinema Apocalipse
Vanessa Bumagny: Sobre não perder a essência, eu acho que é algo totalmente inconsciente, que não controlo, mas que talvez possa ter a ver com os produtores sensíveis que escolho, eles me ouvem e abraçam as minhas ideias sem deixar de propor e trazer sua própria essência também, gosto dessa mistura, da colaboração real, e com o Rafael Castro tivemos uma interação profunda e produtiva, ele me desafiou e me sacou, deixou que eu me expressasse e trabalhou para ressaltar a minha arte.
O Zeca Baleiro diz que sou triste e concordo com ele em parte, eu diria que sou mais bipolar (risos). Algo em mim é muito melancólico e talvez até por isso eu precise me agarrar às tábuas de esperança que flutuam no mar de vez em quando, quero ter força pra lutar pelo que eu acredito e muita música exala isso, espero!
A produção de Cinema Apocalipse
Vanessa Bumagny: Eu adorei fazer esse disco, ele me fez muita companhia durante o tempo sombrio do isolamento, só tenho a agradecer o Rafa e o clima que ele soube criar de parceria, respeito, escuta, fora que ele é uma explosão de talento, então era uma alegria atrás da outra, uma descoberta atrás da outra. É tudo que um artista mais quer e precisa. Às vezes ele me desafiava a sair da zona de conforto, às vezes eu desafiava ele, muita troca criativa e muita emoção.
Prateleiras musicais e a parceria com Fernanda Takai
Vanessa Bumagny: Eu não consigo muito me ver ou entender nessas prateleiras, mas gosto de observar como os outros acabam me enxergando. Alguém disse que a Fernanda Takai é um doce vulcão, eu achei lindo e certeiro, acho que sou um também! (risos).
A Camila Lordy, artista que admiro muito e que vem trabalhando comigo em vários projetos desde 2019 – e também com o Patofu e trabalho solo da Fernanda – fez a ponte entre nós. Foi aos poucos e de um jeito muito natural trabalhar com a Fernanda só me fez admirá-la ainda mais como artista e pessoa. Ainda sobre prateleiras, nesse mundo em que a gente ouve tanta coisa diferente, nossos trabalhos devem estar cada vez mais múltiplos, então acho que as prateleiras podem correr o risco de deixar muita coisa de fora, porém confesso que ser referência do rock nacional é algo que me envaidece, adorei!
Atriz com A maiúsculo
Vanessa Bumagny: Eu sou atriz e estou com saudades do teatro, o projeto do Shakespeare (intitulado Shakespeare, Sonetos e Canções, onde sonetos de Shakespeare são musicalizados e estudados em palco) é para virar uma peça, uma ópera-rock, uma volta pra esse meu lado que ficou um tanto esquecido.
A verdade é que a minha cabeça não para de criar, minha alma não para de se emocionar, duro é fazer tudo isso ficar em pé e se realizar, mas depois de dois anos presa em casa eu quero desesperadamente botar meu bloco na rua!
Vivendo de arte
Vanessa Bumagny: Um ato de rebeldia e de uma certa teimosia cega, se você colocar no papel a conta não fecha, mas a alma se deleita. A hora que você está no palco trocando e transcendendo com as pessoas, é como se tudo valesse a pena e vale, arte não combina com grana e lucro e essas coisas mundanas, mas artista tem que pagar boletos, essa contradição é dura de administrar na vida, mas eu tenho tido sorte de conseguir apoios ultimamente e muita força pra trabalhar, eu trabalho para caramba.
Plataformas digitais e o disco cheio
Vanessa Bumagny: Eu gosto de lançar singles, dar carinho especial para uma canção, fazer o clipe dela, falar mais profundamente, então como não vamos lançar LPS compactos como se fazia antigamente (é muito caro), o streaming cumpre um papel interessante. Mas o álbum é o livro. A canção é a crônica, no livro tudo se desenvolve mais e no álbum também, são duas maneiras de chegar no som.
A faixa Cinema Ilusão: sua amálgama e suas experiências
Vanessa Bumagny: A gente se acha nesse mundo, né? As almas se reconhecem e eu agradeço todos os dias pelo encontro com esses grandes artistas e por eles estarem há décadas na minha vida pessoal e musical enriquecendo, desafiando, somando.
A importância da linguagem visual na música
Vanessa Bumagny: Talvez por ser atriz e ter começado a estudar teatro, até antes de estudar música, eu sempre tenha visto a minha arte como algo que acontece no palco, ou seja, no audiovisual mesmo, então eu me sinto à vontade para passear também pelo vídeo, para ser a atriz desses vídeos, para contar as histórias com o corpo todo e não só com a palavra, a voz. A pandemia me deu a possibilidade de criar vídeos para as canções e de ver que posso criar imagens em vídeo, agora ninguém me segura!
Futuro
Vanessa Bumagny: Eu vou batalhar para realizar a ópera-rock do Shakespeare, estamos procurando alguém para dirigir e eu mesma estou selecionando textos das peças, estudando, lendo muito. Também estamos preparando um clip para Tudo está bem e uma releitura do álbum Refestança a convite de um artista que admiro muito, o João Pinheiro. E quero conseguir levar o Cinema Apocalipse para o máximo de palcos e ouvidos que puder, ou seja, muito trabalho pela frente!