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Entrevista VERA LOCA

19 de julho de 201714 min read

Desde que o Passagem de Som entrevistou a banda gaúcha Vera Loca pela última vez, muita coisa mudou.

Oriunda de uma região famosa por ter revelado ao país algumas de suas principais bandas de rock, a Vera Loca deixou de ser mais um aspirante nome do underground para se tornar uma realidade dentro de uma cena que não para de revelar grandes nomes nos últimos anos. Formada por Fabrício Beck (vocal e guitarra), Hernán González (Guitarra), Filipe “Mumu” Bortholuzzi (Contrabaixo), Luigi Viera (Bateria) e Diego Dias (Teclados), o grupo lançou em 2013 seu CD e DVD Ao Vivo, um marco na carreira do grupo.

Houve nesse caminho um álbum acústico até o “retorno” com o ótimo A Certeza de Como Valeu Navegar Nesse Mar, disco que traz de volta composições inéditas de uma banda que conseguiu se aproximar de uma forma tão intensa de seu público. E é baseado nesse trabalho e muitos outros assuntos que Fabrício Beck falou com o Passagem de Som novamente.

Um novo álbum de estúdio após projetos ao vivo e um acústico
Fabrício Beck: Nós lançamos aquele álbum gravado ao vivo no Bar Opinião, em Porto Alegre, e tínhamos a intenção na época de em um ano ou um ano e meio gravar um novo trabalho de inéditas. Acabou acontecendo a situação e lançamos esse disco acústico gravado no Theatro São Pedro, também em Porto Alegre, enfim. Nós acabamos lançando dois discos ao vivo em um período curto de tempo, sendo que nossa intenção de fato era pensar em algo inédito. Então nesse período nós nunca paramos de compor ou produzir.

Ali por 2015  tínhamos uma base de 30 músicas para botar numa pré e começar a selecionar. Nós ficamos praticamente um ano fazendo pré-produção, algo bem tranquilo, com a produção totalmente nossa, que era algo novo para a banda também. Todos os discos de inéditas tinham um produtor musical e dessa vez fizemos tudo com a banda, fazendo a produção e gravando todas as 30 músicas para selecionarmos essas do disco.

Não gravamos tudo como uma gravação final, mas na pré-produção tínhamos todo o material para selecionar de forma minuciosa, sem aquela batalha contra o tempo. Parece que um artista tem a função de terminar um disco e começar o outro, mas nossa intenção era mesmo fazer algo bem tranquilo e da forma certa.

Os formatos, plataformas e decisões para lançar o álbum hoje
Fabrício Beck: Nós pegamos exatamente essa fase de transição dos formatos nesse período de banda. São mais ou menos dez anos de mudanças, a banda tem quinze de história e lá no início é que tudo isso começava a acontecer.

Nosso primeiro single ainda foi gravado no tempo do CD, mas nós já mandávamos e-mail na época, não sabíamos se a pessoa ia abrir ou tocar… hoje a importância de uma plataforma digital é impressionante, você consegue enviar seu material para o mundo inteiro. Somos de uma geração que isso não existia e hoje o artista não se imagina fazendo uma trajetória sem o uso desses recursos.

Um novo álbum e um legado
Fabrício Beck: Estávamos conversando com um jornalista e falávamos de como a banda amadureceu nesse período todo. Nós tínhamos 16, 17, 18, 20 anos e passaram-se 15 de história. Nós percebemos muita coisa entre nós, a vontade, a gana, aquela determinação que tínhamos 15 anos atrás é a mesma hoje, mas com maturidade. Sempre encaramos de forma muito séria a Vera Loca e hoje posso dizer que nos vemos em um momento muito pleno, tranquilo, de maturidade. Com o tempo tudo isso vai acontecendo e consigo traçar o quanto esse disco novo tem a ver com nossos trabalhos anteriores, mas hoje de uma forma muito plena, madura, o que é natural. Nós escrevemos nosso primeiro disco com 19, hoje com mais de 30 e é só essa questão dos números que vemos de diferença.

A necessidade do formato físico
Fabrício Beck: Eu tenho o vinil, curto muito ouvir ele e acho que esses formatos para plataformas digitais muito legais, masi ainda assim nós lançamos o disco nas plataformas digitais e não via a hora de pegar ele na mão. O disco todo mundo ouve nas plataformas, mas o fã quer comprar o disco, é diferente. Chegou uma imagem para mim um tempo atrás de um fã comprando o disco que chegou em uma loja de Porto Alegre e nem eu tinha ouvido ele ainda (risos). Quando isso aconteceu eu fico realmente insano querendo comprar o meu próprio disco!

A música e o fim dos grandes centros
Fabrício Beck: Há quinze anos atrás, quando a banda foi formada, nós tínhamos uma meta que era lançar um disco e vir embora para São Paulo, que era algo natural para qualquer banda.

Nós não tínhamos noção de como era tudo isso. Hoje é algo que acho desnecessário, claro que as coisas acontecem em São Paulo e é importante estar aí, mas um artista não precisa estar necessariamente na cidade para se projetar nacionalmente. É fato que algumas coisas são facilitadas, mas não é mais como antigamente. Hoje em dia com essa questão de internet você está em todos os lugares de alguma forma.

Não é mais uma intenção da banda, por exemplo, sair de Porto Alegre. Era algo que pensávamos no início da carreira, de sentir o momento de vir para São Paulo, mas hoje há como irmos e voltarmos. Penso que as coisas são assim e acredito que seja um pensamento da própria banda.

A rico rock gaúcho
Fabrício Beck: Temos uma preocupação muito grande com a melodia, que é uma característica muito peculiar aqui no Sul. Buscamos, além das influências do rock inglês, as influências do rock argentino, afinal temos o fato de termos a mesma distância de Porto Alegre para Rio de Janeiro, tanto quando para Buenos Aires. E a música argentina, o rock argentino, é muito rico. Não se trata só de um tipo de música, mas o rock feito na Argentina é muito bom e o músico gaúcho vai atrás disso.

A Vera Loca é uma banda que tem muita influência de artistas como Charly García e temos acesso à música dele. De Porto Alegre é possível irmos até a fronteira da Argentina e do Uruguai para trazer isso desde a época que não havia plataformas digitais. Nosso primeiro contato com o público do exterior também foi por lá, então já tocamos nesses países e vejo que o músico gaúcho tem essa influência de forma natural. De alguma forma o uruguaio também é gaúcho e isso é todo um lance cultural.

O intenso calendário em Porto Alegre
Fabrício Beck: Acho que o calendário vasto só agrega. Vivemos um momento tão complicado para o rock e todas essas turnês agregam muito para a música. Não consigo ver algo ruim ou algum problema sobre isso.

Aconteceu uma coisa curiosa com a gente quando fomos tocar na Argentina uma vez. Já havíamos tocado no interior e no dia em que tocamos em Buenos Aires saiu uma nota nossa no Clarín, que tem um impacto gigante na cidade, e no mesmo dia saiu um caderno noticiando nada menos que a volta do Charly García, que é um dos maiores nomes da história do rock argentino. O cara nem olharia para nossa nota, foi curioso (risos).

A política influenciando a música
Fabrício Beck: A política mexeu com tudo, com todo mundo, é algo geral. No caso de nossa banda todos os cinco têm o mesmo pensamento, mas eu pessoalmente levei um tempo para aprender porque amo a política e sempre vivia postando algumas coisas, até que em dado momento sempre havia alguém me destratando. Aprendi que não devia me expor desse jeito e parei de me manifestar tanto.

O que vejo hoje é tão grosseiro que fica claro que as pessoas acabam mostrando que não tem uma cultura política. Acho que aquele “nós contra eles” devia se dedicar em provar que todos roubaram, mas hoje as pessoas querem olhar de um lado e “ele roubou, tem que ir pra cadeia, mas do outro seguem tratando a pessoa como um Deus”. Isso tudo está complicado, um verdadeiro saco.

Tenho minhas convicções e cansei, não quero arrumar briga gratuitamente. Os artistas da década de 80 vinham de uma ditadura, haviam muitas letras falando disso e era algo muito recente, já hoje em dia eu acho que está tudo meio fora de contexto, o rap está fazendo o que o rock fazia. Parece que hoje em dia fazer uma letra é ousado, na década de 80 o cara fazia um disco inteiro com tudo exposto, eram letras de protesto, hoje não sei… 

Nós temos exemplos bem claros como o Lobão ou o Roger se expondo. O Lobão veio a um show em Porto Alegre e no meio do show um cara levantou e começou a xingar ele de coxinha. Ele levantou, parou a música e foi embora. Criou um puta clima ruim, mesmo que ele buscasse aquilo. Eu parei de postar essas coisas porque quem estava perdendo era eu. Tenho minha posição bem definida, vou em protestos, mas eu não curto muito esse lance de rede social para isso.

Futuro
Fabrício Beck: Agora é tentar chegar em lugares mais longe possíveis com esse disco. Conhecer e tocar em outras capitais porque temos um público graças ao trabalho realizado na internet e existem muitos lugares no Brasil que queremos ir.

Chegar em alguns pontos é complicado por causa da estrutura, mas nossa ideia é essa, temos muita fé que nessa turnê nós vamos conseguir fazer coisas que vínhamos plantando e agora é a hora de colher, que é viajando pelo Brasil. Também viajar muito pelo Sul, onde somos fortes. A intenção é subir e tocar na maior quantidade de lugares possível.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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