Se passaram três décadas e até hoje soa estranho. Para quem passa os olhos pela discografia do Rainbow, banda que foi liderada com punho de ferro pelo guitarrista Ritchie Blackmore, fica difícil entender quais motivos levaram Finyl Vinyl, disco lançado apenas dois anos após o fim do grupo, a se mostrar relevante para tão poucos fãs enquanto segue como um dos poucos registros oficiais da banda inglesa, que construiu alguns dos maiores clássicos do rock durante o fim da década de 70.
Na ativa entre segunda metade da década de 70 e o início da década de 80, o Rainbow sempre teve em seu line up músicos do primeiro escalão do rock. Para se ter uma ideia, Cozy Powell, Jimmy Bain, Don Airey e Bob Daisley, além do lendário Ronnie James Dio, foram alguns dos nomes que deram forma a uma banda que em tempos atuais não conseguiria fugir do rótulo de supergrupo.
Ainda assim, a vida do Rainbow nunca foi fácil. Mesmo com formações que se assemelhavam a verdadeiros esquadrões, o grupo passou por diversas mudanças em seu line up, o que acabou resultado no encerramento de suas atividades em 1984, após o lançamento de Bent Out of Shape, um ano antes.
Com um histórico de grandes apresentações e clássicos que logo se mostrariam atemporais, faltava um registro que escrevesse a última página – ao menos naquele momento – da história do Rainbow. E ela veio com Finyl Vinyl, em 1986, disco que tinha como objetivo apresentar faixas gravadas ao vivo ao longo da década de existência do grupo, além de alguns lados B. Porém o lançamento acabou soando como um improviso capaz de comprometer o próprio legado da banda nos anos seguintes.
Analisando o tracklist de Finyl Vinyl, logo se entende qual a razão do disco ter fracassado na época de seu lançamento. Dono de clássicos absolutos do rock e pela melhor fase da banda, Ronnie James Dio é lembrado somente em duas faixas, ambas no fim do disco. Joe Lynn Turner, último vocal do Rainbow, praticamente dá forma ao registro, que ainda conta com o vocalista Graham Bonnet.
Comparado à intensidade do ótimo On Stage, disco lançado em 1977 logo após a turnê do seminal Rising, Finyl Vinyl escancara um clima de fim de festa poucas vezes visto em uma banda.
A própria capa do disco traz uma imagem registrada por Ross Halfin durante um show do Rainbow em 1982, na Alemanha. Nela apresenta Ritchie Blackmore sozinho sentado próximo ao palco após um show. Além disso, o claro uso de overdubs em faixas como Man on the Silver Mountain e Difficult to Cure macularam a história de uma banda que sempre contou com um line up tão poderoso.
Lançado em 1984, o disco praticamente colocou uma pedra na história do Rainbow, que se perdeu em reuniões e até em um fraco disco de inéditas nos anos seguintes. No intuito de resgatar uma história tão brilhante – e até de ignorar o melancólico fim na década de 80 – Blackmore recrutou o vocalista Doogie White para o fraco Stranger in Us All, já em 1993.
O que se seguiu a partir disso foi um mergulho de Ritchie Blackmore ao lado de Candice Night – sua esposa – em uma vertente completamente distante daquela que o consagrou. Investindo na música barroca, o guitarrista segue até hoje firme no projeto Blackmore’s Night para desespero dos fãs mais antigos.
Foram necessárias quase duas décadas para que um novo século se mostrasse bastante generoso com os fãs do Rainbow. Um bom exemplo foi o lançamento do CD/DVD Live in Munich’77, registro impecável para quem sempre foi fã da banda. Além dele, turnês realizadas durante o fim da década de 70 também ganharam embalagens luxuosas e masterização digital, resgatando o melhor de sua história.
Dessa forma, hoje, três décadas após Finyl Vinyl, o Rainbow contabiliza mais de uma dezena de bootlegs lançados, sendo o último dele o recente Boston 1981, que chega ao público via Cleopatra Records. O bom retorno parece ter sensibilizado Ritchie Blackmore, que parece ter sentido que era hora de dar vida ao grupo uma vez mais.
Sem deixar claro sobre o futuro do da banda, Ritchie convocou o tecladista Jens Johansson, o baterista David Keith, baixista Bob Nouveau e o vocalista Ronnie Romero para algumas apresentações do Rainbow na Europa. O objetivo, claro, é celebrar a história de uma banda que sempre mereceu um capítulo de destaque na história do rock.
Por fim, Finyl Vinyl ainda segue respaldado por parte dos fãs do grupo, tanto que ganhou uma edição de luxo nos últimos anos, ignorando sua irrelevância diante de uma história tão grande e que segue pagando o preço por ter se encerrado de forma tão melancólica na década de 80.