Acompanhe nossas redes sociais

Now Reading: Let All That We Imagine Be the Light: um álbum do Garbage feito de dor e lucidez

Loading
svg
Open

Let All That We Imagine Be the Light: um álbum do Garbage feito de dor e lucidez

1 de julho de 20253 min read

Shirley Manson nunca soou tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão afiada. O novo disco do Garbage, “Let All That We Imagine Be the Light”, é o retrato de um mundo ferido — e de uma artista em plena consciência disso.

Quem acompanha o Instagram do Garbage já deve ter notado algumas coisas — a principal delas é o quanto Shirley Manson, vocalista do grupo, está atenta a tudo o que acontece no mundo. Do falecimento de sua cachorrinha ao genocídio em curso na Palestina, tudo é retratado de forma profundamente humana no perfil da banda, destoando da utopia plastificada comum aos perfis comerciais. Essa postura se reflete com força no sugestivo título de Let All That We Imagine Be the Light, oitavo álbum da banda.

O primeiro single do disco, a densa “There’s No Future in Optimism”, funciona como cartão de visitas para o que está por vir. Os motivos para o título são evidentes — basta ligar a TV —, mas a canção também carrega a experiência pessoal de Shirley, que a escreveu durante sua recuperação de uma cirurgia no quadril. A vocalista já declarou em entrevistas que parte da influência dos remédios e da dor vivida nesse processo está impregnada no disco.

Para quem acompanha a trajetória do Garbage, é possível notar como o som da banda tem se tornado mais denso e carregado — um processo natural, talvez, de acompanhar a maturidade de seus integrantes. Mas o tom sombrio também reflete um desencanto que parece habitar cada um deles.

Dito isso, o fatalismo é escancarado em letras que, ao mesmo tempo, mantêm os temas já tradicionais da banda: empoderamento e política. Não por acaso, o encerramento do disco com “The Day That I Met God” funciona como um gatilho simbólico para uma nova fase — uma espécie de renascimento com resistência como pilar.

Com exceção de faixas como “Chinese Fire Horse” e “Hold”, que dão um gás inicial ao disco, em muitos momentos o Garbage se envereda por canções conectadas pela dor — com camadas de ruído e letras quase sussurradas por Shirley Manson. E ter Butch Vig à frente da produção é essencial para transformar essa angústia em paisagem sonora.

Ainda que não seja o melhor disco da banda, Let All That We Imagine Be the Light é um álbum atento ao presente — quase uma trilha sonora da realidade. O fato de vivermos um tempo difícil se reflete na sonoridade do grupo. Esperar que cada faixa dialogue com os clássicos antigos é também reconhecer e respeitar o momento atual de sua principal protagonista. Nunca estivemos tão próximos de Shirley Manson quanto em suas novas composições.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

svg

What do you think?

Show comments / Leave a comment

Leave a reply

Loading
svg