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Jesuton: sangue inglês… alma brasileira!

20 de junho de 20167 min read

Quem assiste hoje a uma performance da cantora inglesa Rachel Jesuton tem a perfeita noção de estar a frente de uma verdadeira diva da música contemporânea. Nascida em um dos maiores celeiros da música mundial, a inigualável Londres, a cantora de apenas 31 anos vive o auge de uma carreira que ganhou forma nas ruas do Rio de Janeiro, mas que teve sua origem anos antes, durante a época em que criava suas primeiras ligações com a cultura brasileira durante a época em que estudava na cidade de Oxford.

Vivendo em sintonia com a obra de artistas como Stevie Wonder, Rolling Stones e Diana Ross, Jesuton acompanhou de perto o ápice da carreira de Amy Winehouse e sempre teve um pé na música alternativa, influenciada por nomes como Muse e Incubus, algumas das referências do gênero na virada da década.

Ainda assim, o objetivo da artista inglesa não se voltava diretamente para a música. Não ao menos na Inglaterra, país que ela deixou para trás quando teve a oportunidade de trabalhar no Peru em uma ONG dedicada aos direitos indígenas. Ainda em Cusco Jesuton chegou a formar uma banda de reggae sem a pretensão de se tornar uma artista profissional. Essa ideia não permeou sua mente nem mesmo após viagens pelo continente e a decisão de se mudar de forma definitiva para o Rio de Janeiro, já em 2012.

Ligada aos movimentos sociais e com a paixão pela música cada vez mais viva em sua rotina, Jesuton seguiu os passos de milhares que se aventuram pelas ruas da capital carioca, se apresentando regularmente em busca do sonho de viver de seu trabalho com música.

Tudo começou a mudar no dia em que acabou sendo descoberta pela equipe de Luciano Huck, apresentador do Caldeirão do Huck, na Rede Globo. O talento e desenvoltura para alguns dos grandes clássicos da soul music e da música pop renderam uma apresentação no programa e, consequentemente, a mudança na vida.

Contratada pela Som Livre após uma série de propostas, Jesuton se tornou a bola da vez da música brasileira. O primeiro disco foi questão de tempo e ainda em 2012 Encontros foi lançado em CD e nas principais plataformas digitais com versões que logo consagrariam seu trabalho.

O soul de Try A Little Tenderness, famosa na voz de Ottis Redding, e as clássicas Wild Horses, dos Rolling Stones, e Redemption Song, de Bob Marley dividiam repertório com versões de faixas modernas. Muse, James Blunt, Bon Iver e Adele foram alguns deles. O samba O Mundo é um Moinho, de Cartola, é outro que se juntou ao caldeirão de influências da cantora inglesa, que teve seu disco lançado em formato físico, inclusive, na Inglaterra. A ligação com a cultura e os grandes nomes da música brasileira cresceram ainda mais após Jesuton regravar o maranhense Tião Carvalho, com a faixa Us (Nós), que abre seu disco de estreia.

A consagração veio um ano depois, quando emplacou versões de I’ll Never Love This Way Again, de Dionne Warwick, que foi utilizada na trilha sonora de Salve Jorge, além de Holocene, de Bon Iver, para Flor do Caribe, e Because You Loved Me, para Sangue Bom, todas novelas da Rede Globo.

Cada vez mais desenvolta com seu trabalho, Jesuton fez de sua voz uma espécie de coringa para a música. Capaz de explorar as mais sofisticadas vertentes, se enveredou ainda mais por caminhos que transitam pelo jazz, o rock e até a disco, como na versão que gravou em seu segundo álbum, Show Me Your Soul, da parceria entre Nile Rodgers e a dupla francesa Daft Punk.

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Parceira de grandes nomes da música nacional como Ana Cañas e Marcelo D2, com quem trabalhou em seu segundo disco, a inglesa mergulhou de tal forma dentro da música brasileira que fica até difícil definir seu estilo musical. Aliás, basta um olhar mais atento ao título de seu segundo trabalho para perceber que cada registro na verdade trata-se de uma profunda declaração de amor pela música.

Hoje consolidada como uma das grandes artistas do país, Jesuton segue com seu mergulho profundo pelo jazz. Ao lado da banda Afrojazz, a londrina – praticamente brasileira – vem realizando shows onde dá vida ao repertório da lendária Nina Simone, verdadeiro símbolo da música e da luta contra o racismo e a desigualdade de gênero no EUA.

Menos de cinco anos separam Jesuton da época em que se apresentava no Largo do Machado e pelo Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro, mas parece uma eternidade quando narrado diante da quantidade de acontecimentos que sucederam sua primeira apresentação na TV. Fosse contada por um bardo em alguma taverna da idade média e estaríamos diante de uma fábula com final feliz, mas a história ainda está longe do fim… bem longe.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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