Do céu ao inferno e do inferno para a Terra, mas com um olhar diferente para o céu. Dessa forma pode ser definida a carreira do guitarrista americano Jonny Lang, o eterno garoto-prodígio que um dia foi considerado um dos principais responsáveis pela renovação do blues, mas que hoje parece lutar mais por sua alma em vertentes distantes da cena que o consagrou do que propriamente pela garantia de seu nome no panteão dos grandes guitarristas da história.
Fosse o roteiro de um filme, a história de Jonny teria ingredientes suficientes para um final inesperado e permeado por momentos dramáticos, que fizeram da vida do guitarrista nascido em Fargo, na Dakota do Norte, uma verdadeira montanha-russa estabilizada somente com o lançamento de Fight for My Soul em 2013, seu sétimo trabalho de inéditas no ano em que completou 32 anos.
Apaixonado por música desde a infância, Jonny Lang começou a tocar guitarra aos 12 anos e não demorou para chamar a atenção do pai e dos moradores de sua cidade. Acompanhado de perto pelo guitarrista Ted Larsen, da Bad Medicine Blues Band, não demorou para que se tornasse líder de seu primeiro grupo, o Kid Jonny Lang & The Big Bang, com quem gravaria seu primeiro álbum.
Capaz de interpretar com perfeição diversos clássicos de Hendrix e veteranos do blues, o guitarrista americano chamava a atenção por sua capacidade em extrair de seu instrumento uma sonoridade bastante particular, se tornando uma referência no uso vibrato (oscilação realizada na corda enquanto a nota é executada), além de ser exaltado por ter uma voz desproporcional à sua idade. E foi nessa fase da vida que seu talento deixou de vez de ser da pequena cidade de Fargo e começou a conquistar grandes nomes da música nos quatro cantos do mundo.
Smokin, disco que foi lançado de forma independente, trouxe o reconhecimento para o Jonny Lang, que se consagrou de forma definitiva com a sequência formada pelos álbuns Lie to Me e Wander This World, ambos lançados por uma grande gravadora. O reconhecimento de lendas como Buddy Guy e BB King e a aposta na renovação do blues com sua chegada ao maisntream foram somente algumas das conquistas alcançadas pelo guitarrista, que no auge da carreira chegava apenas aos seus 22 anos.
Turnês ao lado de pesos pesados da música mundial levaram Jonny para perto de nomes como Rolling Stones, Aerosmith, Jeff Beck e Eric Clapton, posicionando-o no panteão do gênero. Uma avalanche de conquistas que levou o jovem guitarrista a se apresentar na Casa Branca para o presidente Bill Clinton, em 1999, além da indicação ao Grammy um ano antes.
O garoto-prodígio de Jonny Lang trilhava caminhos inimagináveis para o gênero e o alcançou seu auge acompanhado de tentações. E como resultado de sua falta de maturidade, logo Jonny se viu viciado em álcool e drogas, assistindo de camarote à sua vida mergulhar do céu para o inferno. O blues vigoroso de outrora deu espaço a um pop descartável e performances questionáveis, que pareciam levar o guitarrista a um fim similar a alguns ícones do gênero como Charley Patton e Robert Johnson.
Ciente da decadência na carreira, o guitarrista americano se converteu na virada do século, quando passou a explorar de forma mais efetiva a música gospel e anunciou seu casamento com Haylie Johnson, em 2001.
Long Time Coming, lançado em 2003, obteve bons resultados nos Estados Unidos, mas nem de longe lembrava o garoto-prodígio de alguns anos antes. Ainda em busca de uma identidade, Jonny Lang alcançou bons números com seu lançamento seguinte, Turn Around, chegando a liderar a parada cristã da Billboard, tudo isso alheio ao fato de que se distanciava cada vez mais do blues que o consagrou.
A sintonia entre o louvor da música gospel e o mundo sombrio do blues funcionou novamente no ao vivo Live at the Ryman, primeiro registro ao vivo da carreira de Jonny, que recuperou seu prestígio quase uma década após seu apocalipse particular.
Hoje com 32 anos, Jonny Lang se encontra estabilizado profissionalmente e mais próximo do blues que o consagrou, assim como da religião que o salvou em seu momento mais crítico. E como diz a frase: “Nem tanto ao céu, nem tanto a terra”, o guitarrista americano hoje se vê livre o suficiente para explorar novas vertentes em sua música sem deixar de lado o blues e o mainstream. Seu mais recente trabalho, Fight for My Soul, reflete bem seu atual momento. A ambiguidade do título mostra não só a aproximação da Soul Music, mas a busca definitiva por uma personalidade ofuscada ao longo dos últimos anos. Grandioso e empolgante, mostra que Lang se aperfeiçoou como vocalista muito mais do que como guitarrista, ainda que sua Telecaster Thinline se mostre bastante afiada e comprove sua relevância na cena
Jonny Lang conheceu o céu tão rápido quanto encarou de frente seu mergulho ao inferno, mas viu em sua fase mais difícil a possibilidade de se dedicar a novos caminhos musicais sem comprometer (por completo) um trabalho tão marcante quanto em seus primeiros três álbuns. Ao olhar para o céu em busca de Deus, o guitarrista americano deixou de lado o horizonte de sua carreira, hoje muito mais visível após a estabilidade emocional e até mesmo a maturidade alcançada com o tempo.