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Milkshake Festival: um evento necessário

2 de maio de 20188 min read

Você com certeza já deve ter ouvido falar do Woodstock, talvez até do One Love Concert, ou então assistiu a alguma reprise do belga Tomorrowland e participou de algum dos nacionais Rock in Rio e SWU, claro. Diferentes em suas vertentes e patrocinadores, cada mega-evento sempre nasce de uma proposta que permeia sua atmosfera, decoração e, principalmente, seus ideais.

Talvez nem mesmo os artistas escalados para o evento sejam capazes de comprar tal ideia, mas é impossível desassociar o trabalho social realizado por um grande evento ao longo da história da música. E não faltam exemplos para isso.

Se para alguns o Woodstock foi simplesmente um bando de hippies usando LSD, por outro lado a comoção em torno da luta pela fim da Guerra do Vietnã é o que escreveu seu nome na história. Anos depois o festival Wattstax, realizado pela Stax Records e conhecido como o Woodstock Negro, foi fundamental na luta por igualdade racial nos EUA sete anos após os Distúrbios de Detroit, algo que merece uma pesquisa profunda e que explica bem as transformações na sociedade americana.

Saindo do âmbito americano, as ideias de Sustentabilidade do SWU, a busca de “um mundo melhor” de Roberto Medina e seu Rock in Rio e até o mundo encantado do Tomorrowland tem em sua atmosfera uma ideia que, ao menos ali, é absorvida, restando a cada participante usar isso – ou não – a partir do fim do evento. Claro, nem sempre isso pode dar certo. O One Love Concert organizado em torno da figura de Bob Marley trouxe horas históricas para a Jamaica, mas não teve seu objetivo alcançado, já que a paz entre gangues no país em nada foi apaziguada. Ainda assim a música sempre esteve em primeiro plano pela busca de um mundo melhor.

Fazer a analogia de tudo isso com o Milkshake Festival, evento que chega ao Brasil pela segunda vez em 2018 buscando se consolidar como um dos mais importantes festivais do país, não é difícil. Nascido na Holanda, o maior evento voltado ao público LGBT nasceu a partir do tema “nada é permitido, tudo é permitido”, onde mostra que a escolha da música, moda e entretenimento nada tem a ver com a sexualidade.

Explorando vertentes que vão do pop ao brega e do hip hop ao electroclash, o Milkshake aterrissa no Brasil depois de uma bem-sucedida edição realizada em 2017, mostrando que a diversidade é a bola da vez em país que carece de políticas de combate à homofobia.

Para se ter ideia da situação, o Brasil é o país que mais assassina LGBT´s no mundo. Uma condição alarmante que não segue crescendo a cada ano. Segundo dados da Rede TransBrasil e do Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2016 foram um total de 144 mortes. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016 o número foi de 123, o que colocou o Brasil em primeiro lugar nessa triste realidade, seguido do México.

Dona de uma das Paradas Gay mais reverenciadas no mundo e que movimenta uma cifra de mais de R$ 100 milhões, a cidade de São Paulo tem no evento sua segunda maior fonte de turismo, levando para a Av. Paulista – onde se realiza o evento – a marca de 4 milhões de pessoas.

Por isso a chegada – e consolidação – do Milkshake Festival ao Brasil deve ser comemorada. Não se trata apenas da reunião de ícones da cultura pop atual, mas a chance de mostrar que a tolerância não é a contramão de um país onde a diversidade deveria ser respeitada desde o berço. Amparado por Anitta e Pabblo Vittar, provavelmente os dois maiores nomes do pop atual, o evento holandês aposta, como sempre, na diversidade de ritmos, colocando lado a lado ícones da música eletrônica como Larry Tee, inventor do electroclash, e Preta Gil, uma das artistas mais engajadas pela causa LGBT do país.

Com realização prevista para o próximo dia 2 de junho, véspera da maior parada LGBT do mundo, o Milkshake Festival trará mais de 16 horas com mais de 30 atrações ao Sambódromo do Anhembi, dividido em 4 palcos. Os principais nomes da edição são, além de Anitta e Pabblo Vittar, além de Preta Gil, citados anteriormente, Wanessa Camargo, Gretchen, Gloria Groove, uma legião de DJs nacionais e internacionais e a volta aos palcos do Balão Mágico em sua formação original, celebrando 35 anos de sua criação.

“O Milkshake foi criado para ser uma celebração de todas as sexualidades e gêneros, um lugar onde todos podem ser livres para se expressar em um ambiente seguro sem carregar uma carga sobre seus ombros. Apenas deixando rolar e sendo livres de lutas diárias”, afirma Marieke Samallo, criadora e diretora artística do evento. “Todos são bem-vindos, é uma celebração de amor e tolerância, e se tornou muito maior do que uma festa gay. É como uma utopia, um mundo perfeito: as pessoas são o sal da terra e isso é o que celebramos!”, completa.

Com shows, dança, performances e muita diversão, o Milkshake em pouco se difere dos ideais citados acima em festivais que hoje ocupam a estante de fãs mundo afora. Com seu foco muito bem definido e recheado de artistas de discurso afiado, o festival holandês é um alento em um momento onde a nebulosa intolerância insiste em se alastrar pelo país.

O mundo mudou. A música mudou. E eventos como o Milkshake Festival são mais do que necessários para que o mundo veja que olhar para a frente e pensar em um mundo melhor é mais fácil do que se imagina. Basta se jogar!

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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