Lançado há três décadas, Do You Like My Tight Sweater?, disco de estreia do Moloko, é a própria definição de contramão da história. Ao caminhar pelo trip hop e o downtempo, vertentes notavelmente lo-fi, Roisin Murphy e Mark Brydon construíram um disco para as pistas. E as madrugadas nunca mais foram as mesmas, até para os fãs de Portishead.
Alguns gêneros musicais possuem uma identidade tão marcante que, ao nos depararmos com alguém que se declara fã, rapidamente conseguimos imaginar traços de sua personalidade. Oriundo de cinzenta Bristol, na Inglaterra, o Trip Hop é um deles.
Vertente que fez de nomes como Massive Attack e Portishead alguns dos seus maiores representantes, a cidade ganhou dos fãs um olhar triste sobre como sua atmosfera era capaz de produzir uma música que acabou ao longo dos anos virando sinônimo de “trilha sonora de dias tristes”. E isso não é nada ruim, afinal, ambos os grupos – somados à figura de Tricky – seguem relevantes e fazendo escola até os dias atuais. Mas foi a pouco menos de 300 kilometros dali, em Sheffield, que o mundo descobriu a dupla que daria um novo enfoque para o Trip Hop, o Moloko, que lançou seu álbum de estreia, Do You Like My Tight Sweater?, trinta anos atrás. E fez o mundo fazer o inimaginável, dançar ao som de Trip Hop.
Formado por Roisin Murphy e Mark Brydon (que já havia trabalhado com Boy George e Cabaret Voltaire anteriormente), o Moloko tem em sua essência praticamente todos os ingredientes que levaram o Trip Hop a se tornar a trilha da madrugada repleta de melancolia, mas repleto de ironia.
Diferente de Massive Attack e Portishead, o grupo trazia em sua sonoridade elementos de dance pop, e isso ficou claro logo em seu primeiro single, Where Is the What If the What Is in Why? e a interpretação de Roisin Murphy. Ao invés de mandar seu ouvinte para a cama, a música era um convite à noite. Fun for Me, segundo single, ganhou de vez o jogo e as pistas. O mundo conhecia o Moloko, que tinha seu nome inspirado no leite consumido por Alex em Laranja Mecânica, repleto de narcóticos.
E vários elementos contribuíram para a ascensão do Moloko naquele momento. Ao furar a bolha do gênero, as faixas da dupla logo ganhariam inúmeros remixes capazes de botar qualquer pista pra dançar. Some a isso bons videoclipes, a aparição na trilha de Batman & Robin, talvez o pior filme da série, mas que acabou fazendo do Homem Morcego uma figura até certo ponto engraçada, e pronto. O disco era o hype do momento.
Para se ter ideia, quase metade de Do You Like My Tight Sweater? Ganhou promoção mundial, alternando boas posições em diversos pontos do mundo com quase 250 mil cópias vendidas. Um bom exemplo é a sugestiva Day for Night, que abraçou de vez as pistas de dança.
Os anos seguintes mostrariam a vocação de Roisin Murphy para as pistas, especialmente quando faixas como Sing it Back e The Time is Now apareceram na história do grupo. Ali, já era impossível desassociar a dupla das pistas, algo que se tornaria ainda mais claro com a carreira solo da vocalista.
Lançado há três décadas, Do You Like My Tight Sweater? é um dos muitos filhos bastardos do Trip Hop, provando que é possível, mesmo dentro de uma mesma vertente, construir uma música totalmente diferente e autêntica.
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