Em novo álbum solo, vocalista do Ira! estampa em letras garrafais que não é só rock, mas também não só blues. E abre o leque de oportunidades em Rocksoulblues
Não deveria ser exatamente uma novidade, mas às vezes é necessário soar como se fosse. À frente do Ira! por décadas e vivendo um dos momentos mais especiais da carreira, Nasi lançou nesse início de ano seu novo trabalho de estúdio, o bom Rocksoulblues, disco que estampa suas grandes paixões, ainda que nem precisasse deixar isso claro.
Assim como em seus últimos lançamentos, em especial o bom Perigoso, de 2012, o vocalista do Ira! explora em 8 faixas as vertentes pelo qual sempre foi apaixonado. Parece redundante, mas para quem se ligava em sua carreira solo desde os anos 90, ao lado dos Irmãos do Blues, a impressão que se tinha é que Nasi tinha os dois pés totalmente atolados em um único gênero. E não é bem assim.
Ao melhor estilo Johnny Cash e Eric Burdon, Nasi explora versões de clássicos do Ira! (nesse caso é com Dias de Luta), divide os vocais com a talentosa Nanda Moura e Jeff Berg em O Caveira, faixa de Martinho da Vila composta há mais meio século e presente no álbum Origens, além de uma porção de versões que se aglutinam com rara felicidade.
Trata-se de um disco curto, de menos de meia hora, mas que ao ser desbravado, abre o leque de influências do vocalista e de homenagens a grandes nomes. Dentro do universo de rock, soul e blues de Nasi, Zé Rodrix (que ganha uma versão engraçadíssima de Devolve meus LPs) e Muddy Waters (na nova leitura do épico Rollin’ and tumblin’) caminham lado a lado. É diversão garantida. Até mesmo Erasmo Carlos, em Não Te Quero Santa, surge em uma belíssima roupagem.
Não, não é um disco que vai mudar a sua vida, longe disso. E talvez nem seja essa a ideia de Nasi, mas se torna divertido buscar de onde foi feito o repertório do álbum que celebra – literalmente, afinal, foi lançado no dia de seu aniversário – os seus 62 anos. Um verdadeiro sobrevivente não só do rock, mas da música brasileira.