Acompanhe nossas redes sociais

Now Reading: Nicolas Jaar e a música eletrônica que faz pensar

Loading
svg
Open

Nicolas Jaar e a música eletrônica que faz pensar

15 de julho de 20255 min read

Com viagem marcada ao Brasil em agosto, o músico e compositor chileno-americano apresenta ao vivo as produções do álbum Piedras — um retrato de um mundo orgânico, onde nem sempre dançar é o reflexo do verdadeiro êxtase.

No mundo da música, independentemente do gênero, tudo é fluido. Se transforma de forma contínua, como um rio que desce morro abaixo. Esses movimentos surgem e se cruzam rapidamente, dando origem a novos formatos e — por vezes — a verdadeiras revoluções sonoras. Essa constante é o que move a música. Ainda assim, tamanha intensidade e urgência às vezes esgotam a capacidade da arte de nos fazer parar, pensar e mergulhar num processo de imersão. Diante disso, mencionar o nome de Nicolas Jaar é mais do que parar para respirar — é perceber que já tínhamos parado de olhar para o rio e estávamos ignorando toda a beleza da música em seus mínimos detalhes.

Em tempos em que a música eletrônica vem se tornando sinônimo de superficialidade e repetição, falar de um artista tão minimalista quanto Nicolas Jaar é quase um desafio. Capaz de proporcionar uma imersão digna de gênios como Brian Eno e Vangelis, o músico vem ao Brasil com a turnê do álbum Piedras — que depois ganhou uma extensão chamada Archivos Radio Piedras. Considerado um de seus trabalhos mais experimentais, o projeto é um mergulho profundo no Chile (onde nasceu), na Palestina (referência política constante em sua obra), e em ambientes urbanos que pairam entre o íntimo e o coletivo.

Não é exatamente uma música para dançar — mas você, inevitavelmente, vai bater o pé no chão se estiver disposto a mergulhar dentro do disco. E é aí que mora a genialidade de Jaar.

Dono de sets memoráveis, como o do Sónar 2012, em Barcelona, Jaar conseguiu o improvável: manter um público expressivo imerso em uma música que, por longos minutos, se sustentava apenas no silêncio e na expectativa. Aos poucos, o público — e seu movimento — passou a fazer parte do espetáculo. Foi assim também quando transformou o lendário MoMA, onde nomes como Björk e Kraftwerk já se apresentaram, em uma obra de arte viva. Numa fusão de luzes, batidas e vozes, Jaar fez o que poucos encantadores musicais conseguiram ao longo da história: manter o público suspenso dentro da sua obra.

Mas afinal, quais são as influências de um artista que parece tão complexo? No caso de Jaar, elas vão além da sonoridade. Estão na cultura que o cerca — na natureza, na literatura e num entendimento profundo das tensões sociais. Em sua música, a expressão “nada grita mais alto que o silêncio” ganha corpo. Para fazer dançar, às vezes basta parar e ouvir. São ruídos, fragmentos, frases dispersas que, de repente, se transformam em melodias.

Dono de uma obra mutável, Jaar também lançou Against All Logic, projeto em que assume um alter ego mais dançante, mas com a mesma pegada crua, cortada e instável. Por isso, costuma ser associado à IDM (Intelligent Dance Music), uma vertente eletrônica mais cerebral. Embora possa ser abrigado sob esse guarda-chuva, Jaar se afasta com consciência desse rótulo. Então, não espere um novo Aphex Twin ou Boards of Canada. Ele está em outro lugar.

Com os shows no Brasil organizados pelo sempre inventivo pessoal da Gop Tun, o público vai ter a chance de ver ao vivo — ao vivo mesmo, com músicos no palco — uma performance capaz de abrir os olhos para os bons caminhos da música eletrônica. No caso de Nicolas Jaar, não se trata de música difícil para um público disperso, mas de uma música sensível para quem está disposto a tratá-la como arte.

A viagem vale — e muito — a pena.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

Tagged In:#Nicolas Jaar,
svg

What do you think?

Show comments / Leave a comment

Leave a reply

You may like
Loading
svg