Em um ano onde a música eletrônica brasileira atingiu o auge de sua popularidade e relevância no mundo através festivais como o Tomorrowland, Time Warp e DGTL, que vem se consolidando no país e apresentando line ups cada vez mais impactantes, a cena como um todo vive também outro momento de transição, até mesmo na EDM, tão amparada por artistas do primeiro escalão da música pop.
Dois lançamentos quase simultâneos chamam a atenção nesse último semestre por evocarem elementos até então despercebidos. Da personalidade de seus protagonistas, Kaytranada e Flying Lotus, o que se percebe hoje é a demolição completa do estereótipo de “apertador de botões” criado de forma pejorativa e injusta após o boom do gênero pelas mãos de produtores como David Guetta.
Cada vez mais antenado sobre o que vem acontecendo no underground e cenas emergentes, Kaytranada lançou nas últimas semanas seu novo álbum, Timeless, uma verdadeira aula sobre como é possível conduzir um set dançante sem esbanjar intensidade em 100% do tempo. Isso vale para Spirit Box, do Flying Lotus, outro que deve certamente figurar entre os melhores discos do ano.
Com uma música dançante e que desafia a estética alucinante da EDM, ambos os álbuns trazem como protagonistas artistas negros, oriundos do hip hop e culturas adjacentes que apresentam em suas produções uma avalanche de artistas capazes de transferir todo seu talento em faixas dançantes, cerebrais e repletas de elementos que recuperam novamente a capacidade de apreciarmos música enquanto dançamos.
Muito mais próximos da IDM, sigla de Intelligent Dance Music, que da banalizada fórmula da EDM, macete da indústria para abraçar qualquer vertente possível, esses dois novos lançamentos representam um ponto de virada corajoso pra quem tem como objetivo quebrar o preconceito de uma fatia do público com a música eletrônica.
Disponíveis nas plataformas, os novos álbuns de Kaytranada e Flying Lotus devem fazer a alegria dos grandes festivais no próximo verão do Hemisfério Norte. Ao fazer sua música dialogar com um público maior e transformando-o em algo qualificado, estamos diante de um novo rumo na música eletrônica, que já vem se refletindo mesmo em festivais de calibre do Tomorrowland. Resumindo, estamos voltando a ouvir a música eletrônica como ela é, repleto de alquimistas musicais.
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