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O novo mundo de Marilyn Manson

21 de maio de 20158 min read

Para qualquer um que acompanhou a cena de rock que emergiu durante a década de 90, fica difícil imaginar alguém que tenha chocado tanto como Brian Hugh Warner, conhecido artisticamente como Marilyn Manson.

Seja pelo visual assustador, as composições ou performances avassaladoras, é inegável que Manson conseguiu combinar em seus primeiros álbuns elementos que o tornaram rapidamente em um ícone do rock. Polêmico, o artista americano conseguiu reunir em torno de si uma quantidade tão grande de lendas bizarras (como a de que guardava em seu armário o esqueleto de uma garota vietnamita ,ou de que havia realizado uma cirurgia para retirada de duas costelas afim de realizar sexo oral em si mesmo, ou ainda o boato que persiste até hoje de que era o personagem Paul Pfeiffer da série Anos Incríveis) que nem mesmo a crise da indústria fonográfica conseguiu afastá-lo do mainstream na virada do século.

Ao lado do guitarrista Twiggy Ramirez (que posteriormente faria parte do Nine Inch Nails), Marilyn Manson balançou o mundo do rock com seu segundo álbum, Antichrist Superstar (1996). Ganhou o mundo com a Dead to the World Tour, tornando-se referência para uma geração ausente de um rockstar polêmico e questionador, capaz de “assustar” a pais e religiosos como um dia fizeram nomes como Black Sabbath e Led Zeppelin. Nesse período, o artista chegou, inclusive, a se apresentar no Brasil, realizando um show histórico e cercado de expectativas da mídia em São Paulo.

Figura icônica no fim da década de 90, Manson ainda lançaria o premiado Mechanical Animals (1998) e se tornaria um dos artistas mais premiados pela MTV graças a videoclipes como o de The Dope Show. A terceira parte da trilogia idealizada pelo vocalista e iniciada em Antichrist Superstar ainda traria o ótimo Holy Wood (In the Shadow of the Valley of Death) e seu verdadeiro pandemônio sonoro, atingindo o auge na carreira.

Com popularidade em alta, Manson também provou do veneno da fama nesse período, sendo criticado por autoridades ao ter seu nome citado por jovens em cartas de suicídio ou como influência para atentados como o da Columbine High School, em 1999.

Sempre se defendendo e questionando a cultura americana com um raciocínio que acabou colocando diversas personalidades na parede, o músico mergulhou em uma fase mais introspectiva. O motivo foi seu relacionamento com a belíssima artista burlesca Dita Von Teese, que teve início em 2001 e acabou resultando em casamento em 2004. Nesse período Manson chegou a lançar o irregular The Golden Age of Grotesque (2003), entrando em um hiato de quatro anos sem lançamentos.

O retorno aconteceu com o lançamento do fraco Eat Me, Drink Me (2007), disco que teve como referência o fim de seu casamento com a modelo e que mostrou um vocalista distante de sua fase áurea, mais soturno e menos intenso, além da ausência de seu braço direito, Twiggy Ramirez. A turnê do álbum fez com que vocalista retornasse ao Brasil para apresentações questionáveis, impulsionadas somente pelos clássicos do passado.

Até mesmo as polêmicas envolvendo seu nome pareciam se aproximar mais dos sites de fofoca do que do mito criado anos antes e que acabaria revolucionando a cena. Na maioria dos casos, Manson questionava a qualidade de bandas pop em evidência na época do lançamento de seu álbum. Assim travou duelos desnecessários por meio da mídia, como quando passou a criticar abertamente a banda My Chemical Romance, uma das mais populares da época.

Diante de uma nova realidade, Manson começou a encontrar seu caminho novamente em The High End of Low (2009). Esse disco que acabou colocando-o em boa posição perante a crítica americana, ainda que a vendagem acompanhasse o fraco desempenho da indústria, que começava a descobrir o mercado digital com mais qualidade.

Realizando turnês com maior frequência e marcando presença em grandes festivais, o vocalista tentou resgatar sua essência em Born Villain (2012), disco que dividiu opiniões e marcou o início de uma nova fase de sua carreira após o fim do contrato com a Interscope Records, lançando o álbum através de seu próprio selo, conhecido como Hell, etc.

Vivendo uma fase menos polêmica e ciente de seu papel no mundo do rock, Marilyn Manson retorna nesse início de 2015 com seu nono trabalho de estúdio, o bom The Pale Emperor, que novamente sai através de seu selo e mostra um artista processo final de reconstrução. O projeto também sinaliza outra parceria fundamental para a sua recuperação, ao lado do experiente guitarrista Tyler Bates, que foi responsável, entre outros, pela trilha sonora do sucesso Guardiões da Galáxia, lançado em 2014.

Sem maiores polêmicas e com uma sonoridade que se aproxima bastante do clássico Holy Wood (In the Shadow of the Valley of Death), Manson tem declarado que pessoalmente também se vê tão livre quanto naquela ocasião, o que acabou sendo fundamental no resultado do disco. Com seu primeiro single já lançado, Deep Six é – de longe – a melhor faixa gravada por Manson em mais de uma década.

Tendo como pano de fundo a fábula do demônio Mefistófeles (inspirada na lenda alemã do Dr. Fausto), o músico americano traz de volta as guitarras que o consagraram na virada do século em seu álbum mais roqueiro. Porém, diferente de outrora, o eletrônico dá espaço a um trabalho mais orgânico, refletido em faixas como Day 3 e Fated, Faithful, Fatal. Ainda assim, faixas como The Mephistopheles Of Los Angeles têm tudo para se tornarem bem recebidas em seu repertório.

Marilyn Manson pode até não ter mais a capacidade de chocar as famílias e fazer com que religiosos protestem às portas de seu show, mas ao menos é capaz de garantir um bom disco de rock, sendo flexível e que colocando-se novamente como uma referência em um novo século. Afinal, como disse um dia o veterano Alice Cooper, nada no mundo atual choca mais do que assistir ao noticiário da CNN.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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