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O reencontro de Gwen Stefani

31 de março de 20168 min read

Para uma geração que viu a belíssima Gwen Stefani estourar a frente do grupo No Doubt durante a segunda metade da década de 90, pensar na vocalista como uma das maiores figuras do pop da segunda metade da última década sempre foi algo surreal.

Seja pelo tamanho da produção que suas apresentações em território americano carregavam ou pelas parcerias, Gwen pode até não ter chego ao mesmo patamar de nomes como Beyoncé ou Taylor Swift, mas naquele momento chegou bem perto disso.

O retorno do No Doubt em 2012 com o fraquíssimo Push and Shove talvez tenha sido o grande erro da carreira da loira. No auge da fama, em meados de 2009, a cantora ainda seguia respaldada pela parceria realizada com o rapper Akon e o sucesso de The Sweet Escape, disco que levou o sucesso de Gwen para o continente europeu.

Some a isso o estrondoso single de sucesso de Hollaback Girl, presente em seu disco solo de estreia, Love. Angel. Music. Baby, de 2004, e se torna impossível imaginar quais razões fizeram o já esquecido No Doubt se tornar prioridade na carreira de cantora americana.

Sim, o retorno do No Doubt comoveu o mundo da música naquele momento. Mas entre shows em festivais ao lado de sua banda e um distanciamento cada vez maior de sua carreira solo, Gwen parece ter perdido o último vagão de um trem que nem sempre está disposto a esperar.

O hiato com sua banda era questão de tempo e aconteceu em 2014 através de uma postagem no twitter realizada pelo guitarrista Tom Dumont. Fora de cena, Gwen ainda teve que encarar o fim de seu casamento com Gavin Rossdale, ex-vocalista do Bush, que já durava vinte anos. A ruptura tumultuada afetou o processo criativo da cantora americana, adiando seu próximo trabalho solo e restringindo sua carreira a algumas poucas e já irrelevantes apresentações com o No Doubt.

Com álbum programado para o fim de 2015, Gwen foi obrigada a encarar de frente críticas sobre seus dois singles, Baby Don’t Lie e Spark the Fire, o que a levou a descartar o material e adiar o lançamento do disco, que só aconteceu em março de 2016.

Tudo o que cercou Gwen Stefani durante o período em que assumiu seu bloqueio criativo e absorção das críticas teve ligação direta com seu divórcio. E se Norah Jones um dia canalizou essa decepção no álbum The Fall e Taylor Swift em Speak Now, era a vez da cantora americana rir de sua tragédia para conseguir o combustível necessário para lançar seu álbum mais confessional, This Is What the Truth Feels Like.

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Amparada pelos produtores J.R. Rotem, Mattman & Robin e Greg Kurstin, além de alguns dos maiores compositores da cena pop, Gwen externou praticamente todos seus sentimentos em um disco confessional e repleto de letras ácidas.

Esse processo deu forma a um disco que, se não atende às expectativas de algum nome do primeiro escalão do pop, ao menos recupera a autoestima de uma artista que abraçou o hip hop trazendo a bagagem do dancehall e ska dos tempos de Tragic Kingdon, lançado em 1995 e responsável pela ascensão do No Doubt.

Composto por 18 faixas, This Is What the Truth Feels Like surge como um emaranhado de ritmos que acompanham todas as tendências atuais da música pop. Soa dançante e tem tudo para fazer a alegria de DJs mundo afora, mergulha no hip hop, traz colaborações e investe em uma porção de baladas. E exatamente por isso se perde na tentativa de transpor para o ouvinte o que traz de mais especial, a composição.

Amparada pela boa recepção dos singles de Used to Love You e Make Me Like You, esta última seguramente uma das melhores do disco, o novo registro de Gwen Stefani tenta, mas se perde em um mar de ritmos maior que de emoções. Faixas com potencial como Misery, que abre o disco, soam inofensivas, mesmo dando uma verdadeira aula de produção.

Essa falta de identidade em This Is What the Truth Feels Like fica ainda mais nítida a partir de sua segunda metade, que explora o hip hop em faixas como Asking 4 e Naughty. Ainda que a facilidade com que a cantora americana consiga desenvolver suas rimas por sobre as bases criadas seja digna de aplausos, as faixas soam desconexas e trazem uma artista em busca de reconstrução, atirando para todos os lados.

O que dá segurança para Gwen é justamente o que mais lhe atrapalhou até o lançamento do álbum, Gavin Rossdale. Foco de diversas composições do disco, fica clara a intenção de mostrar que “está tudo bem”. Essa é seguramente a mensagem que mais se perpetua por todo o disco em meio a alguns poucos momentos mais melancólicos.

Gwen dificilmente vai conseguir recuperar o status que alcançou em The Sweet Escape em This Is What the Truth Feels Like, mas se coloca de pé de forma definitiva. Com uma boa turnê de divulgação e um hiato menor entre um álbum e outro, não há dúvidas de que Gwen pode soar novamente tão imponente quanto na capa de seu segundo álbum, mas hoje ela parece tímida, acuada e tentando se reconstruir a partir de uma grande decepção.

Com o primeiro passo dado, Gwen parece mostrar que superou a separação com Gavin Rossdale, o que já lhe dá segurança para seguir firme em seu retorno ao mainstream.

Já para o No Doubt fica difícil imaginar o que vem pela frente. Sem um álbum e figurando como coadjuvante por onde passa, o grupo que fez história na década de 90 pode se tornar cada vez mais uma lembrança para os fãs e sua vocalista, disposta a assumir novamente sua posição na música pop de forma similar àquela estampada na capa de Love. Angel. Music. Baby.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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