Pioneiro na fusão entre jazz e hip hop, o lendário grupo do Brooklin está de volta após mais de três décadas sem um trabalho de inéditas. Here We Go Again, como o próprio nome sugere, parte de onde o Steatsasonic havia parado… e segue sendo revolucionário.
Houve um tempo em que a originalidade do hip hop foi amplamente questionada. Ali no início dos anos 80, quando o The Sugarhill Gang lançou o clássico Rapper’s Delight e travou uma batalha surreal com o hitmaker Nile Rodgers, do Chic, tudo era acusado de ser uma cópia com roubo de samples. Uma impressão desmontada com o tempo e que ganhou um novo capítulo com Talkin’ All That Jazz, faixa lançada pelo Steatsaonic em 1988 e que trouxe pela primeira vez uma fusão entre o jazz e a vertente recém-chegada. Tudo isso com instrumentação, o que deu ao grupo o pioneirismo nesse processo. Esse preconceito só seria derrubado de vez com o lançamento da série Jazzmatazz, do rapper Guru, nos anos 90, mas antes disso a indústria sacou que já havia algo diferente acontecendo.
Ao mostrar o quão heterogêneo pode ser o hip hop, o Steatsasonic estourou com o álbum In Full Gear. Após ele, Blood, Sweat & No Tears serviu para uma turnê de despedida que acabou lhe jogando em um hiato de décadas e que somente agora, após tanto tempo, volta a dar as caras. E com Here We Go Again o grupo resolveu assumir seu lugar na história e mostrar que certas coisas não envelhecem e certas fórmulas se renovam e abrem novas portas para um mundo da música muito diferente da época em que estouraram.
Passou muito tempo, mas mesmo em hiato, não foi difícil reconhecer onde alguns de seus membros estiveram presentes nesse período. Prince Paul segue sendo o arco da flecha de De La Soul, com quem também fez história em álbuns seminais na cultura pop. Já Daddy-O pode ser encontrado em encartes do Red Hot Chili Peppers e Mary J. Blige, se tornando referência em estúdios. São projetos de cada um dos membros que valeriam por si só uma matéria. O fato é que em 2020, quando se reuniram para um single em homenagem ao rapper e beatboxer Biz Markie, o grupo resolveu voltar de vez. E aconteceu.
Here We Go Again tem tudo o que se espera do Steatsasonic. Pode ser um disco de hip hop tanto quanto um disco de rock. Pode ser até mesmo de música eletrônica se quiser. No caldeirão do grupo, é como se Rage Against the Machine e Chemical Brothers falassem a mesma língua, o que de certa forma é verdade. Com o boom da música eletrônica, o som produzido no fim dos anos 80 ganhou as pistas do mundo e Talkin’ All That Jazz é até hoje uma das faixas mais sampleadas no planeta. Imagine hoje, com o universo pop sendo praticamente devoto desses produtores? Fato é que logo com Message in our Music, faixa que abre o disco, o velho – e novo – Steatsasonic está de volta.
Repleto de feats, o disco transita entre tudo o que você ouviu nos últimos anos na música pop e serve como uma caixa de pandora do hip hop para a música pop. Rico em todo seu instrumental, que pauta a história do grupo, a auto exaltação e referências históricas em Lolita e (Now Y’all Giving Up) Love são algumas das faixas mais expressivas desse trabalho, que não soa arrogante ao dispensar a reverência que seus produtores tiveram ao longo dos anos e apostar em letras mais simples, como em Handled, onde as batidas e trompas caminham lado a lado. Algo impensável naquela época e tão normal no hip hop hoje em dia. Ironicamente, em todo o álbum, mesmo com ótimos MCs em ação, é o instrumental que surpreende.
Em pouco menos de 1h, Here We Go Again soa como aquela banda de rock ou artista de jazz que ficou anos sem lançar algo, mas nunca desapareceu do seu radar. Mais que objetivos comerciais, o principal foco do disco é celebrar. E diferente de quando surgiu, em que achavam que tudo era artificial no hip hop, o Steatsasonic mostra que não existem paredes para quem tem tanta criatividade.
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