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Os 15 anos da estreia da Cachorro Grande

15 de julho de 20167 min read

á faz quinze anos e nos acostumamos a vê-los como uma banda “da nova geração”. Culpa de quem? Com uma batata quente dessas na mão para resolver, basta olhar para o ano de 2001, período em que a indústria fonográfica vivia seu pior momento – no que diz respeito aos negócios – para entender um pouco da razão do primeiro disco da Cachorro Grande ser celebrado até hoje.

O rock vivia um período de vacas magras. Enquanto uma nova cena se moldava para dominar o mercado nacional, em especial o emocore, no exterior o new metal vivia uma ascensão capaz de causar calafrios e estranheza ao público mais conservador. Em paralelo a isso, em Porto Alegre, a Cachorro Grande começava a ganhar forma em meio a uma avalanche de bandas buscando seu lugar ao sol.

Você talvez não tenha ouvido falar nesses nomes, mas Malvados Azuis, Locomotores e Gabardines e Os Efervescentes foram algumas das bandas que tiveram em seu line up integrantes daquele que seria a Cachorro Grande. Para se ter ideia, o próprio guitarrista Marcelo Gross chegou a tocar bateria na banda de Júpiter Maçã, figura respeitada em nível nacional por seu trabalho a frente do TNT e Os Cascavelletes, entre muitas outras coisas.

Tocando juntos há dois anos, desde 1999, se preparou e decidiu lançar o primeiro álbum como banda. Trabalhando com Thomas Dreher, produtor famoso da cena gaúcha por ter trabalhado com nomes como Graforreia Xilarmônica e Acústicos & Valvulados, a Cachorro Grande teve em sua primeira formação o vocalista Beto Bruno, o guitarrista Marcelo Gross, o baterista Gabriel Azambuja e o baixista Jerônimo Bocudo.

Inspirado por Stones, Beatles, The Jam e Kinks, o primeiro disco da banda foi gravado de forma independente e em um momento de transição bastante complexo. Não havia internet capaz de garantir o compartilhamento de arquivos. Para “ajudar”, as vendas de álbuns chegavam a níveis assustadores e gravadora alguma ousava investir naquele momento em uma banda que andasse na contramão do rock da virada do século.

Sem uma tiragem alta de seu álbum de estreia, a Cachorro Grande viu deu disco passar por um fenômeno similar ao que aconteceu anos antes com o grupo Mamonas Assassinas.

Sem um acesso fácil ao disco oficial, não era difícil conhecer algum amigo afortunado que tivesse em casa um gravador de CDs e realizasse a cópia do disco. Com uma capa simples a passível de um xerox, muita gente sabia que tinha em mãos algo que não poderia encontrar nas lojas.

Para uma geração de pouco que hoje completa 30 e poucos anos, essa era a verdadeira pirataria. E não faltam exemplos de bandas que acabaram vendo sua música rasgar estradas Brasil afora nesse formato. Pouco tempo depois a Cachorro Grande fecharia contrato com a Deckdisc para a distribuição divulgação da banda, mas é inegável o impacto que esse processo “boca-a-boca” teve na divulgação do grupo durante seu início.

Aos poucos, a Cachorro Grande saiu do Rio Grande do Sul. Viu pessoas de outros estados cantarem sua música – sem ela tocar nas rádios – e embarcou para vários festivais alternativos. Invadiu os grandes centros.

Em seu homônimo álbum de estreia, a banda gaúcha foi mais do que uma novidade. Enquanto seus shows chamavam cada vez mais a atenção, era possível perceber que sua imagem funcionava tanto quanto um alento para a geração passada como uma esperança para o futuro. Como um grupo perdido no tempo, viu seu visual retratar uma época que muitos fãs não viveram, mas longe da nostalgia conseguiu se garantir com riffs explosivos e letras fáceis, o que – naturalmente – fez a diferença.

Hoje, 15 anos depois, qualquer fã de Cachorro Grande – e até alguém que virou a casaca no meio do caminho – é capaz de reconhecer os acordes de Lunático ou Sexperienced. E o motivo disso é simples: tudo aconteceu naturalmente. Era possível ver que entre as melodias de Beatles, a fúria do Kinks, o blues dos Stones e a atitude do The Jam estava o núcleo Cachorro Grande. Quem não aumentava o volume ao som de Pedro Balão, Debaixo do Chapéu e Lili?

Daí em diante novas referências foram surgindo. O lançamento do segundo álbum pela revista de Lobão, a OutraCoisa, consolidou a banda de forma definitiva no rock nacional. O que aconteceu daí para a frente é história. Ao ler tudo isso e imaginar o que se seguiu nos anos seguintes, teríamos um roteiro para um filme.

A projeção nacional, a influência para novas bandas e as conquistas se misturam entre erros e acertos, riffs e novos álbuns. Se mistura principalmente à consagração de ter realizado a abertura da última turnê dos Rolling Stones em seu estado.

Hoje um roteiro inimaginável, a história da Cachorro Grande parece impossível de ser repetida. O mundo mudou e a música mudou, mas eles estão lá. E tudo começou como devia ter começado. Naturalmente. Como sempre foi o rock and roll.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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