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Os 20 anos de “Are You Gonna Go My Way”, de Lenny Kravitz

13 de outubro de 20147 min read

Esqueça o artista que se tornou garoto propaganda de uma infinidade de marcas de óculos e roupas ao redor do globo. Esqueça também o perigoso flerte com o pop após ser considerado a figura mais cool da música em eleições de revistas de moda e que resultou em colaborações para o cinema e o distanciamento da música. Ou então esqueça a sequência infeliz de álbuns após o lançamento do regular 5, disco de 1998. Não, esse não é o verdadeiro Lenny Kravitz.

Considerado um dos artistas responsáveis por captar a estética entre a música negra da década de 60 e o pop no início da década de 90, Lenny Kravitz celebrou em 2013 vinte anos de sua maior obra, o seminal Are You Gonna Go My Way, disco que já vendeu mais de 4 milhões de cópias e ganhou uma edição especial recheada com outtakes e faixas inéditas no último ano, sendo lançado no Brasil agora em 2014.

Terceiro álbum da carreira do artista americano e detentor de um Grammy, Are You Gonna Go My Way sucede outro álbum clássico de sua discografia, Mama Said, lançado dois anos antes e que vinha embalado por hits como It Ain’t Over ‘til It’s Over e Always on the Run, além de uma vendagem de 2 milhões de álbuns. Naquele momento o mundo da música acompanhava o expressivo avanço do grunge e o boom do britpop com lançamentos de Oasis, Nirvana e bandas que definiriam o rock nos anos seguintes. Porém, em contraponto ao momento de maior ebulição da música nas últimas três décadas, Lenny Kravitz teve tranquilidade para produzir seu novo álbum graças à vendagem de seus dois primeiros registros e a confiança das gravadoras após sua ascensão e a de nomes como o Living Colour, o que levou o artista americano a atuar em uma estrada bem mais calma quando comparado aos movimentos que dominavam o mainstream, tudo isso aliado ao fato de lidar na época com uma sonoridade única, mergulhando de cabeça no funk e do soul e trazendo ao rock algo novo, ainda que não fosse responsável por uma cena como seus conterrâneos.

Diferente de seus dois primeiros álbuns, Are You Gonna Go My Way tem um dos inícios mais explosivos da carreira de Lenny com sua faixa-título, mas se ampara muito mais em baladas como Believe, Just be a Woman e Heaven Help, onde Lenny segue o caminho trilhado em Mama Said e confirma sua paixão soul music. O rock soa mais evidente em faixas como Is There Any Love in Your Heart, responsável por algum dos melhores momentos do álbum e que evoca o timbre cru de Jimi Hendrix na guitarra de Lenny, proporcionando uma verdadeira miscelânea de gêneros dentro de uma embalagem pop, pronta para ganhar o mundo.

Pérolas como Sugar e Sister são dois dos exemplos que mostram o porquê de Lenny ter sido um dos melhores de sua geração, ainda que tenha se seduzido com o alcance que sua música tenha ganho nos anos seguintes. Acima de qualquer suspeita, o multi-instrumentista americano soube como poucos colher as melhores qualidades de nomes como Curtis Mayfield e Hendrix e misturar com nomes consagrados na indústria pop como o enigmático Prince.

O declínio de qualidade de sua obra contrasta com todo material adicional escolhido para figurar na edição comemorativa de Are You Gonna Go My Way, que mostra algumas das gravações da época e um artista que parece só entrar dentro da embalagem pop quando lapidado para a última gravação. Com solos longos e uma sonoridade mais difícil, logo surgem faixas que poderiam facilmente figurar no disco homenageado, caso da inédita Spinning Around Over You, lançada como lado B de Heaven Help na época do lançamento do álbum. Brother é outro caso onde Lenny está livre das amarras e desempenha um groove fora do normal, abraçando o funk e lidando com uma música mais próxima de sua realidade, como em B Side Blues.

O relançamento com tanto material extra de Are You Gonna Go My Way pode servir para Lenny Kravitz tanto quanto a parceria de Ben Harper com Charlie Musselwhite foi benéfica para Ben, que voltou a engatar bons lançamentos e garantiu seu retorno aos estúdios ao lado do Innocent Criminals nos próximos meses.

Atualmente Lenny se encontra com um novo álbum, Strut, e ainda que carregue toda esfera pop que o consagrou nos últimos anos, parece finalmente trazer os riffs de outrora e um vigor acima da média como em sua faixa-título, o que já é um alento para um artista que parecia fadado a cair no esquecimento musical e condenado muito mais a ser lembrado por seus trabalhos em outras mídias. Explorar um álbum clássico como o terceiro registro de Lenny Kravitz não é só um trabalho de nostalgia para lembrar o quanto uma época significou musicalmente para um artista, mas mergulhar fundo em alguém que parece ter refletido o suficiente para ver que muito mais difícil que chegar no topo musicalmente é se manter lá sem abrir mão de sua essência.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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