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Phil Manzanera e Andy Mackay | Genialidade 24h por dia

23 de novembro de 20235 min read

Em mais uma das parcerias mais eficientes do mundo da música, integrantes do lendário Roxy Music derrubam as paredes de gêneros musicais em um disco que caminha por extremos. Tão extremos que a genialidade da dupla provavelmente só poderá ser medida quando não estiverem mais entre nós. E eles não se importam nem um pouco com isso.

Existem artistas que são revolucionários. Alguns foram e outros seguem sendo, ainda que o mainstream insista em deixá-los em uma espécie de geladeira. Esses lendários todos sabemos, Hendrix… Jeff Beck, também conferimos esporadicamente a genialidade de David Gilmour, Clapton, enfim. E existem aqueles que a cada ano conseguem proporcionar novidades e discos que mereciam mais atenção, caso de Phil Manzanera, guitarrista e um dos fundadores do Roxy Music ao lado do saxofonista Andy Mackay, com quem lançou o ótimo AM.PM recentemente.

Conhecido muito mais pela balada More than This, aparentemente nunca se compreendeu todo potencial do Roxy Music. Considerando um expoente do movimento art rock dos anos 70, o grupo liderado por Bryan Ferry (que também parece ser muito mais conhecido por uma balada, Slave to Love) foi importantíssimo na criação de bandas como o CHIC, de Nile Rodgers, ou o próprio KISS. Seja pela estética ou sonoridade, fato é que o grupo que tinha, além do próprio Bryan, Phil Manzanera e Andy Mackay em seu  line up caminha até hoje obscuro, mas com seus integrantes produzindo sem parar. E no mais altíssimo nível.

Se reunindo esporadicamente – a última delas em 2022, quando completou 50 anos de história – o Roxy Music é o tipo de banda que não guarda mágoas. Talvez até por isso seus integrantes raramente sejam lembrados, até mesmo quando fazem ótimos trabalhos. Phil Manzanera, que ao lado de Mackay relançou nesse mesmo 2023 o ótimo Roxymphony, com versões repaginadas de clássicos da banda ao lado de uma orquestra em uma atmosfera quase irresponsável e maluca, resolveu aprofundar essa viagem em AM.PM, um disco que começa e termina de formas tão antagônicas quando o dia e a noite, o que talvez justifique o seu título.

De antemão: não é um disco fácil, mas vale a pena. Parece rock, ambient (que vem fazendo a alegria dos produtores) e até jazz. Em alguns momentos, parece até um disco de música eletrônica. Mas em todos os momentos, as mãos de seus protagonistas guiam seu ouvinte por uma viagem muito bem conduzida, numa fusão de sax e guitarra tão improvável que acaba dando certo, como em Newanna e Ambulante. Diferente da ideia de disco como trilha de sala de espera, o instrumental AM.PM tem muito a oferecer, mas requer concentração e boas audições, o grande desafio de tempos atuais em tempos de plataformas digitais.

Tal qual a força motriz da arte, o novo projeto de Phil Manzanera e Andy Mackay não é só bonito, mas também incomoda. Em certos momentos, nos perguntamos o que diabos a dupla está aprontando, para num milésimo de segundo seguinte mergulharmos em melodias riquíssimas, como em Mat 1. E essa ideia perdura por seus pouco mais de 40 minutos de duração.

Manzanera e Mackay não são sujeitos normais. Longe disso, talvez seja ironia, talvez só genialidade, mas tudo causa uma reação. Para quem encarou a música como arte durante toda a carreira, conferir ambos em plena forma em 2023 é ser parte da história, seja da música ou da arte, não importa. Em AM.PM, o conceito de art rock é explícito a cada segundo, mas não é só rock, é música, art music.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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