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Prefuse 73 e a trilha sonora do submundo

22 de março de 20244 min read

Produtor americano faz de seu novo álbum, uma trilha sonora para nossos dias e ela não é nada feliz. Amparado pela paixão pelo jazz e o submundo do crime, New Strategies for Modern Crime Vol. 1 soa como um filme Noir onde o fim nem sempre é o mais feliz.

Quando lançou seu primeiro projeto como Prefuse 73, alcunha de Guillermo Scott Herren, o mundo ainda estava bem impactado com o lançamento de Endtroducing…, disco de estreia de DJ Shadow. Álbum que abriu caminho para uma vertente e colocou o hip hop em uma nova prateleira, aqui ausente de vocais e rimas diretas, o disco se tornou uma trilha sonora repleta de colagens repleta de referências. Lançado em 1996, foi base de inspiração para diversos nomes na virada do século. Um deles o de Guillermo Herren, o Prefuse 73.

Nesse tipo de música espera-se tudo. Mais que a capacidade de realizar colagens com tamanha perfeição onde tudo se conecta, esse tipo de trabalho propõe uma imersão onde um gama enorme de referências torna sua audição caótica e angustiante por diversas vezes, como a trilha sonora de um drama. Até mesmo o silêncio se torna uma arma na mão desses produtores, contrastando com a necessidade de fazer com que tudo soe intenso o tempo todo.

Em New Strategies for Modern Crime Vol. 1, novo disco do Prefuse 73, o pano de fundo soa como um retrato de uma cidade cinza e violenta. Existe aí uma espécie de cenário de filmes do Demolidor, herói da Marvel, mas muito mais melancólica e amparada pelo jazz. Um cenário que talvez nem seja tão metafórico assim. Logo de cara, com Forever Chase (Scene One), desenha-se uma viagem pelo submundo, quase permitindo visualizar não só o cenário proposto, mas a banda executando sua trilha. Diferente de outros discos de Guillermo Herren, o jazz se faz mais presente, como uma versão obscura de Quincy Jones no comando das mesas de som.

Diferente dos cortes duros e bruscos de seus primeiros álbuns, em especial aquele que o projetou, One Word Extinguisher (2003), New Strategies for Modern Crime Vol. 1 explicita a técnica no mesmo patamar da tecnologia disposta atualmente. Tudo se encaixa com tamanha maestria que o processo de imersão se torna quase imediato. Clean Up Scene Aprrenttice é fácil uma das melhores músicas do disco, mas é quando o silêncio se faz presente, em The End of Air, que a mágica acontece. Assim como em um filme, nos permitimos no disco deixar com que ele nos guie por sua história. E isso nem sempre precisa ser linear.

Com referências de filmes cult, o álbum tem como pano de fundo a violência, mas não aquela violência que você vê acontecer, do ato em si, mas na sombra que isso pode criar na vida das pessoas. Mais que o ato executado nas esquinas, a penumbra que a assola é ainda pior. E faixas como Fare La Coma (Full Scene) são a trilha perfeita disso, tendo o jazz como fio condutor.

Fala-se que o grande efeito do terrorismo não é a bomba explodir, mas você viver com o medo que ela exploda. Em New Strategies for Modern Crime Vol. 1, por algum motivo você segue em frente. Segue até o fim, com Wrong Suspect. Talvez não tenha ninguém na próxima esquina.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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