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Robby Krieger e o fim do mito da simplicidade

18 de fevereiro de 20245 min read

Passadas quase 6 décadas desde Light My Fire, guitarrista do Doors lança novo álbum e segue mostrando seu poderio criativo. Em novo mergulho pela soul music, Robby Krieger desmistifica o mito da simplicidade de sua ex-banda em um disco rico em detalhes e que reafirmam sua condição como um dos maiores guitarristas em atividade.

Ao longo da história, existem mentiras que, repetidas tantas vezes, acabaram se tornando verdade. Uma delas é de que o The Doors fazia uma música simples, de poucas notas. Algo geralmente alimentado pela repetição utilizada em Light My Fire. Um erro. Ao longo de sua curta carreira, em torno de 5 fenomenais discos, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore pareciam constantemente ofuscados pela figura de Jim Morrison, o que acabou jogando no limbo da história o pavimento de uma banda que soube como poucas na época, mergulhar com uma técnica afiada no submundo do blues e da soul music.

Com o fim da banda (e dois discos póstumos), cada integrante seguiu seu rumo. Ainda tentaram algo com a Butts Band, não ignorou seus clássicos, mas passaram a explorar carreiras solo que poderiam ter sido muito mais apreciadas se vistas com o mesmo cuidado com que Jim Morrison foi visto. Robby Krieger, por exemplo, construiu um legado com uma porção de bons discos. Alguns ousados, como Cinematix (2000), quando chegou a fundir bases do Doors com hip-hop. Uma heresia na época, diziam.

Fato é que em seu último álbum, lançado ao lado do Soul Savages, o guitarrista do Doors exibe boa forma em seus 78 anos. Em um disco onde atua como protagonista, traz em 10 faixas instrumentais um mergulho pela soul music que o consagrou há muitas décadas. Não espera nada de Doors. Feito para um nicho distante do público roqueiro que mumifica seus artistas, o novo trabalho de Robby Krieger são garantia de uma boa trilha enquanto se atenta à sua capacidade de criar boas melodias.

Não faltam bons exemplos para se medir a capacidade técnica do ex-Doors. Contrary Motion, Never Say Never, A Day in L.A., o groove de Swing Skin Suit.  Ao lado de cobras em seus instrumentos, como o tecladista Ed Roth (ex-Impellitteri), o baixista Kevin “Brandino” (James Brown, Michael Jackson) e o batera Franklin Vanderbilt (Stevie Wonder, Chaka Khan), o protagonismo de Krieger só mostra como o sua ex-banda foi o primeiro passo de uma evolução constante. E quase ninguém deu bola para isso.

Ao longo das últimas décadas, nos acostumamos a esperar de trabalhos solo exatamente o que os artistas faziam em suas bandas. Exceção feita a nomes como Steve Morse, por exemplo, que já havia construído algo solo muito antes de trabalhar com o Deep Purple, dificilmente trabalhos de guitarristas como Ritchie Blackmore, Tony Iommi ou Brian May receberam a devida atenção por se aventurar em novas águas. Não criticados, mas ignorados. E assim fomos vendo o tempo passar.

Em tantos trabalhos instrumentais lançados onde a velocidade das notas serve de parâmetro para o julgamento da qualidade, Robby Krieger caminha na estrada ao lado. Tudo é sereno e nem mesmo o fim mais intenso com Math Problem esconde que é dentro dos pequenos detalhes que se esconde o grande trunfo de sua ótima carreira. Não esqueça o The Doors, mas esqueça a ideia de que um dia Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore foram coadjuvantes. Ainda dá tempo de colocar o guitarrista da banda inglesa no seu panteão de guitarristas, ele merece. Tanto pelo que faz na música como nas artes. Existe um grande horizonte para nomes tão emblemáticos a serem desbravados.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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