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Os 40 anos do maior trote (e sucesso) de Rod Stewart

7 de março de 20199 min read

Para alguns um dos muitos ícones da música pop, para outros um artista sinônimo de bom gosto ou então até um Bluesman de primeira. Quem mentaliza a imagem de Rod Stewart em 2019 tem muitas imagens e músicas passando pela cabeça, mas uma coisa não muda, todos em algum momento pensam em “Da Ya Think I’m Sexy?”.

Um dos maiores hits da carreira de Rod Stewart, a faixa supera seus 40 anos de história escondendo a ironia com que foi lançada e atingiu o topo das paradas de forma avassaladora em 1979, potencializando as vendas do álbum Blondes Have More Fun, disco que alcançou a assustadora marca de 10 milhões de cópias vendidas.

Depois de viver o epicentro do vulcão do rock inglês e ter transitado ao lado de bandas como Rolling Stones, Jeff Beck Group, com quem gravou dois discos, e Fletwood Mac, Rod Stewart – enfim – se lançava em uma carreira solo onde poderia decidir seus rumos e buscar referências que coubessem dentro de sua belíssima voz rouca.

Nesse caminho vieram o folk e a soul music, que vestiram-se com a voz de Rod Stewart de tal forma que o sucesso acabaria sendo um caminho natural. Ao lado de verdadeiros monstros da música como Steve Cropper (do qual podem ter certeza que falaremos aqui muito em breve), Rod conseguiu resultados espetaculares durante a década de 70.

Depois de emplacar hits absolutos como Maggie May, do álbum Every Picture Tells a Story (1971), o vocalista caminhava com segurança na cena rock/hard rock, sempre explorando o folk que tanto amava e o skiffle, um tipo de folk com elementos de jazz e blues, o que lhe rendeu o status suficiente para atravessar uma década toda sem grandes problemas. Seu maior sucesso na época foi Atlantic Crossing, que atingiu mais de 16 milhões de discos vendidos. E o posicionou como um dos músicos mais bem-sucedidos da época.

Com o fim dos anos 80 o rock também perdeu – muita – força entre os jovens. Os Beatles não existiam mais, os Stones viviam em guerra e a disco music ditava o ritmo nos clubs que um dia tocaram o rock inglês. Em 1978 o mundo vibrava com Saturday Night Fever, a obra definitiva de John Travolta, e grupos como o Bee Gees, que ditavam o ritmo da pista. Foi diante desse cenário que nasceu Da Ya Think I’m Sexy?.

Bastião da moralidade, era impensável para os fãs imaginar que Rod Stewart se rendesse às tendências da disco music, mas isso aconteceu, ainda que como uma paródia. Na época contando com a presença ilustre do baterista Carmine Appice em sua banda, o vocalista aproveitou uma das composições para zombar da decadência do rock e o hype sob a disco music, chocando fãs mais conservadores de sua carreira.

Trabalhando com Tom Dowd, um dos grandes papas da produção e responsável por pelo menos 30% das grandes gravações da história da música, Rod entrou em estúdio disposto a fazer um trabalho na mesma linha que o consagrou durante os anos 70, com exceção somente para Da Ya Think I’m Sexy?, um trote, na concepção da palavra.

Fato é que, usada como primeiro single na época do lançamento do disco (Paul McCartney e Rolling Stones já aderiam à tendência dançante da disco music), o single foi um sucesso estrondoso. Enquanto a maior parte dos fãs de Rod puxava os cabelos acusando o vocalista de trair suas raízes, o resto do mundo dançava a faixa que alçaria o disco a um dos maiores sucessos da indústria musical.

Foram 10 milhões de cópias vendidas, o domínio absoluto das paradas em diversos países e o único single do disco a atingir tamanha expressividade, já que somente ela acabaria destoando do trabalho realizado por Rod até então. Iniciava ali uma nova fase na sua carreira.

Quem ouve à coletânea Greatest Hits, Vol. 1, de 1979, só não estranha a presença de Da Ya Think I’m Sexy? por ter vivido naquele momento o maior período de audiência da faixa, que deu novos contornos à carreira de Rod Stewart. O visual, que já não era dos mais discretos, logo ganharia cores gritantes e teclados que embalariam as noites de toda uma geração.

Não foi um processo rápido, mas no meio da década de 80, com o lançamento de Body Wishes, era impossível separar Rod Stewart do mesmo nicho de artistas como Duran Duran, ao menos visualmente. Com o pop correndo nas veias, vieram incontáveis hits, mas sempre mantendo seu elevado nível de qualidade.

Um dos maiores clássicos da história da música contemporânea, Da Ya Think I’m Sexy? nasceu de uma brincadeira, brincadeira essa que custaria caro décadas depois, quando Jorge Ben acusaria o mítico artista britânico de plágio. E sobre isso basta apenas reproduzir o trecho da biografia de Rod – intitulada ROD e uma das mais divertidas para fãs de música – falando sobre o assunto:

“Certo. Tive que dar a mão à palmatória. Mas claro que não cheguei assim no estúdio e falei: ‘Vamos usar a melodia de Taj Mahal no refrão e azar. O compositor mora no Brasil, então nunca descobrirá’. Só que eu tinha ido pro carnaval do Rio, em 1978, com Elton John e Freddie Mercury. E lá duas coisas significativas me aconteceram. Me apaixonei por uma estrela de cinema brasileira lésbica, que não deixava me aproximar dela. Depois, ‘Taj Mahal’, de Ben Jor tocava o tempo e obviamente a melodia alojou-se na minha memória, e emergiu quando comecei fazer a música. Puro e simples plágio inconsciente. Abri mão dos royalties, me perguntando se ‘Da Ya Think I’m Sexy?’ era meio amaldiçoada”.

O processo se encerrou com Rod doando todos os lucros obtidos com a veiculação da faixa ao UNICEF em 1979, onde ainda se ofereceu para participar do Music for UNICEF Concert, no mesmo ano, gratuitamente.

Foi um trote. Um trote caríssimo no fim das contas, mas que só engrandeceu a carreira de Rod Stewart e ditou os rumos da música pop nos anos 80. Como tais tendências, a disco music sucumbiria ao início dos anos 90, diferente da carreira de Rod, que até hoje lhe rende posições invejáveis em line ups de festivais ao redor do mundo, mostrando que, se alguém perdeu com essa brincadeira, com certeza não foi o público de música ou muito menos a sua carreira.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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