Sambista respeitado na cena carioca, Rogê troca o Brasil pelos Estados Unidos, lança álbum onde mostra as conexões da música brasileira com a África e segue os passos do conterrâneo – e amigo – Seu Jorge, mostrando que o Samba não é só patrimônio nacional, mas da humanidade.
Qual foi a última vez que você ouviu um disco e correu para o Google para buscar as referências citadas nas faixas do álbum? Quem sabe em um disco de Bob Dylan ou Leonard Cohen, talvez até na incursão pela música country de Beyoncé, enfim, em algum ícone da música mundial, mas e aqui no Brasil?
Sempre menosprezada pelo próprio brasileiro, vivemos em tempos onde tanto critica-se a qualidade da nossa música que, em contraponto, vem apresentando lançamentos deveriam ser tão essenciais quanto um livro em uma biblioteca.
Y’Y e Sankofa de Amaro Freitas que o digam. Mas é no samba? Qual foi a última vez que um disco te abriu tantas portas? Quem sabe seja a vez de Rogê, que lançou nesse fim de 2024 o ótimo Curyman II.
Vamos por partes. Como o próprio título sugere, Curyman teve um primeiro volume. Lançado também em 2024, o disco foi produzido por Thomas Brenneck, da Budos Band, guitarrista e grande nome dos estúdios na atualidade. No seu catálogo, Charles Bradley, Lee Fields e CeeLo Green são alguns que já trabalharam com ele, além de Rogê, que graças a um conselho do parceiro Seu Jorge, trocou a Lapa por Los Angeles.
Curyman II, assim como seu primeiro volume, é o melhor que a música brasileira pode oferecer não só para si própria, mas para o mundo. Com letras que mais parecem contos, traz um repertório que apresenta as conexões do samba com a música africana, narrando episódios como a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador em 1835, e a Lenda do Abaeté, famosa na voz de Dorival Caymmi. São esses alguns exemplos de como a música brasileira vai se conectando além das rodas de samba, mas com a história.
Com um rico instrumental, que tem entre outros o baixista do BADBADNOTGOOD, Chester Hansen, Rogê faz mais que boa música: conta histórias. Longe de parecer pedante, o disco simplesmente desenrola pronto para um fim de tarde ao mesmo tempo em que chama atenção por suas composições. Letras essas feitas não só para o público daqui, mas para o mundo. Em sua incursão pelo território americano, Rogê segue os passos de grandes nomes como Sérgio Mendes e o próprio Seu Jorge, como um vetor de divulgação da música brasileira, tão maltratada por aqui.
Herdeiro dos clubes de esquina da Lapa, Rogê se lança no papel de vetor do Samba para o mundo, desafiando a ideia de que esse tipo de música é feita somente para ser trilha sonora de belos cenários. Admirado por grandes músicos como Arthur Verocai, com quem trabalhou no primeiro Curyman, só falta a Rogê ser descoberto por nós, brasileiros. Lá fora as coisas já estão andando.
Vale a pena pelo repertório, pela música e pela coragem. Em sua saga com o Curyman, todo mundo sai ganhando. Nós e o mundo.
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