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Satriani Colossal

1 de agosto de 20179 min read

O ano é 2017 e seu nome se tornou sinônimo de exímia técnica com a guitarra nos quatro cantos do mundo. Os uso contínuo de óculos escuros e o sorriso permanente escondem a idade, mas Joe Satriani completa 61 anos, marca simbólica que vem sendo comemorada em uma turnê baseada somente em seus maiores clássicos. E não sou poucos, afinal, são quinze trabalhos de estúdio, 4 registros ao vivo e uma coleção extensa de projetos.

Tudo isso poderá ser celebrado no próximo domingo em São Paulo, quando o guitarrista se apresentará de forma gratuita em mais uma edição do renomado Samsung Blues Festival, que no último ano trouxe Ritchie Sambora e sua esposa Orianthi como principais atrações.

Em plena atividade, esse incansável Satriani impressiona a cada ano ao esbanjar uma vitalidade fora do comum, talvez a grande culpada por esse retardo no reconhecimento tão merecido ao lado de nomes como Clapton e Jeff Beck. Aprendiz do guitarrista de jazz Billy Bauer, Satch (como é chamado por seus amigos) logo se tornaria “Professor Satriani”, quando mudou-se para a California e passou a lecionar guitarra no para nomes até então desconhecidos como Steve Vai e Kirk Hammet.

O respaldo de um grande instituto e o network levariam Satriani à gravação de seu primeiro trabalho solo, já na segunda metade da década de 80, Not of This Earth. O objetivo do disco era simples, apresentar um trabalho sem vocais agradável e acessível a todos e não só a seus alunos. Respaldado pela moral dada pela Relativity, gravadora que o descobriu após o lançamento de um EP em 1984, o guitarrista se tornou notável para o selo, que apostou de vez em seu trabalho.

O bom desempenho Not of This Earth lhe garantiu um novo álbum, Surfing with the Alien, disco que é considerado o divisor de águas em sua carreira. Lançado em 1987, praticamente inseriu no contexto mundial um novo conceito de projeto, que logo se tornaria um dos caminhos mais rentáveis para o rock nos anos seguintes.

Fora de uma banda, como era tradicional até então, Satriani conseguiu o improvável e viu seu trabalho ganhar fama em escala global à medida em que construía seus primeiros hits. Além da faixa-título, presente em todos os seus shows, Ice 9 e Satchs Boogie foram destaque mundialmente, superadas somente pela balada Always with Me, Always with You, que tempos depois serviria de trilha sonora para uma empresa de cigarros.

Além da música, um dos principais trunfos de Surfing with the Alien foi justamente a capa do álbum, que trazia referências do personagem da Marvel Surfista Prateado, desenhado por John Byrne, sendo amparado pela mão do vilão Galactus. Lançada em acordo com a Marvel, que passou a receber seus royalties pelo disco, a capa se tornou cult entre os fãs e definiu o papel cool de Satriani no mundo do rock, inclusive com seu lado produtor se fazendo notável ao trabalhar no lançamento do EP The Eyes of Horror , da banda de death metal Possessed, onde um de seus alunos, Larry Lalonde, tocava.

Na crista da onda, Satriani foi obrigado a lidar com a morte de seu pai, o que mexeu diretamente com as composições de Flying in a Blue Dream, disco que lhe rendeu o primeiro Grammy da carreira, em 1991. Mesmo conhecido mundialmente, o guitarrista se tornou colaborador de vários projetos, incluindo aí o backing vocal no álbum de estreia de uma até então desconhecida banda chamada Crowded House.

Reconhecido como um dos maiores guitarristas da época, Satriani teve no período em que lançou The Extremist, um de seus álbuns mais aclamados pelos hits Summer Song e a balada Cryin, a chance de fazer história ao lado de uma banda clássica, o Deep Purple. Parecia o casamento perfeito para ambas as partes, mas não durou mais que alguns poucos shows para encerrar a turnê da banda inglesa, mesmo sendo bastante celebrada pelos fãs e a crítica. Satriani reforçaria ali a condição definitiva de um artista solo.

Vale ressaltar que grandes nomes que passaram pelas mãos de Satriani na infância atingiram o sucesso na mesma época em que o guitarrista se consolidava como pioneiro em um segmento que parecia viver à margem do rock contemporâneo. Usando e abusando de escalas complexas, Satch viu nomes como Steve Vai (que já acompanhava Frank Zappa no início da carreira) e Kirk Hammet (no auge do Metallica) colocarem as seis cordas em um patamar ainda mais alto e teve a sacada de reunir seus pupilos e amigos em um projeto que mudou o status da guitarra na década de 90, o G3.

O plano era simples, Satriani e mais dois amigos, três faixas de cada um e uma jam com todos no palco. Ao lado de Steve Vai, talvez o artista com quem mais foi comparado na carreira e com que até teve uma certa rivalidade alimentada, e o melódico Eric Johnson, o primeiro lançamento do projeto G3 foi o pulo do gato para consolidar não só a carreira de seus membros, mas o segmento de mercado que mais evoluiu nos últimos anos. Lançado em CD e VHS/DVD, o primeiro G3 vendeu mais de 1.000.000 de cópias, alimentando o imaginário dos guitarristas de todo o planeta sobre quem deveria acompanhar Satriani nos anos seguintes.

Ironicamente o G3 seguinte só seria lançado quase dez anos depois. Nesse período, no topo da carreira, Satriani seguiu a tendência de guitarristas como Jeff Beck, um de seus maiores ídolos, e levou sua música para águas não navegadas. Com o boom da tecnologia da época, investiu nos efeitos eletrônicos, por onde lançou três álbuns até a virada do século.

Cruel para diversos músicos e até com o rock em geral, o novo século foi bastante generoso com Satriani. De volta ao estilo que o consagrou, retomou o lançamento de novos G3, onde excursionou pelo mundo com uma geração de artistas que beberam de sua ousadia uma década antes, caso de John Petrucci, guitarrista do Dream Theater, e de músicos clássicos como Steve Morse, para quem abriu passagem no Deep Purple anos antes. E ainda que as vendas não sejam mais como antes, é inegável o sucesso do projeto ao longo de pouco mais de vinte anos.

Engatando bons lançamentos como Professor Satchafunkilus and the Musterion of Rock (2008), Black Swans and Wormhole Wizards (2010) e Unstoppable Momentum (2013), Satriani colhe os louros de uma história que ainda lhe deu a chance de ter prestígio como banda, quando formou um dos maiores supergrupos do século XXI. Ao lado de Sammy Haggar, Chad Smith e Michael Anthony, o Black Country Communion atingiu fama mundial e lançou três álbuns, fazendo com que vez por outra seus integrantes cogitem uma reunião e a possibilidade de uma tour mundial.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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