Recheado de convidados e clássicos óbvios do blues, Orgy of the Damned, novo álbum do guitarrista do Guns N Roses, mostra que melhor que andar pra frente ou olhar bem para trás, ficar parado no mesmo lugar é o mais seguro, ao menos para ele.
Imagine um álbum onde o guitarrista de uma das mais populares bandas de rock do planeta reúne uma verdadeira constelação de artistas para uma verdadeira celebração do gênero com muito blues e sua indefectível assinatura nas seis cordas. Imaginou? Claro, não faltam exemplos para isso. Normalmente com cara de tributos – para músicos vivos ou mortos – o que não faltam são registros do tipo disponíveis ao público. Na verdade já existem até mesmo um festivais nesse formato, como no caso do Crossroads, de Eric Clapton, onde no fim tudo vira uma grande festa. É mais ou menos isso que Slash tenta fazer em Orgy of the Damned, seu – sexto – novo álbum de estúdio.
Não se trata exatamente de um disco ruim. Nem mesmo a ideia do disco chega a ser, mas é obviamente preguiçosa, já que seu repertório acaba agradando somente a quem grita aos quatro cantos que o rock não está morrendo e que é preciso exaltá-lo para que siga em evidência, fazendo desse tipo de projeto algo realmente necessário. Mas não é. O rock e o blues vão muito bem, obrigado.
Com convidados que vão de nomes clássicos, como Brian Johnson (que retomou a vida com o AC/DC e canta Killing Floor), Billy Gibbons (ZZ Top), na já batida Hoochie Coochie Man, e Chris Robinson (Black Crowes), em The Pusher, do Steppenwolf, o disco também apresenta nomes contemporâneos expressivos como Beth Hart (Stormy Monday), Gary Clark Jr (Crossroads) e o queridinho da música americana, Chris Stapleton (em Oh Well). Poderia empolgar, mas aqui tudo é feito de forma correta e pragmática.
Está ali a assinatura de todos os presentes e as razões que os tornaram referência para suas respectivas gerações, mas nada além disso. Não há dúvidas de que todos se divertiram nas gravações, óbvio, mas é o tipo de projeto superficial e esquecível. Ouvido uma única vez e você já tem o suficiente para comentar nas mesas de bar cada performance ou bradar que o “rock nunca vai morrer” (sic).
Claro, há bons momentos. The Pusher, do Steppenwolf, mostra um empolgado Chris Robinson, que segue esbanjando vitalidade, assim como Beth Hart no clássico de Freddie King, Stormy Monday. É também nesse momento em que Slash sai um pouco da zona de conforto e proporciona uma jam de respeito, como já fez tantas vezes ao lado de outros gênios como ele. Inclusive, não dá pra esquecer quando BB King tirou sua emblemática cartola para tocar.
Porém, ainda que seja nobre a atitude, evocar clássicos tão óbvios de blues como Albert King (Born a Bad Sign), Willie Dixon (Hoochie Coochie Man) e Howlin’ Wolf (Killing Floor), pouco acrescenta a uma discografia que já teve o blues como norte ao lado do Snakepit, com quem lançou bons álbuns. Uma boa comparação talvez seja o que Eric Clapton fez em Me and Mr Johnson, revisitando material de Robert Johnson. Não há dúvidas de que Slash tem capacidade pra isso, mas aqui o objetivo é outro.
Em Orgy of the Damned o ouvinte médio tem ao seu dispor o clássico para ovacionar e até, para quem nunca ouviu nada além do óbvio de blues, o novo para conhecer e até criticar. Nessa suruba musical, tudo é um pouco careta, mas não exatamente ruim.