Reconhecido por seu trabalho ao lado de Lou Reed e Alice Cooper, guitarrista lança “The Deacon Speaks”, onde após meio século resolve novamente fazer algo que não fazia… cantar.
Sabe aquele solo de Sweet Jane, que você aprendeu a gostar achando que Lou Reed quem fazia? Ou então aquele violão em Soulsbury Hill, de Peter Gabriel? Ou talvez até o disco mais famoso de Alice Cooper, Billion Dollar Babies? Tudo isso gira em torno de um único nome, Steve Hunter, guitarrista que chega aos seus 75 anos lançando um novo trabalho solo saindo da zona de conforto e fazendo algo que não é acostumado, cantar.
Dito isso, o título “The Deacon Speaks” está explicado. The Deacon é o apelido de Steve, que dessa vez resolve, além de tocar maravilhosamente bem, dar sua voz cavernosa a um blues elegante, em um misto de Leonard Cohen e Tom Waits, quase que declamando cada uma das faixas do álbum, composto por 5 covers e 5 faixas inéditas, sendo apenas duas instrumentais.
De Willie Dixon, com Back Door Man, e Lou Reed, em uma deliciosa versão de Sweet Jane, passando por Hendrix, Up From The Skies, Stones em Waiting On a Friend, e Bill Withers, com Who Is He And What Is He To You, cada versão de The Deacon não chega a ser soar autoral, mas familiar. Dotado de uma sensibilidade ímpar para criar boas melodias blueseras, o disco segue a tônica iniciada em The Manhattan Blues Project (2012), quando homenageou a cidade de Nova York através de diversas colaborações em belíssimas versões instrumentais.
Dessa vez, as versões de Steve Hunter permeiam faixas de sua autoria, em um blues comportado e bem executado. A primeira delas é Tiresome Blues, um blues intimista ao melhor estilo John Mayall em sua melhor forma. Em posse de um violão, o músico americano ainda trás The Ballad Of John Henry Gates e Annabel’s Blues, essa última uma das faixas instrumentais e também uma das mais belas do disco. Ironicamente, ela parece pedir pela voz do guitarrista, algo que nunca acontece e que a deixa ainda mais triste.
Desenvolto, Steve Hunter é o tipo de guitarrista que você deve parar o que estiver fazendo para prestar atenção, tanto no que foi feito como no que está fazendo atualmente. Responsável não só por compor e realizar solos que se imortalizaram na história da música, também foi capaz de aumentar o grau de perfeição de clássicos já existentes, como no caso de Sweet Jane, na versão ao vivo imortalizada por Lou Reed.
Seu novo álbum é também um alerta de que não o teremos por mais tanto tempo por aqui, mas mesmo com tamanha rodagem, se desafia a sair da zona de conforto e gravar um disco fazendo algo que há décadas não fazia, cantar. E se ainda houver algo que não tenha feito, tenha a certeza de que o guitarrista não pensará duas vezes e fará.