Em uma vertente tão fluída como a música eletrônica, praticar o reset na carreira para estabelecer uma identidade parece até loucura, afinal, tudo muda rápido demais no gênero. No caso de TERR, esquecer o passado e começar a desenhar o futuro deu muito certo, ao menos é o que seu debut, Consciousness As A State Of Matter, apresenta em suas 11 boas faixas. Ou como o próprio gênero popularizou, as novas tracks.
TERR é Daniella Cadellas, ex-integrante do duo mineiro Digitaria, om quem há mais de 15 anos surgiu em meio ao furacão que se tornaria a música eletrônica no Brasil. Em seu DNA, o electro em ebulição, uma veia roqueira (não é exagero, nessa época seu grupo se apresentava em festivais de rock) e a dura e dançante EBM. O Digitaria passou e TERR, que não vive no Brasil e fincou raízes na Alemanha, lançou seu disco de estreia com parte dessa bagagem, mas uma sonoridade muito peculiar, mais contemporânea, ainda que sem abandonar o legado que a fez se apaixonar pela música eletrônica muitos anos atrás.
Tale of Devotion, faixa que abre o disco, goza de uma dose de psicodelia e camadas que dão o tom a um álbum que, mesmo se enveredando por caminhos soturnos do electro, como em Energy Sinc, é feito para um mundo muito mais colorido. Morando em Berlim há anos, é natural que TERR reflita bem a sonoridade local, afinal, não se vive na matriz do techno sem absorver parte de sua cultura.
Nessa gangorra quase espiritual, Consciousness as a State Of Matter apresenta faixas que nasceram para embalar as pistas mundo afora em meio a verdadeiros mergulhos psicodélicos. Wings of Time e Layers que o digam, sendo responsáveis por alguns dos melhores momentos do disco, que carrega em parte de seu repertório ecos da miscelânea que grupos como o Ladytron proporciona em parte do repertório. Assim poderíamos definir a ótima Final Dance, já na reta final do disco. E com essa capacidade de cruzar influências, a produtora embala um disco sem maiores percalços.
Entre modulações, sejam elas das batidas ou dos vocais, Daniella transforma seu imaginário em algo real. Tão real que parece querer ganhar a luz do dia em faixas feitas para se dançar, talvez não mais em pequenos clubs com luz baixa, mas para eventos open air como a Love Parade, patrimônio cultural da cidade onde escolheu viver. Em seu álbum de “estreia”, TERR usa e abusa de suas influências, mas não soa datada. E isso na música eletrônica significa muito mais do que se imagina.