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The Dark Side of… Vince Clarke

18 de janeiro de 20245 min read

Responsável por algum dos hits mais dançantes da história da música, ex-Depeche Mode e atual Erasure, Vince Clarke mergulha na sonoridade etérea do ambient e do drone para fazer um disco que reflete de forma intensa um dos períodos mais sombrios da história moderna: a pandemia de Coronavírus

Imagine ser responsável na carreira por Just Can’t Get Enough, do Depeche Mode, e A Little Respect e I Love to Hate You, do Erasure. Pois é, essa é a vida de Vince Clarke, que ajudou a fundar ambas as bandas e ainda teve no currículo uma história com o Yazoo e The Assembly. Fenômeno da história do synth-pop, o músico e compositor inglês lançou recentemente Song of Silence, disco que é a autêntica antítese de sua história, mergulhando de forma intensa em uma nova sonoridade: o ambient e o drone.

Em seu novo trabalho solo, Sound of Silence, diferente de praticamente tudo o que já fez na vida, ao invés de fazer um trabalho para fora, Vince trabalhou com seus maiores medos durante a pandemia de Covid. Para isso, fez um disco onde tudo gira em torno de um único sequenciador modular, onde uma única nota dá o tom de cada música, sendo sobreposto por elementos que foram resultado da própria angústia do protagonista em sobreviver a períodos tão sombrios. Para isso, recorreu ao atmosférico ambient e o minimalismo angustiante do drone.  

De fato, o novo trabalho de Vince Clarke não é um disco para ser ouvido a qualquer hora. Talvez nem por ele mesmo. Cada faixa, embora possa ecoar algum resquício de seu revolucionário dom com o synthpop, em nenhum momento sobrepõe a ideia de ser um disco angustiante. Algumas faixas, como Passage e White Rabbit, por exemplo, não precisam de palavras pra simbolizar a dor da perda de amigos próximos. Fato que todos nós nos deparamos nesse período.

Inicialmente, Sound of Silence nem mesmo se tratava exatamente de um disco, mas passados dois anos da turbulência humanitária, a Mute Records acabou decidindo que tais faixas deveriam ser expostas ao público, tal qual um retrato da época em que foi produzido. Por isso, não estranhe a “falta de timing” do lançamento.

Esse mergulho ambient nos últimos anos, não só de Vince, mas de grandes nomes como Moby, por exemplo, além de dar a vários produtores a chance de estarem tão isolados na concepção de seus projetos, também vem sendo tratado como uma exposição artística muito mais crua e verdadeira. No caso de Moby, realizar o projeto Ambient 23 foi também um caminho para lidar com a ansiedade. Reflexo esse de trabalhos realizados desde os anos 80 por artista do calibre de Phillip Glass e Brian Eno.

Voltando ao etéreo Sound of Silence, somente uma faixa tem colaboração no disco, The Lamentations of Jeremiah, que contou com trechos do produtor e violinista Reed Hays. Nesse caso, com um cello que se sobrepõe ao pesado drone da música. Em pouco mais de quarenta minutos, Vince Clarke expõe seus fantasmas em cada música e por alguns minutos você até esquece de seu passado.

Talvez seja um disco para colocar uma pedra em um passado recente, talvez seja para que não nos esqueçamos de como esse período nos mudou. Diferente de tudo o que já fez, o integrante do Erasure consegue colocar seu ouvinte em outra prateleira, abrindo possibilidades e  mostrando que, caso um dia o apocalipse nos ronde de forma tão íntima como na pandemia, a trilha sonora já pode ser escolhida.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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