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Trombone Shorty e o espírito dos blocos afro no coração de Nova Orleans

3 de novembro de 20254 min read

No novo álbum, o trombonista americano sai dos clubs e leva sua música de volta ao lugar onde nasceu: a rua. Em Second Line Sunday, ele faz festa enquanto desfila entre memória, brass bands e uma alma que nunca se dobra ao silêncio.

Vamos direto ao ponto: você sabe o que é Second Line? Se não sabe, entender essa expressão tão comum em Nova Orleans é o que dá forma ao novo álbum de Trombone Shorty, um verdadeiro embaixador da música e da cultura da cidade americana.

Second Line é uma tradição que se iniciou em Nova Orleans durante funerais de jazz — a “first line” era formada pela família e pela banda; já a “second line” eram pessoas da comunidade que seguiam atrás, dançando, batendo palmas e celebrando a vida. Todo mundo podia participar: era gratuito, espontâneo e feito em ruas abertas. Uma verdadeira fusão de festa, memória, ancestralidade e resistência. Legal, né?

Dito isso, Second Line Sunday é exatamente o que você leu: um desfile aberto nas ruas, convocando todos a fazer o mesmo. Gravado ao lado da New Breed Brass Band, liderada por Jenard Andrews, sobrinho do protagonista, o disco foi pensado como um desfile, com introdução, ápice e término mais suave. Some a isso toda a carga emocional de ser dedicado à mãe de Trombone Shorty e, sim, temos exatamente uma Second Line em execução.

Atuando como uma espécie de embaixador da cultura de Nova Orleans, Trombone Shorty trouxe para seu álbum diversos espaços da cidade, fazendo com que cada faixa funcione como uma referência local. Daí surgem títulos como Way Downtown, Under the Bridge e 6th Ward. Talvez para nós não diga muito, mas dois minutos de Google e tudo faz sentido.

Com sua já tradicional fusão de funk, blues, hip-hop e R&B, o repertório não foge ao habitual do trombonista. A diferença é que tudo isso está alocado dentro da atmosfera das brass bands em um contexto bastante emocional. E depois de entender tudo isso, talvez fique tão claro quanto os Blocos Afro, o Carnaval e Nova Orleans podem se conectar.

Ao fundir tantos elementos em um caldeirão de ancestralidade, Second Line Sunday é o disco autêntico que convida o ouvinte a se situar na cultura de Nova Orleans com a mesma facilidade com que se vê o Ilê Aiyê passar (e todo mundo atrás). Ou, quando os desfiles das escolas de samba do RJ arrastavam multidões pelo centro (ou no famoso Arrastão da Sapucaí após a última escola). Em tudo isso, há um fio que conecta, repleto de ancestralidade.

Second Line Sunday é mais que um disco: é um convite. Ao fazermos a conexão entre todos esses pontos, fica muito mais legal ouvir não só o álbum, mas perceber o quanto ele representa para a cultura. Em seu novo trabalho, Trombone Shorty mira na cultura de Nova Orleans, mas seria capaz de arrastar multidões no domingo em Nova Orleans, na segunda-feira no RJ e na terça na Bahia — tudo com a mesma energia, a mesma luta.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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