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Uma banda de “Quase Irmãos”

6 de dezembro de 20166 min read

Parte vital para o desenvolvimento de uma banda, a figura do roadie se tornou emblemática ao longo da história pela lembrança de grandes artistas que entraram para o mundo da música a partir dessa experiência. Lemmy Kilmister foi roadie de Jimi Hendrix – embora não escondesse o fato de não se lembrar de quase nada da época – e Noel Gallagher do mítico Inspiral Carpets, só para citar alguns exemplos.

A rotina, as desavenças e o lado mais íntimo das bandas muita vezes acabaram se fazendo reveladas a partir das declarações de “funcionários” que em muitas vezes passam despercebidos pelo grande público, mas se tornam essenciais no transcorrer de uma boa apresentação. No caso da banda Almost Brothers, essa história soa tão irônica quanto o nome da banda, que nunca escondeu sua raiz ao lançar seu único disco, A Band of Roadies, em meados da década de 70.

Desde seu início, a longínqua e perigosa cidade de Macon, no estado da Geórgia, nunca foi segredo o tamanho da amizade que os integrantes da Allman Brothers Band tinha em sua primeira fase. Liderados pela dupla de irmãos formada por Duane e Gregg Allman, o grupo funcionava como uma verdadeira família e isso se estendia a toda sua equipe, fundamental em seu desenvolvimento.

Para se ter ideia, foi através de Twiggs Lyndon, seu primeiro empresário e tour manager, que a Allman Brothers Band chegou até o Fillmore East para se consolidar como um dos principais nomes da época e registrar um momento ímpar em sua história.

Além de Twiggs, a Allman Brothers tinha em seu time de turnê os roadies Joseph “Red Dog” Campbell, Buddy Thornton e Virginia Speed, além do operador de som Michael Artz e Dave “Trash” Cole, outro roadie que eventualmente se juntava ao grupo nas turnês pela Geórgia. Além de profissionais no auxílio à banda, um time de artistas que aproveitavam as horas vagas entre um show em outro para tocarem juntos com o equipamento da banda.

E com músicos competentes e apaixonados pelo som da Allman Brothers Band nasceu o… Almost Brothers, uma brincadeira com o nome da banda que sugere o título de “Quase Irmãos”. No título do álbum a deixa que enaltece a posição do grupo em relação à sua principal influência: A Band of Roadies.

Lançado na mesma época em que Brothers and Sisters, um dos maiores clássicos da Allman Brothers Band, redefinia a fusão entre os ritmos do sul dos Estados Unidos, obviamente o trabalho de seus roadies acabou passando em branco, mas agora, quatro décadas após seu lançamento, o disco está de volta às prateleiras.

O ouvinte menos atento consideraria A Band of Roadies um disco de lados B da Allman Brothers tamanha a solidez com que suas dez faixas são executadas em pouco mais de meia hora. Com três trabalhos instrumentais, Complicated Shoes, Rainbow Chase e Compactor, o disco apresenta um mergulho na obra dos irmãos Allman que ainda impressionar tantos anos depois.

Assumindo o papel de mentora do grupo, Virginia Speed assume os pianos tal qual Gregg Allman e reforça sua condição como verdadeira braço direito no trabalho do lendário tecladista/pianista americano. Além disso, existem referências claras ao trabalho de Gregg como em Modular Motion, faixa que bebe das clássicas Don’t Want You No More e It’s Not My Cross to Bear.

Com vocais guitarista Dave “Trash” Cole, o Almost Brothers ainda recrutou músicos de apoio para as gravações do disco, que aconteceram basicamente em um único fim de semana, enquanto a banda “principal” passava por suas primeiras transformações e a já dedicação de seus integrantes aos primeiros trabalhos solo.

Por anos as gravações de A Band of Roadies permaneceram perdidas e só agora passaram por um tratamento antes de serem novamente lançadas. Para os fãs da banda americana, que encerrou suas atividades recentemente, o Almost Brothers talvez seja o nome que mais absorve a influência de seus “patrões” e é uma audição extremamente bem recomendada em tempos atuais.

Obviamente o grupo acabou não indo para a frente e o registro de suas faixas se tornou apenas mais uma entre muitas da época, mas é impossível não pensar que o grupo poderia ter ido bem além de seu primeiro álbum. Uma daquelas histórias que o mundo da música revela gradualmente dia após dia. Coisa que só uma família poderia proporcionar. Eles viviam como irmãos, mas na verdade eram Quase Irmãos.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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