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Venom – A banda que abriu as portas do inferno

21 de fevereiro de 20177 min read

Não é novidade que o heavy metal sempre tenha causado uma certa repulsa no mundo da música por sua agressividade e polêmicas pelo qual seus nomes se envolvem ao longo da carreira.

São blasfêmias e comportamentos bizarros aliados a uma música veloz e muito, muito peso. E embora essa gama de elementos não tenha sido exclusividade dos ingleses do Venom no fim da década de 70, foi com eles que o gênero conhecido como Black Metal ganhou forma a inspirou toda uma geração de bandas que levaram esse conceito ao mais escatológico patamar nos anos seguintes.

Para entender quais caminhos levaram a isso, se faz necessário todo um olhar sobre como a estética da música se tornou mais veloz e agressiva após o fim da chamada “geração do amor” no fim da década de 60.

O surgimento do proto-punk, pilar fundamental do que viria a se tornar o punk durante a década de 70, é um deles. O rock progressivo, que surgiu com tudo na primeira metade do mesmo período, também entrava em um período de inércia e abria a porta para uma música mais pesada e cada vez mais veloz, não a toa o mesmo período em que o Black Sabbath surgia em cena.

Em ascensão com um peso acima da média e letras que chocavam tanto a crítica como o público, o Black Sabbath inspirou uma legião de bandas que viriam a embarcar nessa mesma viagem nos anos seguinte. O Venom, banda em questão, foi uma delas e surgiria muito tempo depois, já próximo do fim da década, quando o Reino Unido vivia o seu melhor momento dentro da onda que ficou conhecida como NWOBM, a New Wave of British Heavy Metal. Vale como citação que artistas como Iron Maiden, Saxon e Picture são algumas das boas referências para quem quer se ambientar a esse tipo de música.

Disposto a chocar, logo de cara o Venom já apresentaria uma estética muito mais provocativa, evocando temas como satanismo, anticristianismo e paganismo em suas letras, o que por si só distanciou sua música gradualmente do heavy metal mais tradicional. Na época formado por músicos que se apresentavam sob pseudônimos, tinha em seu line up o trio formado por Cronos, Mantas e Abbadon, nomes que remetiam diretamente deuses pagãos da Grécia Antiga.

Seu primeiro álbum, Welcome to Hell, lançado já em 1981, é descrito como um heavy metal rápido, cru e repleto de blasfêmias. Algo novo, mas que na época não foi traduzido como Black Metal justamente por ver o gênero ainda se tornar passível de rótulos. Somente pouco tempo depois vertentes como Trash Metal, Death Metal ganhariam uma estética que daria forma ao estilo. No caso do Black Metal isso aconteceu em 1982, quando o segundo disco do Venom chegou ao mercado.

Intitulado simplesmente como Black Metal, o disco teve sua capa idealizada pelo baixista e vocalista do grupo, Cronos, estampando um enorme símbolo anticristão. Dentro dele clássicos como Countess Bathory e Leave Me in Hell, algumas das mais emblemáticas do gênero, assim com a faixa-título do disco.

É preciso ressaltar que, obviamente, a sonoridade do segundo trabalho do Venom em pouco lembra a imagem do Black Metal que temos hoje. Menos extremo, o disco confundiu muito dos jornalistas da época pela relação obtida entre o som do grupo e a temática escolhida. Não a toa o próprio Motorhead sempre assumiu publicamente ser simplesmente uma banda de rock and roll.

Mas o fato é que Black Metal abriu as portas do lugar mais obscuro do heavy metal dali em diante, especialmente para toda uma geração de jovens escandinavos. É possível citar uma enormidade de bandas que levaram a um nível ainda mais profundo seu trabalho de pesquisa sobre os temas como satanismo, anticristianismo e paganismo.

Aqui mesmo no Passagem de Som foi possível conferir a história do amaldiçoado álbum De Mysteriis Dom Sathanas, do Mayhem. E histórias macabras e até escatológicas não faltam para ilustrar tudo isso, afinal, não é todo dia que uma banda celebra o suicídio de um de seus integrantes ou então se preocupa em decorar o palco com cabeças de animais mortos.

Mais de três décadas após seu lançamento, Black Metal tem sua representatividade comprovada por analistas de várias vertentes musicais. Citado no livro 1001 Albums You Must Hear Before You Die de Robert Dimery, e teve faixas presentes em trilhasse coletâneas importantes do heavy metal, justificando sua alcunha como um dos mais importantes trabalhos de todos os tempos para o gênero.

E na ativa até hoje, o Venom não assusta como antigamente, mas ainda atua como um verdadeiro porta-voz do Black Metal, que dentro de si próprio já sofreu várias subdivisões. Hoje mais suscetível à novas influências, abriu espaço para o folk, elementos sinfônicos e as mais diversas culturas. O que não mudou foi a direção de tudo isso, que nunca olhou para os céus para buscar inspiração.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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