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Vernon Reid e a força criativa do luto

27 de outubro de 20253 min read

Quase duas décadas separam Other True Self, último disco solo do guitarrista do Living Colour, de Hoodoo Telemetry. Lançado no último mês, o álbum nasce da interseção entre dois elementos complementares: o luto e o caos que habitam a mente de um dos mais criativos nomes da guitarra moderna. Em seu novo trabalho, Vernon Reid mergulha nesse turbilhão emocional para enfrentar a perda de um grande amigo.

Unânime em qualquer canto do planeta, o Living Colour sempre chamou a atenção por ser uma banda sem barreiras musicais — intensa e extremamente técnica. Dona de discos fundamentais na história do rock, também se tornou notável por ter à sua frente dois grandes músicos: o vocalista Corey Glover e o guitarrista Vernon Reid.

Alavancado ao grande público por Mick Jagger no final dos anos 1980, o Living Colour fazia parte do coletivo Black Rock Coalition, criado por Vernon Reid e outros músicos negros que queriam desafiar o estereótipo de que o rock era “música de branco”. À época em que foram descobertos pelo vocalista dos Stones, o grupo já era respeitado nos clubes do Lower East Side e do CBGB, e tinha ao seu lado uma figura importante na cena: Greg Tate. É dessa premissa que Hoodoo Telemetry nasce tantos anos depois.

Parceiro de longa data de Vernon, Greg Tate faleceu em 2021, deixando uma enorme lacuna na vida do guitarrista. Inquieto, Vernon resolveu transformar o luto em música. Para isso, ao invés de mergulhar na tristeza buscando superação, decidiu explorar o caos. E em seu novo álbum, apresenta um reflexo da herança intelectual e sonora que os dois construíram juntos — tudo isso livre de rótulos.

Do free jazz ao eletrônico, do drum’n’bass ao hip-hop experimental, Hoodoo Telemetry é um disco feito como a arte: para todos. E não apenas para guitarristas que esperam de Vernon solos na velocidade da luz — ainda que eles estejam lá, como em “Door of No Return”, que abre o álbum.

Mas não se engane: em meio a um caos que fascina tanto quanto incomoda, Vernon Reid mostra que, para a arte, não há limitação. “Freedom Jazz Dance” que o diga. Tema recorrente no disco, a morte se funde ao labirinto musical do guitarrista, rendendo momentos de rara sensibilidade, como em “Good Afternoon Everyone” e “Dying to Live” — esta última, talvez, a mais bonita do álbum.

São 14 faixas, mas parecem 20 — talvez até mais. Feito como um emaranhado de experimentos e coberto pelo sentimento de perda, o disco apresenta melodias de rara beleza em contraste com o caos. E, ao final, torna-se impossível não concluir que, após sua realização, Vernon Reid está finalmente em paz.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

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