Acompanhe nossas redes sociais

Now Reading: O violão moderno de Fabiano do Nascimento

Loading
svg
Open

O violão moderno de Fabiano do Nascimento

2 de junho de 20245 min read

Ao misturar vertentes como o Samba, o Choro e o Jazz com elementos eletrônicos, Fabiano do Nascimento eleva a um novo patamar a herança musical brasileira de Baden Powell e Tom Jobim. Virtuoso do violão, o músico carioca, radicado em Los Angeles e Japão, se torna uma referência moderna de seu instrumento com dois álbuns potentes e – ainda – despercebidos no próprio país.

Menos de uma década separam o disco de estreia de Fabiano do Nascimento de seu último single, Ohayou, lançado no último mês de abril. Nessa caminhada, uma discografia que reverencia grandes nomes das seis cordas, encontros com gênios como Artur Verocai e, principalmente, autenticidade para jogar tudo isso em uma nova atmosfera, moderna, e lançar álbuns que o posicionam mundo afora como um dos grandes violonistas de sua geração – longe do país onde nasceu.

Desconhecido do grande público no Brasil, Fabiano tem nos últimos meses lançamentos que definem bem a sua obra e servem de porta de entrada para quem é apaixonado pela música instrumental. Mundo Solo (2023) e The Room (2024), lançados com espaço de menos de seis meses, vão do jazz ao folclórico com a mesma facilidade com que absorvem novos elementos e soam modernos e dotados de enorme sensibilidade. Para um bom paralelo, é como quando Pat Metheny gravou ao lado de Naná Vasconcelos e encantou o mundo em álbuns como Turn Left (1982) e Group Travel (1983).

Com um pé na música clássica, Fabiano aperfeiçoou sua técnica em algumas das mais renomadas escolas do Brasil. A paixão por Tom Jobim e Villa-Lobos logo o daria destaque por interpretações de MPB, bossa nova e choro. Ao ir além das interpretações, o músico carioca conseguiu dar um ar de modernidade ao trabalho de seus ídolos e logo passou a tocar em países como Estados Unidos, França, Alemanha e Japão. Esse reconhecimento o levou a colaborar com colossos como o percussionista Airto Moreira e, posteriormente, com Hermeto Pascoal, no álbum Lendas, de 2023.

Com uma discografia que se cruza com grandes nomes da música brasileira, o trabalho de Fabiano fez com que sua discografia crescesse de forma substancial nos últimos anos. Com dois discos nos últimos meses, Mundo Solo surgiu no fim de 2023 como um ótimo cartão de visitas de seu potencial. Ao gravar tudo como se fosse um único take, o violonista convida o ouvinte para seu universo minimalista e sem fronteiras, levando a música brasileira, literalmente, por toda a sua extensão geográfica. Com um pouco de cuidado e atenção, Mundo Solo faz jus à forma como essa mesma música brasileira é heterogênea e convive perfeitamente em harmonia, até mesmo em um único estúdio – e uma única pessoa. Já em The Room, assinado ao lado do parceiro de longa data, o saxofonista americano Sam Gendel, o jazz serve de fio condutor para uma sonoridade já explorada pela dupla em Tempo dos Mestres (2017).

Em uma música onde o silêncio serve como instrumento, cada faixa evoca uma paisagem sonora e faz de sua execução uma autêntica experiência. Situando isso para uma realidade mais acessível ao apreciador de discos brasileiros, o trabalho mais recente de Fabiano é aquele registro que selos como a Biscoito Fino ou Selo SESC premiam seu público anualmente, apresentando obras onde nosso papel, quase de boca a boca, se torna essencial para mostrar algo novo e intrigante. Não é exagero, a cada audição, sentimos mais orgulho da música brasileira ao passo de que assumimos desconhecê-la ainda de seu enorme potencial. E em um trabalho de renovação, respeito e ousadia, artistas como Fabiano do Nascimento são essenciais para mostrar que o melhor ainda está por vir.

Anderson Oliveira

Diretor de Arte há duas décadas, fã de Grateful Dead e Jeff Beck, futuro trompetista e em constante aprendizado. Bem-vindos ao meu mundo, o Mundo de Andy.

Loading
svg