Lançado em 2005, o último álbum da banda com o baixista Peter Hook exemplifica claramente como a consolidação da EDM influenciou o New Order, que, ao tentar seguir a tendência, afastou-se de vez de suas raízes no rock.
Não há segredos sobre isso: poucos nomes na história da música foram tão influentes quanto o New Order. Seja como referência para bandas de rock ou nas pistas de dança, é impossível mensurar o tamanho do grupo que imortalizou tantos clássicos nos anos 80.
Mesmo sendo um pilar da história de clubs ingleses como o Hacienda, onde a Factory Records deu ao mundo nomes como Happy Mondays e James, o New Order sempre foi essencialmente conhecido como uma banda de rock. Esse equilíbrio com elementos eletrônicos foi fundamental, ao menos até o início dos anos 90, quando lançou o irregular Republic (1993), estampando a monumental Regret no hall das melhores faixas de sua história.
Em paralelo a isso, o mundo vivia o auge da House Music, da Acid Rave, do Breakbeat e outras vertentes. Nada que pudesse afetar diretamente a banda, mas toda essa convergência musical que levou ao auge de popularidade a música eletrônica sempre assombrou o New Order. E o capítulo decisivo disso aconteceria em 2005, quando lançou Waiting for the Sirens’ Call, o último álbum com Peter Hook no grupo.
Naquela época, o New Order não vivia seus melhores dias. Depois da volta com Get Ready, quase uma década depois de seu último disco de inéditas e com coletâneas lançadas nesse período, parecia um recomeço. Agora sem Gillian Gilbert, que havia deixado o grupo para cuidar dos filhos, o grupo inglês teve bons momentos sem a tecladista, mas o rock havia abraçado as pistas de dança e logo o clima azedaria na banda.
Efetivamente, nunca poderemos dizer que a ascensão da EDM na segunda metade da década tenha sido responsável direta pela implosão do New Order, mas de fato, a vontade de Bernard em abraçar as tendências o colocaram em rota de colisão com Peter Hook, o que acabou resultando no fraco Waiting for the Sirens’ Call, provavelmente um dos discos mais esquecíveis da carreira do grupo.
Na época em que foi lançado, os grandes nomes da vez eram DJs, todos fãs do próprio New Order, obviamente. David Guetta, Swedish House Mafia, Calvin Harris e Deadmau5 levavam multidões para festivais e acompanhar esse bonde colocou o New Order em um limbo onde precisava escolher um lado. E Peter Hook escolheu o seu.
Quando saiu da banda, em 2007, logo após a turnê de Waiting for the Sirens’ Call, o tiroteio entre o baixista e o vocalista denunciou bem o tamanho do buraco em que a situação se encontrava. E isso ficou mais latente nos anos seguintes. Um episódio marcante para o público brasileiro foi quando New Order e Swedish House Mafia se apresentaram na mesma edição do Ultra Music Festival, em 2011, em São Paulo. Na ocasião, ao se apresentar mais cedo, o público majoritário dos ingleses deixou o evento antes da EDM tomar conta. Uma cena marcante para quem passou a noite no festival já esvaziado.
O retorno de Gillian Gilbert deu novo fôlego ao grupo, mas de fato nunca mais o New Order foi a mesma banda, em paralelo ao fato de que Peter Hook estabeleceu-se com seu projeto pessoal.
Pouco lembrado na lista de favoritos dos fãs, Waiting for the Sirens’ Call é um disco que possui bons momentos, como sua faixa-título, mas que pouco acrescenta. Suas sessões de gravação ainda renderam um novo álbum, Lost Sirens, em (2011), outro disco que marca o quanto o New Order se perdeu nessa segunda fase da carreira. E seu primeiro disco de inéditas após a saída de Peter, Music Complete (2015), tem só um objetivo: fazer dançar.
Existem movimentos no mundo da música que acabaram sufocando inúmeros artistas, restando apenas abraçar a nostalgia ao invés de tentar se posicionar nesse novo momento. E na tão mutável música eletrônica, isso acabaria se tornando ainda pior, afinal, dificilmente algum DJ terá a longevidade do New Order.
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